Política

Não é correto odiar o eleitor de Bolsonaro

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Não é correto termos um possível presidente da República estimulando o ódio. Menos correto ainda é nos dispormos a surfar nessa onda e nos voltarmos uns contra os outros  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 02/10/2018, às 09h48   Guilherme Reis*


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Pra começo de conversa, não sou eleitor de Bolsonaro. Nunca cogitei ser. Inclusive, desde que tomei conhecimento de sua insignificante existência política, nunca tinha conseguido levá-lo a sério – era “só mais um Tiririca!”. Mas isso mudou em 2018, ano em que o brasileiro revisita sua perene inclinação ao masoquismo: assistimos à consolidação de um candidato extremista e sem preparo, que se alia ao que há de pior no mercado financeiro (se é que existe algo positivo nesse setor que, nos últimos tempos, só tem concentrado renda e empobrecido ainda mais o povo brasileiro). 

Bolsonaro cresceu sobre pilares muito nítidos, a começar pelo medo e pela raiva de fantasmas como a violência urbana e o desemprego, frente à crise representativa de uma classe política corrupta e cheia de privilégios. Bolsonaro também explora o medo – e, principalmente, a raiva – que muitas pessoas têm de si mesmas. Tá cheio de gente que tem orgasmo com os impropérios proferidos pelo candidato contra mulheres, negros, gays, indígenas e contra a “petralhada” que ele conclamou a fuzilar no Acre. 

Essa expressiva parcela da população, para a qual é impossível aceitar a simples existência do diferente e das liberdades individuais, decidiu seu voto justamente por causa de tais babaquices. Tem gente que acha tudo bem sugerir o estupro de uma mulher e dizer que ela merece ganhar menos porque engravida. Tem gente que acha engraçado o candidato falar que “o filho começa a ficar assim meio gayzinho, leva um coro, ele muda o comportamento”. Tem gente que acha correto alguém pregar a tortura, até mesmo de inocentes, violando direitos fundamentais pensados para proteger todos nós sem fazer exceção. E tem gente aí dizendo que mal pode esperar para Bolsonaro ser eleito e “mandar matar as ‘gay’ tudo”. Pra mim, não existe muita diferença entre esse tipo de ser humano e os bandidos que o candidato defende matar. Desses espécimes, quero distância.  

Mas há outro contingente de eleitores de Bolsonaro – e isso é muito mais revelador sobre a era que vivemos -, que decidiu ignorar sua incontinência verbal porque o vê como o único caminho possível para arrumar a baderna político-econômica que se tornou o Brasil. Afinal, quem vai se importar com o que o candidato fala sobre feministas e casamento gay quando o desemprego bate à porta e a criminalidade espreita lá fora, à espera da próxima vítima? 

Ultimamente, tenho pensado duas vezes antes de excluir pessoas com esse perfil das minhas redes sociais. Antes de qualquer coisa, tento entendê-las. Não é correto termos um possível presidente da República, que deveria ser um ponto de convergência e união em torno de um projeto de país, estimulando o ódio. Menos correto ainda é nos dispormos a surfar nessa onda e nos voltarmos uns contra os outros.

*Formado pela Universidade Federal da Bahia, Guilherme Reis é repórter do site BNews e subeditor de Política do jornal Tribuna da Bahia. Tem passagens pela rádio Educadora FM e pelo portal iBahia.com, pelo qual ganhou, em 2014, o Prêmio Sebrae de Jornalismo.

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