Política

Dilma não é tão resistente às questões políticas

Agência Brasil
Avaliação é do deputado Afonso Florence, ex-ministro do Desenvolvimento Agrário  |   Bnews - Divulgação Agência Brasil

Publicado em 11/04/2012, às 11h22   Guilherme Vasconcelos



O governo Dilma Rousseff (PT) tem se notabilizado, ao menos publicamente, pela prevalência de critérios técnicos sobre questões políticas. Em pouco mais de um ano de mandato, a presidenta construiu a sua imagem pública em torno de uma suposta rigidez administrativa e intolerância com a corrupção. Essa fama, no entanto, é frequentemente supervalorizada. Assim como no governo Lula, as composições políticas, em muitas ocasiões, continuam determinando a escolha de dirigentes da máquina pública federal.

Prova disso é o caso do ex-ministro do Desenvolvimento Agrário e atual deputado federal, Afonso Florence (PT).  Formado em História pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e com atuação discreta na área política antes de se tornar ministro por indicação do governador Jaques Wagner (PT), de quem havia sido secretário de Desenvolvimento Urbano, Florence admitiu, em conversa com o Bocão News, que tanto a sua nomeação quanto a exoneração se deram exclusivamente por razões políticas.

“Não tenho formação na área. Sou professor de história. Não sou agrônomo e nem veterinário, como também não é o ministro Pepe Vargas. Aquilo é um cargo político. Eu também saí do ministério por motivações de natureza política, relacionadas a um arranjo político com o PT do Rio Grande do Sul”, declarou, em Feira de Santana, durante cerimônia de anúncio de medidas de auxílio aos municípios baianos atingidos pela seca. Ele não quis revelar mais detalhes sobre o que chamou de “arranjo”.

Confrontado com as informações de que teria sido demitido, na verdade, pela pressão do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra), insatisfeito com a lentidão dos assentamos da reforma agrária, e pelo descontentamento da presidente Dilma com a gestão e o andamento de programas da pasta, Florence defende-se afirmando que foi o único ministro exonerado que mereceu uma nota pública de elogio de Dilma. “A nossa saída está no Youtube, no Portal do Planalto. A presidenta publicou uma nota elogiando o meu trabalho. Saímos pela porta da frente: sem máculas éticas e com resultados concretos”, rebate.

A afirmação, no entanto, não é verdadeira. Antes de ser demitido por suspeitas de fraude em licitações e cobrança de propina, o ex-ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento (PR), também mereceu um comunicado público em que o governo manifestava “confiança” em seu trabalho. Manifestação ainda mais efusiva de reconhecimento recebeu o ex-ministro da Pesca e Aquicultura, Luiz Sérgio (PT). Na cerimônia de despedida, Dilma chorou ao referir-se ao petista e declarou, com a voz embargada: “Há uma pessoa nesta cerimônia que merece todas as minhas homenagens e os meus mais calorosos agradecimentos. Quero agradecer ao Luiz Sérgio. Obrigado. Você foi e é um amigo, um parceiro”.

Todos esses casos – Afonso Florence, Alfredo Nascimento e Luiz Sérgio, substituído pelo peixe fora d’água Marcelo Crivella (PRB) – provam: Dilma não é tão resistente às negociações político-partidárias quanto quer fazer crer seus assessores, correligionários e a propaganda oficial.


Foto: Manu Dias/Agecom
Nota originalmente publicada às 18h30 do dia 10


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