“O prefeito precisa dos vereadores para governar. Nós somos um grupo fechado. Mexeu com um, mexeu com todos”. A frase, dita por um vereador presente ao camarote da Prefeitura de Salvador na abertura do Carnaval, dá um pouco do tom que alcançou as rusgas entre os edis da Câmara e a vice-prefeita Célia Sacramento. Após se recusar a ser fotografada ao lado de Marcell Moraes, de seu próprio partido, os vereadores sinalizam que a gota d'água na relação foi alcançada. De acordo com diversos vereadores consultados pela reportagem do Bocão News na abertura do Carnaval e em outras ocasiões, as supostas demonstrações de grosseria, arrogância e outros substantivos pouco elogiosos por parte da vice são cada vez mais frequentes. Eles alegam que cada um dos ocupantes das cadeiras da Câmara já sentiu o gosto amargo de ser maltratado e, aos poucos, isto começa a deteriorar a relação dos edis com o prefeito.
Como se sabe, o trato entre o Executivo e o Legislativo é um grande toma-lá-dá-cá. Enquanto os vereadores acatam os projetos do executivo e garantem maioria em votações, o prefeito precisa prestigiar as atuações dos representantes do povo em um sem-número de iniciativas. No caso da base a situação vinha bem, mas o comportamento da vice-prefeita tem deixado a maioria muito irritada e aumentam as chances de ACM Neto precisar entrar fortemente no circuito para baixar a rotação de Célia.
Presente no camarote oficial da prefeitura no Campo Grande, a protagonista dos fatos sorria como se nada estivesse acontecendo e falava sobre o caso, mas raciocinando sobre um mundo que, provavelmente, é só seu. Segundo seu pensamento, as relações entre ela e os vereadores são excelentes sempre e que todos os dias cumprimenta e se dá bem com todos. E, acima de tudo, duvida que haverá qualquer movimento contra si na folia.
“Isso não é verdade, eu tenho certeza [o movimento]. Eu tenho certeza. Me relaciono muito bem com todos os vereadores. E a nossa bancada é a maior, tem mais de 32. Que... Isso não existe, não. Nesse instante acabei de encontrar vários vereadores. Que... isso não existe, graças a Deus”, analisou. Nem mesmo no PV há consequências, ela garante. “Lá dentro tenho sintonia total!”.Os vereadores, por outro lado, garantem que seu sentimento de união prevalecerá e que a vice deverá mesmo sofrer uma ação de represália dentro do Carnaval. Outros já buscam projetar um meio-termo. “Ainda no carnaval vamos nos reunir para falar sobre isso, pra ver se a situação dá uma apaziguada”, revelou um edil. Por outro lado, confidenciou também que recebeu uma informação interna do PV que garantia que Célia prefere se manter brigada com os vereadores e ostentar a má relação publicamente. Os motivos, avaliou como incompreensíveis. A situação não está próxima de ser equalizada nem pelo secretário municipal de Cidade Sustentável, Ivanilson Gomes, que até o início do ano passado era presidente estadual do PV. Ele garante que ainda não se sentou com Marcell ou Célia para debater o assunto e que soube das querelas pela imprensa, mas manda recado aos envolvidos e diz que uma relação assim não é interessante para o cidadão. A direção do partido deverá interceder na briga após a festa.
“Os dois podem produzir mais pela cidade fazendo o debate da cidade. Não é esse o debate que a cidade quer. Pra sociedade, quando entra [em rota de colisão] uma vice-prefeita e um vereador, independente de ser do partido, não é bom, porque a cidade espera mais”, alertou. Sobre o fato de Célia ignorar Marcell porque prefere Ana Rita Tavares, Gomes estranha o fato. “Acho estranho ela preferir Ana Rita, porque Ana Rita nem do PV é, é de outro partido. E Marcell é do PV há mais de 15 anos...”. 
