Política
Publicado em 29/03/2021, às 11h26 Folhapress
Após incitar um motim e chamar de herói um soldado da Polícia Militar da Bahia que fez disparos em ponto turístico de Salvador, a deputada Bia Kicis (PSL-DF), presidente da principal comissão da Câmara, apagou o post e defendeu que o episódio seja investigado.
Na madrugada desta segunda (29), Bia Kicis usou suas redes sociais para se manifestar sobre o soldado da PM que morreu após ser atingido por colegas policiais.
Bia Kicis é investigada no inquérito das fake news e no que apura atos antidemocráticos. Assim como Bolsonaro, é crítica do isolamento social para evitar a propagação do novo coronavírus.
O soldado Wesley Soares foi baleado no início da noite de domingo (28) após ter passado cerca de quatro horas dando tiros para o alto e gritando palavras de ordem no Farol da Barra, um dos principais pontos turísticos de Salvador.
Ele foi atingido por tiros por volta das 18h30, após ter erguido um fuzil e disparado contra os colegas da PM que negociavam a sua rendição. O soldado chegou a ser socorrido por uma ambulância e levado para o Hospital Geral do Estado, mas não resistiu aos ferimentos morreu na noite deste domingo.
Bia Kicis, inicialmente, usou suas redes sociais para defender o soldado.
“Soldado da PM da Bahia abatido por seus companheiros. Morreu porque se recusou a prender trabalhadores. Disse não às ordens ilegais do governador Rui Costa da Bahia”, escreveu. “Esse soldado é um herói. Agora a PM da Bahia arou. Chega de cumprir ordem ilegal!”
Na manhã desta segunda, a deputada voltou às redes sociais para apagar o post e justificar a decisão. Bia Kicis afirmou ter sido informada na madrugada que o PM morto durante o surto havia atirado para o alto e foi baleado por colegas.
“As redes se comoveram e eu também. Hoje cedo removi o post para aguardarmos as investigações. Inclusive diante do reconhecimento da fundamental hierarquia militar”, afirmou.
O comandante da Polícia Militar da Bahia, coronel Paulo Coutinho, afirmou nesta segunda-feira (29) que a PM só atirou contra o soldado que protestou no Farol da Barra após ter sido alvo de disparos de fuzil.
O comandante da PM afirmou que as esquipes que conduziram a negociação seguiram os protocolos internacionais de gerenciamento de crises, mas acabaram reagindo após terem sido atacados com tiros de fuzil, arma de alta letalidade.
“Não obstante todos os recursos que nós utilizamos de isolamento e contenção, ele direcionou essa arma para a tropa e efetuou disparos que poderiam ter atingido mortalmente não só policiais militares, mas também da comunidade”, afirmou o coronel Paulo Coutinho em entrevista à imprensa.
Filho 03 do presidente Jair Bolsonaro, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) também defendeu o PM morto pelos agentes do Bope.
“Aos vocacionados em combater o crime, prender trabalhador é a maior punição. Esse sistema ditatorial vai mudar”, disse. “Protestos pipocam pelo mundo e a imprensa já não consegue abafar. Estão brincando de democracia achando que o povo é otário. Que Deus conforte os familiares do PM-BA.”
A reação inicial da deputada gerou fortes críticas de colegas parlamentares. O senador Angelo Coronel (PSD-BA) afirmou ser um “absurdo uma parlamentar querer politizar um fato dessa natureza”.
Ele disse ainda que a presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça da Câmara) faltava com a verdade ao dizer que a PM parou. “Precisamos nos unir em busca de salvar vidas imunizando o povo brasileiro com mais celeridade. O momento não comporta factoides em busca de clicks”, escreveu.
Líder da minoria na Câmara, o deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ) criticou a parlamentar.
“A extremista Bia Kicis, presidente da CCJ, que já discursou a favor da intervenção militar dentro do parlamento, agora estimula um motim da PM na Bahia. Mais uma vez utiliza o cargo para pregar a violência contra o Estado de Direito e a Democracia. É um crime contra a Constituição”, escreveu em uma rede social.
Para Freixo, Kicis e demais deputados bolsonaristas “querem alimentar o caos” usando a PM para provocar guerra com governadores e “justificar o golpe”. “O Congresso Nacional precisa reagir imediatamente."
O soldado Wesley Soares era lotado no batalhão de polícia de Itacaré, cidade do sul da Bahia a 250 km de Salvador. Ele estava de serviço neste domingo, mas deixou o batalhão armado e, dirigindo o próprio carro, seguiu até Salvador.
“Era um policial militar que não apresentava problemas, não deu sinais em qualquer momento de surto”, afirmou o coronel Paulo Coutinho. Formado em 2008, o soldado tinha 13 anos de atuação na PM.
Ele ainda se solidarizou com a família do soldado, com a tropa da PM e lamentou o desfecho do caso com a morte do policial: “Essa ocorrência teve um término que nós não gostaríamos”.
Um inquérito policial militar foi instalado para apurar as circunstâncias da morte do soldado.
Policiais ligados à Aspra, associação que representa soldados e praças, convocou um protesto para o Farol da Barra na manhã desta segunda. Líder da associação, o deputado estadual Soldado prisco (PSC), que já liderou greves da PM na Bahia em 2012 e 2014, conclamou os policiais a aderirem a um novo motim.
O comandante da PM descartou uma possível paralisação dos policiais: “Não há possibilidade de greve. Prestamos um serviço extremamente essencial para a comunidade”, afirmou.
O coronel Paulo Coutinho ainda disse lamentar outro episódio que aconteceu na noite deste domingo: policiais avançaram contra jornalistas que atuavam na cobertura do caso próximos ao Farol da Barra e chegaram a dar tiros para o alto para afastar a imprensa.
O soldado Wesley Soares chegou à região do farol da Barra por volta das 14h30 e rompeu as barreiras que isolavam a região, um dos principais pontos turísticos de Salvador. Deu mais de uma dezena de tiros para o alto e gritou palavras de ordem, provocando pânico entre moradores da região.
O policial estava fardado, armado com um fuzil e uma pistola e estava com com o rosto pintado de verde e amarelo.
Em vídeos publicados por testemunhas nas redes sociais, o policial gritou palavras de protesto, falando em desonra e violação da dignidade dos policiais.
“Comunidade, venham testemunhar a honra ou a desonra do policial militar do estado da Bahia”, gritou o policial militar em um dos vídeos, logo após ter dado um tiro para o alto com uma pistola.
Em outro momento, ele grita: “Não vou deixar, não vou permitir que violem a dignidade e honra do trabalhador”. A região do Farol da Barra foi isolada.
Em nota, o Governo da Bahia confirmou que se trata de um policial em situação de “surto psicológico”.
Ainda segundo o governo baiano, o soldado "alternava momentos de lucidez com acessos de raiva, acompanhados de disparos". E chegou a iniciar uma contagem regressiva antes de começar a atirar contra os colegas.
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