Política

Escritor revela segredos de entrevista com ACM

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Fernando Morais informou à revista portuguesa “Jornalismo & Jornalistas” alguns detalhes da biografia do político   |   Bnews - Divulgação

Publicado em 08/10/2012, às 12h53   Redação Bocão News


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O escritor Fernando Morais, autor de “A Ilha”, “Olga”, “Chatô” e outros livros, informou à revista portuguesa “Jornalismo & Jornalistas” (n. 51, jul/set 2012, p. 28-35), publicada em Lisboa pelo Clube de Jornalistas, que adiará mais uma vez a conclusão da biografia do político Antonio Carlos Magalhães (1927-2007). Morais iniciou a tarefa desde o final
dos anos 1980. Agora, ele está escrevendo uma nova biografia do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva e o foco do trabalho é a atuação política do pernambucano-paulista desde a atuação no Sindicato dos Metalúrgicos até os dois períodos na presidência da República.
Sobre ACM, Morais disse à repórter Maria da Paz Trefaut (do jornal brasileiro “Valor Econômico”), que o entrevistou para a a revista portuguesa, o seguinte:

“Na tua cabeça neste momento há outros personagens além de Lula?”

– Tem o Antonio Carlos Magalhães (empresário baiano já falecido, que foi grande cacique da política brasileira). Gravei os últimos nove anos de sua vida e ele me deu seus arquivos pessoais. Aí empurrei para frente quando surgiu o Lula, porque o que tenho com ele ninguém vai ter. Tem o José Dirceu (ex-ministro da Casa Civil) que eu já tinha começado a fazer e travei por conta do julgamento do mensalão.


“Você tem uma posição ideológica muito definida como jornalista, mas, por outro lado, faz personagens muito diferentes. Não dá para gostar do Lula e do Antonio Carlos Magalhães, por exemplo. Como você concilia isso?”

– Depois que lancei “Olga” (biografia de Olga Benário Prestes, mulher do líder comunista Luis Carlos Prestes), pensei fazer o delegado Fleury. Meus amigos não se conformavam. Diziam: “Como você vai fazer uma biografia de um fascista, de um torturador toxicômano?” Eu respondia: “jornalista que não se interessar pelo delegado Fleury tem que mudar de profissão”. Isso vale para qualquer um. Meus livros são todos jornalísticos. Procuro gente que tenha o que dizer. O Antonio Carlos Magalhães (ACM) é protagonista de 50 anos de história do Brasil – do Juscelino ao Lula. Se esses caras se dispõem a […] contar isso pra você... O Brasil não é só de esquerda.

“O que quero saber é como um cara com ACM topa você como biógrafo?”

– Ah, leva tempo. Primeiro fiquei procurando ele um tempão. Quando consegui marcar um encontro em Brasília, ele disse: “ótimo”. Mas antes perguntou quanto ia custar. Como assim – respondi. E ele: “O senhor tomou um avião de São Paulo, está hospedado num hotel cinco estrelas, alguém vai pagar isso, não?” “Isso é conversa minha com o meu editor, não é de sua alçada”, disse a ele. Tudo ia bem até o final, quando eu disse: “o senhor não vai ler os originais. Vou fazer o que sempre fiz. Vou enviar o primeiro exemplar para o senhor, mas na hora em que estiver lendo, algumas dezenas de pessoas estarão fazendo o mesmo”. Aí ele disse que precisava refletir. Quinze dias depois, ligou me convidando para almoçar em Salvador e disse que estava fechado.

“O que o levou a decidir?”

– Ele disse que tinha relido “Chatô”. E falou: “Eu sei que o senhor é comunista e o Chatô é um símbolo do capitalismo no Brasil. Mas o senhor o tratou com respeito, ouviu os dois lados. E eu não me envergonho das coisas que fiz na vida, nem das feias”. O ACM não é de minha tribo, mas é um grande personagem, um grande frasista. Tem uma coisa ótima que ele dizia, não sei se é dele ou se apropriou: “Metade dos jornalistas está interessada em notícias e a outra metade, em dinheiro. Um bom político deve andar com notícia num bolso e dinheiro no outro. Agora, precisa tomar muito cuidado pra não dar dinheiro pra quem quer notícias e nem notícias para quem quer dinheiro”. É uma aula de política, de jornalismo.

Foto: Divulgação


Classificação Indicativa: Livre

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