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Gabrielli: "Espero que o povo de Salvador não sofra por sua escolha"

Imagem Gabrielli: "Espero que o povo de Salvador não sofra por sua escolha"
Secretário critica vitória de Neto e responde comentários  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 01/11/2012, às 13h06   Caroline Gois (Twitter: @GoisCarol)



O secretário de Planejamento do Estado da Bahia, Sérgio Gabrielli, usou o facebook para comentar sobre o resultado das eleições na capital baiana, na qual ACM Neto (DEM) foi eleito prefeito de Salvador, no último dia 7, com 717.865, ou seja, 53,51% dos votos. Já o candidato Nelson Pelegrino (PT) teve 623.734 votos, que correspondem a 46,49% do eleitorado soteropolitano.

Foto: Gilberto Junior// Bocão News
Na postagem, Gabrielli disse que "os eleitores de Salvador elegeram ACM Neto prefeito. Até aí uma vitória da democracia, pela escolha livre os dirigentes municipais. E agora? A Prefeitura Municipal de Salvador tem um orçamento de pouco mais de 4 bilhões e não tem capacidade de financiamento por falta de condições financeiras".

Foto: Roberto Viana// Bocão News
Ainda no texto, Gabrielli ressalta: "Uma Prefeitura que precisa de obras estruturantes no que se refere a mobilidade urbana, a recuperação da Orla Atlântica e Orla do interior da Baia de Todos os Santos, no Centro Antigo da Cidade, nos bairros mais populosos com a necessidade de expansão de rede de assistência básica a saúde e ampliação da rede municipal de educação. Uma prefeitura que precisa ampliar o ordenamento urbano com obras de desafogo dos gargalos do trânsito. Uma cidade que precisa tratar bem as suas diversas populações e incluir milhares de pessoas nos serviços básicos da cidade. Uma Prefeitura que precisa dos Governos do Estado e da União para realizar parte dessas obras".
Por fim, Gabrielli fala sobre os investimentos que poderão vir para a capital em detrimento do relacionamento entre DEM e PT, diante da postura apresentada pelos adversários. "Mas os eleitores de Salvador escolheram ACM Neto com os partidos DEM, PSDB, PMDB, PPS e PV, partidos que são ferozes opositores ao Governo no plano estadual e federal ou em ambos. Para implementar os projetos necessários para enfrentar as necessidades de Salvador há de haver uma ação harmônica e equilibrada entre a Prefeitura e os governos do Estado e Federal. Como fazer a integração da Linha 1 do Metro com a Linha Dois que vai até Lauro de Freitas, sem o acordo entre os dois governos? Como fazer os viadutos e passarelas para melhorar o trânsito da cidade sem a cooperação entre as duas esferas de governo? Como articular as concessões das novas linhas de ônibus com a alimentação das estações de alimentação do Metro sem que haja um trabalho conjunto entre a PMS e o Governo Estadual? Como fazer as grandes intervenções programadas no Centro Antigo de Salvador sem a equilibrada cooperação da PMS e governo do Estado?
A questão não é de perseguição ou comportamento não republicano de retaliação ao opositor que ganhou as eleições em um determinado município. A questão é a realidade difícil de diálogo entre um conjunto de partidos que deliberadamente são de oposição ao Governo do Estado, e buscam se legitimar no combate a esse Governo, com a necessidade desse Governo municipal de aceitar a liderança e condução desses projetos pelo Governo estadual, que é o único que tem capacidades financeira e gerencial de gerir as ações desses programas. Some-se a isso a reação dos movimentos sociais que vão exigir da PMS a aceleração dos benefícios prometidos em campanha e a diversificação das atuações do governo municipal, ameaçando ainda mais a combalida posição financeira do município.
Por cima disso, a nova Câmara de Vereadores pode ser mais um campo de batalha entre o Executivo de Salvador e seu legislativo com vários temas conflitantes na agenda legislativa.
Frente a esse quadro, os partidos que apoiaram Pelegrino não dispõem de muita alternativa: só resta a oposição ao novo Governo. Não uma oposição por oposição, mas uma ação que busque ampliar as pressões referentes aos interesses de importantes segmentos da sociedade soteropolitana que não estarão representados na coalizão vencedora, que exija um reconhecimento do papel do Governo do Estado na execução e liderança desses importantes projetos para a cidade e uma plataforma de reverberação para as demandas do movimento social que tenderão a estar limitadas pelo ideário dos partidos que ganharam a eleição.
Nesse movimento de conflito e tensão, o Governo Estadual é o único que tem as condições de implementar vários dos programas previstos. O novo prefeito precisa levar em conta essa realidade de que o Estado é o principal condutor de muitas das soluções dos problemas para o povo da cidade. Não é do feitio da coligação vencedora com tradição oligárquica e autoritária admitir que tem que reconhecer a importância e tamanho dos seus adversários. Espero que o povo de Salvador não sofra por sua escolha".
Mas, nesta quarta-feira (31), Gabrielli voltou a discursar no facebook, em resposta aos críticos do seu primeiro texto. Veja na íntegra: 
"Respostas a alguns críticos, uns ferozes, outros racionais.
Vou tentar responder a alguns dos mais ferozes críticos a minha afirmação de que os investimentos do Governo do Estado em Salvador, para serem executados precisam da colaboração do novo prefeito e que a coligação vitoriosa ( DEM, PSDB, PMDB da Bahia, PPS e PV) não tem a tradição de negociar e fazer compromissos com o PT. É oposição hostil aos governos de Wagner, e alguns de Dilma também e, portanto poderiam ter dificuldades de fazer o que é necessário para o povo de Salvador; aceitar trabalhar harmonicamente com o Governador Wagner.
Insinuaram que eu estaria afirmando que o Governo se negaria a fazer obras na cidade só para retaliar ao Prefeito. Em nenhum momento afirmei isso. Ao contrario, disse literalmente:
Nesse movimento de conflito e tensão, o Governo Estadual é o único que tem as condições de implementar vários dos programas previstos.
O novo prefeito precisa levar em conta essa realidade de que o Estado é o principal condutor de muitas das soluções dos problemas para o povo da cidade. Não é do feitio da coligação vencedora com tradição oligárquica e autoritária admitir que tem que reconhecer a importância e tamanho dos seus adversários. Espero que o povo de Salvador não sofra por sua escolha!”.
Admiro muitos que acham que estou errado e que ACM Neto e os partidos que o apóiam serão parceiros do Governo do Estado nas obras de interesse dos soteropolitanos. Admiro, mas infelizmente, não acredito nessas transformações.Ofensas, xingamentos e irracionalidade fazem parte do debate político. Acho bom que eles assumam suas posições e assumam que existe uma DIREITA ideológica no país e na Bahia. A clareza das posições é positiva para a Democracia. O que não é admissível é usar uma retórica pretensamente esquerdista de critica ao PT(traição ao movimento social, corrupção, falta de compromissos com o povo, arrogância, autoritarismo, política de alianças) para justificar posições claramente de direita contra as políticas de inclusão social e de ampliação da democracia.
Felizmente, com a luta de muitos, conquistamos a democracia no pais e temos eleições a cada dois anos. Espero que cada vez as posições que cada um defende sejam mais claras para que os eleitores façam as suas escolhas. Nunca o problema é a escolha do eleitor. Sempre é a forma escolhida pelos ganhadores para administrar os recursos do governo, explicitando as prioridades escolhidas pelos eleitores, em relação as pressões da sociedade que continuam, independente dos resultados da eleição.
A democracia não é apenas o processo eleitoral. É a melhor forma de resolução dos conflitos sociais. Felizmente também criamos vários mecanismos de participação direta da sociedade nos seus destinos. Discordo radicalmente diz que “quando as urnas se encerram, o resto é silencio”. Essa forma de democracia que se limita a eleição é muito pouco para o estagio que nossa sociedade chegou, especialmente depois do Governo de Lula.
Alguns acreditam que a eleição de Neto não é a volta do carlismo. É claro que ACM, o avô, não ressuscitou. A volta do carlismo é o risco da experiência de Paulo Souto, um carlismo renovado, voltar. Isso significa o domínio de uma tecnocracia, acredito que, para alguns até bem intencionada, mas que não abre espaço para a participação popular nas decisões de governo. Um governo de déspotas esclarecidos. Os principais partidos da coalizão vitoriosa (DEM, PMDB e PSDB) têm em seus ideários idéias autoritárias e pouca abertura de diálogo com o PT, que apesar da derrota em Salvador é amplamente majoritário nos votos do Estado (mais de 340 prefeituras apóiam o Governador Wagner contra 10 do DEM, 9 do PSDB e algumas dezenas do PMDB).
Concordo quando dizem que não acredita em determinismo político genético, mas destaca a identidade ideológica do discurso do DEM com o do PFL e até da ARENA. Trata-se de identidade ideológica e programática. Concordo inteiramente com a necessidade de pluralidade. O que acho que está em questão é outra coisa. No momento eleitoral os eleitores podem optar, escolher, o que é melhor: reforçar o projeto político que concordam ou substituí-lo por outro.
A opção se expressa no resultado das urnas. Ganhou o projeto de oposição ao Governo do Estado em Salvador. Esse foi o recado dos eleitores. Aos vencedores é necessário construir os espaços de cooperação e harmonia com seus opositores no Governo estadual, mandatados pelas urnas.
O meu questionamento é que essa tensão, legitimamente escolhida pelos eleitores, pode trazer problemas na execução de projetos voluntários. Não há mais espaços para retaliações como as feitas por ACM, o avô, contra nossa prefeita Lídice. A busca de harmonia é a inflexão que os ganhadores da eleição de Salvador, liderados por ACM, o neto, precisam fazer. Se farão é outra coisa".

Foto: Roberto Viana// Bocão News
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Matéria publicada dia 31 de outubro às 12h26

Classificação Indicativa: Livre

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