Política

Álvaro Gomes defende projeto de revitalização dos terreiros

Publicado em 29/11/2012, às 17h47   Redação Bocão News (twitter: @bocaonews)


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O projeto de revitalização de 53 terreiros de Salvador – iniciado pelo Governo do Estado no final de 2009, mas que ainda não foi finalizado – dominou os debates da sessão especial sobre a "Concepção Arquitetônica dos Povos de Terreiros", realizada na manhã de ontem na Assembleia Legislativa da Bahia. Proposto pelo deputado Álvaro Gomes (PCdoB), que também presidiu a sessão, o evento reuniu representantes do Estado e das casas de religião de matriz africana.

O presidente da Associação Cultural de Preservação do Patrimônio Bantu (Acbantu), Raimundo Nonato da Silva, foi um dos que mais fizeram críticas à demora para revitalização dos terreiros. Segundo ele, há terreiros que estão interditados há cerca de três anos e mães e pais de santo que estão inativos durante todo esse tempo por causa das obras. Ele reclamou também da forma que as intervenções vêm sendo feitas. "Eles precisam saber que quem manda em nossas casas não somos nós, são nossos ancestrais."

DESAFIO

Ricardo de Almeida, assessor técnico da Superintendência de Construções da Bahia (Sucab), admitiu que a revitalização dos terreiros é um "desafio gigante" para o governo baiano. "Isso porque", explicou ele, "ao trabalharem nos terreiros, os técnicos da Sucab não só estão lidando com o patrimônio material, mas também o patrimônio imaterial". Ele lembra que, nos terreiros, "não se pode entrar em qualquer lugar e não se pode mexer em qualquer coisa".

Fábio Velame, professor da Faculdade de Arquitetura da Ufba, explicou que a dificuldade relatada pelo representante da Sucab se deve ao que ele chama de "hierarquias de acesso". "Nos terreiros, há o espaço onde os não iniciados podem frequentar, há aqueles que só os babás e ogês podem e os totalmente privados", observou Velame, que é mestre em urbanismo e doutor na área de patrimônio, conservação e restauro também pela Ufba.

Mas, segundo Fábio Velame, as dificuldades e desafios no processo de revitalização dos terreiros são bem mais amplos do que as "hierarquias litúrgicas e dimensões simbólicas" dos terreiros. Um dos pontos fundamentais para recuperação das casas de culto afro é a utilização dos recursos naturais tão simbólicos e importantes para as religiões de matriz africana.

Já para o deputado Bira Corôa (PT), presidente da Comissão Especial da Promoção da Igualdade Racial da Assembleia, a falta de políticas de preservação e de reserva de áreas especiais está fazendo com que muitos terreiros migrem para o litoral norte do estado. Para ele, isso é grave, sobretudo "porque os terreiros são os pilares firmados que fizeram com que o povo baiano pudesse se assumir como negro".

CONVERGÊNCIA

Também presente ao evento, o secretário especial de Promoção da Igualdade, Elias Sampaio, reconheceu que as obras não estão sendo realizadas na velocidade que o governo queria. Mas assegurou: "O momento atual é de convergência de interesses entre o setor público e a comunidade que está aqui."

Ele observou ainda que o governo está trabalhando para resolver outra questão que ele considera de grande importância para as religiões de matriz africana. "A falta de regularização fundiária é um problema dentro de Salvador e do estado como um todo. E é um dos problemas mais sérios, porque as religiões afros não podem prescindir desses espaços", concluiu ele.

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