Política

Ré pelo assassinato do marido, Flordelis segue no mandato de deputada e faz festa de aniversário em sua igreja

Câmara dos Deputados
No plano terreno, ela procura alinhavar alianças políticas para se salvar na Câmara e, ao mesmo tempo, se mexe para evitar a derrocada de sua igreja  |   Bnews - Divulgação Câmara dos Deputados

Publicado em 12/02/2021, às 08h14   Redação BNews



A deputada federal e pastora Flordelis dos Santos (PSD-RJ) comemorou seu aniversário de 60 anos no palco de sua igreja em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio de Janeiro, como se não houvesse um inquérito contra ela. Flordelis é apontada como mandante da morte do marido, Anderson do Carmo, em junho de 2019. Protagonista de uma história tanto tétrica quanto mirabolante, a parlamentar do PSD se tornou ré na Justiça em agosto passado, mas segue firme na vidinha de parlamentar, religiosa e cantora, com fé na expectativa de que a providência divina vai livrá-la dessa. “Eu perdi meu marido de forma trágica. E entreguei tudo na mão de Deus. O meu oculto e escondido pertencem a ele. E tudo vai vir à tona na hora dele”, profetizou do púlpito, na sua festa, segundo apurou à Revista Veja.

No plano terreno, ela procura alinhavar alianças políticas para se salvar na Câmara e, ao mesmo tempo, se mexe para evitar a derrocada de sua igreja: a comemoração, no único dos seis templos do Ministério Cidade do Fogo ainda em funcionamento, começou com uns trinta gatos-pingados e só acabou com cerca de 150 (no espaço cabem 1 000) porque um pastor amigo alugou um ônibus e convocou seus paroquianos para a festa. Nem a prometida “Santa Ceia”, composta de estrogonofe de frango e bolo de sobremesa, atraiu os fiéis. Aglomeração, pelo menos, não houve.

Dois meses depois de ser indiciada, a deputada Flordelis teve um pedido de afastamento da função encaminhado ao Conselho de Ética da Câmara. Por causa da pandemia, o órgão não estava funcionando, e assim permaneceu o ano todo. Agora, nem existe: com a mudança da mesa diretora, novos integrantes têm de ser indicados, o que só deve acontecer no fim do mês. Enquanto isso, embrulhada na sacrossanta imunidade parlamentar, Flordelis segue desfrutando imóvel funcional, salário de 33 700 reais, dois carros, passagens aéreas e consultoria de mídias sociais, utilíssima na preservação de sua arranhada imagem.

Também faz questão de cultivar boas relações com o poder, tecendo elogios nas redes sociais, entre outros, ao presidente Jair Bolsonaro e ao deputado Arthur Lira. Ao lado deste, apareceu em uma foto comemorando a vitória de seu nome para a presidência da Câmara. “Vencemos. Agora a Câmara terá voz”, proclama a postagem. Em julho, quando Michelle Bolsonaro foi diagnosticada com Covid-19, manifestou sua solidariedade à primeira-dama, também evangélica, exibindo foto das duas juntas. Com o mesmo Lira e mais dezenas de congressistas, visitou a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e o Palácio Guanabara, onde se encontrou com o governador em exercício, Cláudio Castro. Flordelis espera que a proximidade com figuras importantes impeça que a Câmara a afaste — e o histórico da Casa, reticente a punir integrantes, conta a seu favor. Mas sua presença em atos públicos é classificada como “constrangedora” por parlamentares ouvidos por VEJA. “Lira é uma raposa felpuda da política, não vai se queimar por causa dela”, afirmou um ex-­aliado da deputada.

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