Política

As cinco vezes que ACM Neto tentou evitar nacionalizar eleição na Bahia

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Publicado em 15/10/2021, às 06h25   João Brandão


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Embora mantenha a liderança nas intenções de voto para a eleição para o governo da Bahia em 2022, o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (DEM) pode encontrar um cenário mais apertado com a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na campanha de seu adversário, Jaques Wagner (PT), no ano que vem. As pesquisas apontam uma polarização do petista com Bolsonaro, o que também afasta Neto de um posicionamento mais contundente, visto que hoje o pré-candidato bolsonarista ao Palácio de Ondina é o ministro da Cidadania, João Roma.

Neto tem adotado algumas estratégias que evita o embate direto com presidenciáveis. Pesquisas, inclusive, apontam para a guinada de Wagner com a presença do ex-presidente. Conforme levantamento do instituto Paraná Pesquisas divulgado no dia 11 de agosto, em dois cenários apresentados aos entrevistados, ACM Neto lidera com folga, com mais que o dobro das intenções de voto de seu principal concorrente. Embora tenha sido reeleito e feito seu sucessor, Rui Costa, Wagner amplia suas chances e encosta no candidato do DEM quando seu nome é associado ao de Lula.

No primeiro cenário, ACM Neto tem 50% das intenções de voto contra 24,1% de Wagner. Bem atrás deles estão a médica Raíssa Soares (3,7%), o ministro João Roma (3%), Marcos Mendes (1,3%) e Alexandre Aleluia (1%) – nenhum/branco/nulo somam 11,7% e não sabe/não respondeu, 5,2%. Entretanto, a disputa fica mais apertada quando o instituto apresenta o apoio dos presidenciáveis aos candidatos ao governo: ACM Neto “com apoio de Ciro Gomes” soma 37,9% enquanto Jaques Wagner, "com o apoio de Lula” encosta e chega a 35%. João Roma “com o apoio de Bolsanaro” alcança os dois dígitos e tem 13,7% das intenções de voto – nenhum/branco/nulo são 8,8% neste cenário e não sabe/não respondeu, 5,9%.

Confira abaixo algumas estratégias do democrata:

1) Declarações anti-nacionalização
No dia 7 de maio, com especulações de que o presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido) pode lançar o ministro da Cidadania e ex-aliado de Neto, João Roma (Republicanos), como candidato e o apoio consolidado de Lula à candidatura do ex-governador Jaques Wagner (PT), Neto afirmou em entrevista à rádio A Tarde FM que a eleições para o Planalto não irão definir o pleito estadual e que não se pode descartar o surgimento de uma terceira via em meio a polarização entre Lula e Bolsonaro. 

"Não é um candidato a presidente da República que vai definir a eleição na Bahia. Os baianos já passaram dessa fase. Eu não sei como irei chegar ano que vem em relação a um possível apoio presidencial, acho que está muito cedo, o cenário ainda não está claro, não sabemos efetivamente quem serão os candidatos com apenas os nomes do ex-presidente Lula (PT) e do presidente Bolsonaro (Sem Partido) postos e naturalmente qualquer pesquisa vai apontar os dois com altas intenções de voto. Então muita coisa ainda pode acontecer no cenário nacional e não podemos subestimar a possibilidade de aparecer uma 3a via. Alguém com um discurso diferente e que saia dessa popularização", afirmou.

2) Eleição de 2012
Outra estratégia usada por Neto para evitar a nacionalização da eleição é relembrar a campanha de 2012, quando foi eleito pela primeira vez prefeito de Salvador. Na época, com Dilma Rousseff (PT) como presidente, o então principal rival do democrata, Nelson Pelegrino (PT), forçou na campanha a presença da petista para tentar bater o adversário. 

Para Neto, as eleições podem ser usadas como exemplo para rebater a noção de que para se eleger a nível municipal ou estadual, é preciso ter um apoio nacional forte.

"A minha eleição em Salvador desmistificou muita coisa, derrubou muitos conceitos que existiam. Em 2012, eu no DEM enfrentei um candidato a prefeito do PT, que tinha apoio do governador do estado, que era do PT, e da presidente da República, também do PT. E tinha aquela conversa de que o prefeito tem que ser do mesmo partido porque a cidade tá quebrada. Ganhei aquela eleição, governei oito anos na cidade" , afirmou, à época.

3) Saída da presidência de partido
Com a fusão do DEM e o PSL, Neto deixará a presidência nacional do Democratas para ser secretário-geral do União Brasil. A função de dirigente partidário nacional o colocaria em ponta de lança em discussões sobre personagens nacionais.

4) Discurso de terceira via nacional Correndo da polarização entre Lula e Bolsonaro, Neto tem dito que o novo partido trabalhará muito para evitar um segundo turno entre o ex-presidente e o atual chefe da Nação nas eleições de 2022. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, Neto afirmou o nascimento da sigla tem o objetivo de “dar uma mexida, uma sacudida nesse campo". O ex-prefeito também enxerga com bons olhos a possibilidade de Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, se viabilizar na disputa.

5) Evitar ataques públicos a Bolsonaro e Lula
Provocado por jornalistas a comentar uma declaração de Lula no final de agosto, o ex-prefeito não respondeu. O democrata soteropolitano quer evitar entrar em embate com o ex-chefe do Palácio do Planalto para não nacionalizar a eleição, e acabar favorecendo o senador Jaques Wagner (PT) na disputa pela administração estadual. 

Na sua última visita a Salvador, Lula afirmou que não tinha o que “conversar politicamente com ACM Neto", e acrescentou que o ex-prefeito “definiu que o PT é inimigo dele”. “Ele vai trabalhar para me derrotar”, afirmou o ex-presidente. Neto não quis falar sobre as declarações do petista. Questionado pelo jornal Tribuna da Bahia se não pretende responder a Lula para não nacionalizar o embate na Bahia, Neto disse: “exatamente”. Perguntado também se foi um erro político do ex-senador ACM (ex-PFL, hoje DEM) entrar em confronto político com Lula na eleição de 2006, Neto afirmou: “sem dúvida”. 

Neto também deu umas amenizadas em imbróglios com Bolsonaro. Recentemente se disse contra o impeachment do presidente. Em entrevista ao portal Uol no último dia 4, Neto disse não há elementos hoje, no Congresso Nacional, que sustentem o afastamento do mandatário geral do país.

ACM Neto afirmou ainda que se houvesse algum movimento pró-impeachment isso inflamaria  a base do presidente. "Deixa os jogadores que estão aí jogar. Qualquer interferência numa disputa livre vai contribuir com uma instabilidade no país. Queremos vencer nosso projeto em um processo amplo, aberto e franco dentro das urnas", afirmou.

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