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Políticos-médicos comentam chegada de cubanos à Bahia

Imagem Políticos-médicos comentam chegada de cubanos à Bahia
Deputados e presidente municipal do DEM questionam "solidariedade" e sustentam que situação é de trabalho escravo  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 27/08/2013, às 06h52   Lucas Esteves (Twitter: @bocaonews)


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A quase unanimidade das críticas dos médicos brasileiros à chegada de profissionais estrangeiros ao Brasil e às condições do programa federal “Mais Médicos” também repercutem junto aos entes políticos baianos que também são médicos. O Bocão News entrevistou os deputados federais Luiz de Deus (DEM) e Colbert Martins (PMDB) e o presidente municipal do DEM, Heraldo Rocha – todos médicos -, e colheu as críticas dos políticos à iniciativa.
De acordo com o peemedebista, os deputados que são médicos não se opõem à chegada dos estrangeiros. Ele alega que o grande problema da categoria é a percepção de que o governo busca uma resposta rápida às reivindicações das ruas e, por conta disto, o faz de maneira equivocada. Ele lista os erros do governo como dispensar o exame Revalida para comprovar a habilidade dos profissionais de fora e também convoca-los por Medida Provisória, enquanto recusa fazer concursos públicos para brasileiros.
“Será mesmo que há essa urgência de trazer médicos de fora? Não são 10 nem 20 médicos, são 4 mil que vieram de Cuba. Acho que médicos estrangeiros são bem-vindos sempre, mas trazer médicos de Cuba agora não é urgente”, argumenta. Colbert lembra também que outra dificuldade dos médicos para ir a locais recônditos do Brasil para clinicar é, além da falta de estrutura, a ausência de carreira profissional de Estado.
Ele lembra que tem 32 anos como médico concursado da Secretaria Estadual de Saúde (Sesab), mas que desde então exerce o mesmo cargo, uma vez que não há etapas carreiristas para os trabalhadores. “O governo também não está nem um pouco interessado em instituir esta carreira”, reclama. Já que há  a desvalorização e os médicos encaram situações de falta de estrutura generalizada no interior, Luiz de Deus sugere aumentar salários em concursos.
“Eu queria ver se fizessem concursos públicos amplos e oferecerem R$ 20 mil de salários, qual o médico que diria que não aceitaria”, desafia. Para o deputado, todo o problema que desemboca na contratação dos cubanos reside em uma má gestão da Saúde historicamente deficiente e que acusar os médicos de corporativismo não é justo neste momento.
Escravidão – O demista Heraldo Rocha é o mais incisivo ao falar do plano e, para ele, não há dúvida de que a chegada dos cubanos ao Brasil é uma condição análoga á escravidão. Este argumento, muito comum entre os críticos do Mais Médicos, tem base na forma de contratação dos profissionais e nas condições a eles impostas apara a adesão.

O convênio entre o Governo federal e a 
Organização Pan-Americana de Saúde prevê que, dos R$ 10 mil destinados à remuneração dos médicos, entre 70% e 80% será de posse do governo de Cuba, que alega utilizar o dinheiro em melhorias estruturais na Ilha. Uma vez que o dinheiro que sobra aos trabalhadores não é integralmente deles, a situação seria análoga à escravidão.
De acordo com Rocha, a situação causa “grande revolta” porque os trabalhadores ficarão com “uma merreca” dos rendimentos financeiros do trabalho que realizam honestamente. “Este programa é um engodo, um grande blefe. Estes homens são escravos profissionais. O ministério Público do Trabalho tem que entrar forte nesta situação para observar as condições de trabalho destes médicos”, clamou.
Colbert Martins afirmou que já entrou com uma representação junto ao MPT e pediu investigação da atuação dos médicos. Ele diz ser solidário aos cubanos e deseja, com a intervenção, dar dignidade aos estrangeiros no Brasil. “Temos também que investigar o quanto a Organização Pan-Americana de Saúde recebeu para aderir a este programa. É um investimento de mais de R$ 500 milhões”.
Questionado pela reportagem se acreditava no argumento de “solidariedade” repetido á exaustão pelos cubanos no aeroporto de Salvador na noite do último domingo (25), Heraldo Rocha foi irônico. Segundo ele, os trabalhadores vivem em uma ditadura em Cuba e não podem falar o que realmente pensam. “Lá não é uma ditadura (risos)?”. Já Luiz de Deus questiona a motivação e disse que gostaria de perguntar a algum dos médicos se estão de posso de seus passaportes.
“Eu perguntaria a ele: ‘o senhor está com seu passaporte?’. Como uma pessoa que não tem seu passaporte, que não pode ir até onde quiser, pode ser livre? Ele vive em uma ditadura.  Como ficam as boas intenções nisto?”, provoca. Por sua vez, o peemedebista Colbert é mais moderado e diz agradecer a solidariedade dos caribenhos, mas lembrou que há outras áreas no mundo, a exemplo de países africanos e do Oriente Médio que precisam mais urgentemente deste sentimento e que, no Brasil, há condições de solucionar o problema.


Publicada no dia 26 de agosto de 2013, às 15h24

Classificação Indicativa: Livre

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