Política

Atos golpistas: Relembre os primeiros sinais do 8 de Janeiro

Marcelo Camargo / Agência Brasil
8 de janeiro de 2023 vai ficar marcado como o dia em que a democracia foi mais ameaçada no Brasil  |   Bnews - Divulgação Marcelo Camargo / Agência Brasil
Edvaldo Sales

por Edvaldo Sales

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Publicado em 08/01/2024, às 06h00 - Atualizado às 06h00


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8 de Janeiro. Essa é uma data que vai ficar marcada na história da política nacional como um dos dias em que a democracia foi mais ameaçada no Brasil e que o patriotismo de alguns se transformou em terrorismo. Se engana, no entanto, quem acha que os sinais do que poderia acontecer naquele domingo não estavam acontecendo.

Bloqueios da PRF

Sob o comando do ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques, a corporação realizou cerca de 500 operações rodoviárias, com bloqueio de estradas, no dia 30 de outubro do ano passado, data do segundo turno das eleições presidenciais.

Os bloqueios se deram principalmente na região Nordeste, onde o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) havia angariado mais votos do que Jair Bolsonaro (PL) no primeiro turno. 

De acordo com os dados do Ministério da Justiça, a corporação fiscalizou, entre os dias 28 e 30 de outubro, 2.185 ônibus no Nordeste, 893 no Centro-Oeste, 632 no Sul, 571 no Sudeste e 310 no Norte.

Quanto às diárias pagas no primeiro e no segundo turnos, em 2 de outubro, foram aplicados R$ 500 mil, enquanto no dia 30 do mesmo mês foram cerca de R$ 13 milhões.

Para o ministro da Justiça, Flávio Dino, que qualificou as operações da PRF como abordagens “atípicas”, o número é maior que “o total de operações realizadas naquele estado durante todo o ano”. Um dia após as eleições, até mesmo a Organização dos Estados Americanos (OEA) se pronunciou, afirmando que atuação da PRF gerou “preocupação e inquietação”.

Os bloqueios em estradas e rodovias foram feitos a despeito da determinação imposta pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que proibiu a realização de qualquer mobilização que pudesse restringir a locomoção de eleitores e eleitoras no dia de votação.

As ações só foram interrompidas após o ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE, intimar Vasques e impor uma multa pessoal de R$ 100 mil por hora de decisão não cumprida. Segundo o TSE, com o fim das abordagens, nenhum eleitor foi impedido de exercer seu direito ao voto.

O ex-diretor da PRF disse, durante Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro, em 20 de junho, que uma ação coordenada para impedir a votação de eleitores no segundo turno seria “impossível”.   

Temos 13 mil policiais, grande parte dos nossos policiais também eram eleitores do presidente Lula. Além disso, é um crime impossível, que não ocorreu, não tem como”, disse.

Bolsonaristas fecham BRs e ocupavam quartéis  

Com a confirmação da vitória de Lula no segundo turno das eleições presidenciais, em 30 de outubro de 2022, os sinais aumentaram ainda mais. Manifestantes vestidos com camisetas da seleção brasileira ou de apoio ao candidato derrotado, Bolsoanro, bloquearam rodovias de Santa Catarina.

Entre 30 e 31, durante a noite, os pontos de bloqueios se espalharam pelo país, gerando uma tensão que esses militantes contrariados com o resultado das urnas esperavam que abrisse caminho para uma ruptura institucional. As manifestações golpistas começaram também em frente a quartéis do Exército em todo Brasil.

A primeira onda de bloqueios das rodovias foi a mais caótica e se concentrou entre a noite de 30 de outubro e 2 de novembro, quando protestos golpistas pelo país se transformaram em acampamentos fixos em frente a unidades das Forças Armadas, como o Quartel-General em Brasília. Alguns chegaram a durar mais de dois meses. Os acampados eram alimentados diariamente por teorias de que estaria prestes a ocorrer um golpe de Estado.

Tudo isso resultou em dezenas de voos cancelados e centenas de viagens de ônibus adiadas pelo país. Em algumas regiões, houve desabastecimento de gasolina e problemas no abastecimento de alimentos, pois os caminhões não conseguiam passar pelos bloqueios golpistas.

Já a segunda onda de bloqueios aconteceu entre os dias 18 e 22 de novembro. Ela foi menor que a primeira e concentrada nos estados de Mato Grosso e Rondônia, em regiões com financiadores desses atos golpistas, que tinham tido suas contas bloqueadas por decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.

No total, foram 70 dias de agitação, que culminariam na invasão das sedes dos Três Poderes, em Brasília, no dia 8 de janeiro deste ano.

Bomba no Aeroporto de Brasília

A escalada da violência tomou proporções ainda maiores com a aproximação da data da posse de Lula. Militantes passaram a planejar atos terroristas, como a explosão de bombas em locais de grande circulação, como o Aeroporto de Brasília.

Além disso, no dia 29 de dezembro houve um ataque a tiros de mascarados em uma concessionária no Mato Grosso, na região de Nova Mutum, que terminou com veículos destruídos e queimados.

Já em 12 de dezembro quando ocorreu a diplomação de Lula pelo TSE, houve confusão no centro de Brasília após a prisão do líder indígena cacique Serere, que também era defensor de um golpe de Estado.

Em 24 dezembro, a polícia encontrou dinamites em um caminhão no aeroporto de Brasília, deixadas por um grupo de bolsonaristas que frequentavam o acampamento no QG.

8 de Janeiro

Em meio aos bloqueios e ocupação de quartéis, havia uma ala mais radical que defendia a invasão de prédios públicos. E foi o que aconteceu em 8 de janeiro de 2023, dia em que o STF, Congresso e Palácio do Planalto foram invadidos e depredados. Atos que tinha como objetivo depor Lula – o que não aconteceu.

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