Política

Passeata do MPL serviu para fortalecer ocupação da Câmara

Imagem Passeata do MPL serviu para fortalecer ocupação da Câmara
Objetivo do ato desta quinta (1) não era aumentar movimento, mas legitimá-lo  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 02/08/2013, às 07h58   Lucas Esteves (Twitter: @lucasesteves)


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Quem acompanha de longe a ocupação da Câmara de Vereadores de já 11 dias feita pelo Movimento Passe Livre (MPL) em Salvador tem a impressão de que o ato está a cada dia se esvaindo, perdendo seu objetivo e mergulhando no vácuo político e ganhando a antipatia da população. Exatamente para que esta impressão começasse a contaminar a própria organização do movimento, a passeata ocorrida nesta quinta-feira (1) incorporou um novo objetivo, não tão claro assim: fortalecer a si própria.
Oficialmente, os integrantes da ocupação – reforçados por quem mais simpatizasse com a causa do passe livre – deveria marchar em direção à sede do Setps para pressionar o órgão e a prefeitura em direção à aprovação do benefício que já ocorre em várias cidades. Porém, no clima que viajava entre os manifestantes, era clara a vontade de manter o coletivo incômodo, relevante e internamente coeso. 
E, no final das contas, o objetivo foi alcançado. Durante horas de caminhada, não houve momento em que os cerca de 100 manifestantes se mantivessem calados, pulando e provocando as instituições “inimigas” do movimento. Com bonecos, faixas, cantoria e muitas palavras de ordem, os integrantes do MPL pararam o trânsito por onde passaram e se garantiram visíveis na movimentação política que protagonizam.
A partir do sucesso interno da manifestação, o que a prefeitura e – especialmente – e a Câmara de Vereadores temia, se confirma: a ocupação continuará e não tem data previsível para chegar ao fim. Após a confirmação da coesão interna do movimento, o MPL parte para a fase de estudar estratégias para aumentar seu quórum e, consequentemente, a pressão frente aos poderes instituídos para alcançar os objetivos de sua pauta de reivindicações.
 O movimento conta com o apoio apenas tácito dos vereadores de oposição da Câmara. Na concentração para a passeata de hoje, apenas o pessolista Hilton Coelho estava no local, misturado aos manifestantes. Segundo ele, na última reunião do colegiado de líderes, os oposicionistas se posicionaram a favor da ocupação e também do retorno normal dos trabalhos nas sessões. Entretanto, não há nenhum movimento de fato que tente retomar as sessões.
Hilton disse ainda não ter um entendimento e opinião formados sobre a posição da oposição no caso da ocupação. Ele diz ser a favor do retorno das atividades, mas se esquivou de fazer críticas aos colegas de bancada, que não repetem a proximidade dos ocupantes da Casa, apesar de sempre declararem apoio em entrevistas e nas redes sociais. 
“eu realmente não tenho um opinião formada em relação aos ausentes aqui na manifestação. Talvez por uma leitura de que a intervenção institucional seja central ao apoio ao movimento e não a presença neste ato de rua. Eu realmente não saberia explicar. A posição do PSOL é bem clara: a de apoiar as manifestações e esta aqui também para que o movimento de passe chegue a um bom termo de conquistas para a população e os estudantes”, esquivou-se.
Os manifestantes, porém, têm uma explicação: os vereadores estão comprometidos com os empresários e esvaziam as sessões para que não precisem prestar esclarecimentos aos ocupantes. De acordo com um dos participantes do ato, nesta segunda estiveram na Câmara seis vereadores, entre eles Tia Eron, Léo Prates, Vado Malassombrado e Joceval Rodrigues. Após meia hora, teriam saído do local e decretando a não-realização da sessão.
“Amigos, a ocupação da Câmara não atrapalha de maneira nenhuma a continuação dos trabalhos normais da Casa. Os vereadores não querem vir trabalhar e não dão nenhuma explicação para o porquê disto”, disse um manifestante durante a tribuna popular pré-ato. Para Walter Takemoto, um dos integrantes mais destacados do MPL, a atitude dos edis repete a do prefeito ACM Neto, que segundo ele se recusa a negociar com os ocupantes da mesma maneira que se recusa a enxergar os problemas dos moradores das periferias da capital.
“Quando ele se recusa a negociar com os manifestantes, está se posicionando a favor, defendendo os empresários, os que financiaram a sua campanha. Nós não queremos assistência social, não queremos dizer ‘sim, senhor’ e não queremos ficar de joelhos. Não queremos mais as elites dizendo que o povo não pode fazer política. Queremos dizer que nós conhecemos os caminhos das ruas e que acreditamos que sabemos o que queremos fazer”, discursou em frente à Casa do Povo.

Publicada no dia 01 de agosto de 2013, às 15h51

Classificação Indicativa: Livre

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