Política

O dilema entre a juventude e os cabelos brancos

Publicado em 03/06/2017, às 08h53   Victor Pinto



Há tempos, em meio a CPI da Petrobras, assisti uma discussão entre Hugo Motta (PMDB-PB) contra Edmilson Rodrigues (PSOL-AP) e Ivan Valente (PSOL-SP). Quando chamado de “coronel” por um dos pessolistas, Motta que, de certo modo estava agindo de modo autoritário, disse uma frase forte que até então nunca eu tinha ouvido: “cabelo branco não é sinônimo de respeito”, ao fazer ironia aos cabelos grisalhos dos pares.

Discordo e altero esse conceito. Cabelo branco é sinal de respeito, como sempre é direito você manter o respeito em qualquer ocasião, mesmo que seja uma pessoa mais velha. Contudo, as madeixas grisalhas não são sinônimos de mais competência. Pode até ser de experiência, que é válido, mas não quer dizer que é o suprassumo para administração/gestão.

O senso comum dos cabelos brancos leva ao conservadorismo e sempre joga para escanteio algo novo ou do ímpeto juvenil. Isso pode, de certo modo, ajudar a amadurecer determinadas atitudes, mas também provoca uma poda em novas ramificações que provoca, certamente, o desestímulo.

O Brasil é uma república da gerontocracia. Lembro que li um artigo interessante da Folha, cujo autor, infelizmente, me esqueci qual foi, que fazia questão de afirmar que são os mais velhos os comandantes de boa parte das instituições e como estamos rumando para um País de idosos, tudo tende a ser mais conservador. Muitos olham para os jovens como um “perigo na esquina”.

Dos cabeças brancas que a Bahia já teve e ainda tem, vemos, pelo menos quem cobre o meio político, direitinho como funciona os modus operandi político. Preparar os novos para um novo terreno? Não é isso que esses grisalhos tem feito ultimamente.

Temos até jovens vereadores e prefeitos. Uns, que se dedicam com afinco ao trabalho político, se destacam rapidamente e conseguem uma carreira meteórica. Outros, que fazem o pouco caso ou só fazem aquilo que o pai quer, dificilmente se viabilizam de uma forma mais natural.

Sobre o Brasil, a idade mínima para ser presidente da República é de 35 anos, o que é bem razoável. Tudo bem que o presidente mais novo que tivemos tinha 40 anos, sete meses e três dias e passou por uma gestão desastrosa: Fernando Collor de Melo.  Contudo, hoje temos o presidente mais velho da história da República: Michel Temer (PMDB), cuja posse aconteceu quando possuía 75 anos, 11 meses e oito dias.

Temer tem se atrapalhado bem e olhe que possui chamativos cabelos brancos que, em tese, para muitos, é sinal de competência.

Temos que beber nas duas fontes. Saber dosar um pouco mais. Injeção de ânimo nos jovens para conhecer, estudar e falar de política nunca é demais. Quando só os velhos tomam conta, mais oligarquias crescem com suas raízes ainda no tempo em que dizem que o coronelismo acabou.

* Victor Pinto é jornalista formado pela Ufba, sub editor de política do Bocão News, membro da coordenação da Rádio Excelsior da Bahia e diretor do jornal Correio do Mês de C. do Coité.

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