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Em guerra por recursos, PSL de SP é entrave para volta de Bolsonaro ao partido

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Ao avaliar um retorno à sigla, o presidente leva em conta a necessidade de ter São Paulo como trincheira política para a reeleição  |   Bnews - Divulgação Divulgação

Publicado em 12/11/2020, às 14h49   José Marques e Carolina Linhares/Folhapress


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Sob o discurso de se posicionar como a "direita raiz" no cenário político nacional, o diretório do PSL em São Paulo virou um entrave às intenções do partido de voltar a abrigar o presidente Jair Bolsonaro para a disputa das eleições de 2022.

Ao avaliar um retorno à sigla, o presidente leva em conta a necessidade de ter São Paulo como trincheira política para a reeleição.

No entanto as tratativas têm incomodado o grupo que comanda atualmente o partido no maior colégio eleitoral do país. A rixa se intensificou durante as eleições municipais também em outros estados, com diretórios mais ou menos próximos de Bolsonaro brigando pelos recursos do partido.

A reaproximação de Bolsonaro com o PSL é comandada por Antônio de Rueda, vice-presidente nacional da sigla e braço direito do presidente nacional da legenda, deputado federal Luciano Bivar (PE), desde antes das eleições de 2018, quando o partido ainda era nanico.

Com a eleição de Bolsonaro em 2018, o PSL virou o segundo maior partido do Brasil, atrás apenas do PT em número de deputados federais, com uma fatia de aproximadamente R$ 200 milhões do fundo partidário em 2020.

Além de São Paulo, o movimento de Rueda para trazer Bolsonaro de volta esbarra também em outros estados, como Bahia e Rio Grande do Sul.

Nos bastidores, a ala paulista do PSL vê a divisão do fundo eleitoral entre os diretórios estaduais como desigual e prejudicial, uma tentativa de asfixiar os grupos políticos que se opõem ao presidente.

São Paulo foi o epicentro da guerra entre o PSL que se diz "direita raiz" e os bolsonaristas mais ideológicos.

Um dos filhos do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), foi destituído do comando do PSL paulista em dezembro do ano passado em meio a uma série de punições a deputados bolsonaristas, que passaram a trabalhar pela criação do partido Aliança pelo Brasil.

A tropa de choque bolsonarista no estado, os deputados estaduais Gil Diniz (sem partido) e Douglas Garcia (PTB), foi expulsa do partido.

Do outro lado da disputa estão os líderes do partido em São Paulo que romperam com Bolsonaro, como a deputada federal mais votada pela sigla, a atual candidata a prefeita Joice Hasselmann, e o senador Major Olímpio, assim como o presidente estadual do PSL, deputado federal Júnior Bozzella.

Bozzella tem dito que a candidatura de Joice, que não decolou e marcou apenas 3% na última pesquisa Datafolha, é de "reposicionamento nacional" de "uma direita racional".

"Lógico que ser prefeita da maior capital do país é algo importante para o projeto político, mas fundamentalmente, para o nosso PSL, o que nos importa nesse momento é resgatar os valores da direita que foram perdidos", disse, em um evento de campanha em outubro.

"O presidente da República desvirtuou esse processo e se aproximou muito do centrão", completou.

Joice faz coro. "Se confundiu muito essa coisa de PSL e bolsonarismo. O PSL é uma direita racional, uma direita que respeita as liberdades, uma direita que não quer explodir o Supremo [Tribunal Federal], não quer fechar o Congresso, uma direita que quer um estado menor", disse ela.

A deputada, que fez carreira sob a bandeira do combate à corrupção, se define como lavajatista e próxima ao ex-ministro Sergio Moro, que articula fazer oposição a Bolsonaro em 2022.

A direção nacional do PSL não nega, em reservado, o movimento de se reaproximar de Bolsonaro.

Na avaliação da legenda, o posicionamento de embate do PSL paulista é uma reação à possibilidade de perderem espaço no comando da sigla no estado, cujas chances aumentaram devido ao desempenho eleitoral de Joice.

Além disso, as portas abertas para a volta de Bolsonaro são uma tentativa do partido de se antecipar a uma competição entre legendas do centrão que tentam abrigá-lo, como o PP, e apostar novamente em sua força política nas eleições.

O presidente ainda não tem a garantia de que conseguirá aprovar a criação da Aliança pelo Brasil até a próxima disputa presidencial.

No entanto os candidatos apoiados por Bolsonaro às prefeituras de capitais em todo o país também não vão bem nas pesquisas. É o caso de Celso Russomanno (Republicanos) em São Paulo, Marcelo Crivella (Republicanos) no Rio e Bruno Engler (PRTB) em Belo Horizonte.

Esse argumento tem sido levantado pela direção paulista para emplacar a tese de que Bolsonaro não é essencial para o partido.

Outro ponto sustentado por aliados de Bozzella é o fato de que ele lançou quase 300 candidaturas majoritárias no estado e cerca de cinco mil candidatos a vereador, após uma organização do diretório paulista que só foi possível após a saída de Eduardo.

Pela quantidade de candidaturas, o diretório estadual de São Paulo esperava fatias mais robustas do fundo eleitoral, mas, seguindo a divisão que leva em conta a votação de 2018, ficou com a promessa de R$ 25 milhões, que ainda não foram integralmente pagos.

Na visão de membros do PSL paulista, estados menos importantes e com menos candidaturas receberam proporcionalmente mais recursos e foram supervalorizados. Nos bastidores, os conflitos são atribuídos a interferências de Rueda e ao fato de que o partido ainda está aprendendo a lidar com seu novo tamanho e seu caixa eleitoral turbinado.

Procurado, Rueda não se manifestou.

Questionado pela reportagem sobre a divisão, porém, Bozzella minimizou os problemas. "Talvez pudesse ter um pouco a mais. Independentemente de muito ou pouco, temos que trabalhar com o que está definido. Estou rodando o estado todo, já fui em 150 cidades. Você compensa com a presença, a política não é só dinheiro."

A divisão de verbas no PSL já causou conflitos e ameaças de renúncias entre candidatos a vereadores das capitais dos dois maiores estados, São Paulo e Belo Horizonte -na capital mineira, causou revolta o repasse de R$ 690 mil para Janaína Cardoso, ex-mulher do ministro Marcelo Álvaro Antônio (Turismo).

Em Maceió, o partido enviou R$ 1,7 milhão para a campanha de Davi Davino Filho (PP), candidato apoiado pelo líder do centrão Arthur Lira (PP-AL).

Questionada sobre os conflitos de divisão de verbas, Joice diz que há "um certo amadorismo de espaços específicos no PSL".

A candidata diz que o estado de São Paulo terá uma das menores relação per capita de verba e candidatos no país. "São Paulo paga por ser o estado mais organizado. São Paulo levantou em três meses um gigante, porque pegamos o partido destruído da mão de Eduardo Bolsonaro, que só fez lambança", reclama.

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