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De fono a media training: cotados à prefeitura de Salvador afunilam estratégias e já têm rotina de campanha

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Uso de redes sociais também potencializa interação com o eleitor   |   Bnews - Divulgação Divulgação

Publicado em 02/09/2019, às 20h58   Juliana Nobre e Eliezer Santos


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O cenário de especulações em torno dos potenciais candidatos à prefeitura de Salvador em 2020 avançou nas últimas semanas para a definição de estratégias mais robustas e avaliações precisas sobre as reais condições que cada um tem de entrar no jogo para valer. A nova interface, além das articulações partidárias, já envolve o trabalho de marqueteiros, analistas de redes sociais e até sessões mais intensas com fonoaudiólogo e media training.

As principais investidas vêm de quadros ligados ao prefeito ACM Neto (DEM), que já incorporaram às suas rotinas uma programação típica da campanha eleitoral. Os nomes de oposição, por sua vez, ainda balbuciam sempre que se referem ao pleito.

Nas últimas semanas, Bruno Reis (DEM), vice-prefeito e secretário de Infraestrutura, “institucionalizou” sua imersão nas comunidades com o programa “Tô na área”, através do qual passa a colocar suas digitais nas obras iniciadas desde então.

Soma-se a isso a agenda de inaugurações que mantém ao lado de ACM Neto, que tenta torná-lo conhecido nas camadas mais carentes e superar a rejeição que ele ainda enfrenta de uma parte do próprio grupo político. As andanças são registradas por uma equipe de mídia e redes sociais, que publica e estoca material para a provável candidatura de Reis.

Geraldo Júnior (SD), presidente da Câmara de Vereadores, já é assessorado por uma equipe de marketing eleitoral e esmiúça diariamente os números e projeções para saber qual movimento deve fazer a fim de se viabilizar em uma majoritária.

Assim como Bruno Reis tem a "máquina" na mão, Geraldo utiliza a seu favor o comando das articulações no Legislativo, mas a maior parte de suas atividades fica limitada a aspectos burocráticos e a grupos de poder. Por isso, de acordo com interlocutores, ele deveria intensificar mais, neste período, o perfil popular. Na contramão disso, há uma avaliação de que ele está mais maduro e lida bem tanto com política quanto com gestão.

Ele equaciona essa medida com o matinal diário na rádio Metrópole e a aproximação a entidades de trabalhadores, como taxistas e motoristas de aplicativos de transporte, a exemplo das tratativas na Câmara em torno do projeto de regulamentação da modalidade em Salvador.

Remanejado para a Secretaria Municipal de Saúde, o deputado estadual licenciado Leo Prates (DEM) tenta emplacar uma agenda positiva em uma das mais pastas espinhosas da gestão municipal. Tal como os demais, ele compartilha os feitos nas redes sociais e se mantém vivo como alternativa a Bruno Reis.

Quem também concorre paralelamente ao vice-prefeito é o deputado federal João Roma (Republicanos - antigo PRB), que passou a agregar aliados e simpatizantes no "Papo com Roma" - uma espécie de talk show para "prestação de contas" do mandato. Não está fora do radar uma eventual candidatura solo como representante do partido ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, que historicamente recomendava o deputado federal Márcio Marinho.

Nesse cenário, o investimento em redes sociais ganha um peso diferenciado, sobretudo por considerar a relevância inédita dessas plataformas na última eleição presidencial. Especialistas em campanha eleitoral recomendam dedicar orçamento generoso a esse segmento. Quem se viabilizar melhor na interação com o eleitor terá mais pujança.

Do outro lado do Thomé de Souza

Já os candidatos da base do governador Rui Costa (PT) não conseguiram evoluir nas redes sociais e tampouco nas estratégias. Isso porque nenhum pré-candidato especulado se coloca à frente no processo.

Entres eles, apenas Guilherme Bellintani faz acenos à popularidade. Os movimentos são discretos e acontecem a pretexto de presidir um dos clubes de futebol mais tradicionais do estado.

No recorte político, a avaliação é que ele ainda não foi experimentado nas urnas e deve ser tratado apenas como uma aposta, uma espécie de tiro no escuro. Seu nome surgiu entre os cotados a partir de incentivos de amigos, apoiadores e ganhou repercussão na imprensa. O seu valor real ainda é uma incógnita.

Ele namora uma filiação ao PSB, mas prefere o discurso de distanciamento da política porque assim não sofre desgaste, nem é atacado por potenciais adversários. É um nome que tem a simpatia do governador Rui Costa (PT), mas dificilmente será erguido aos céus como o candidato do Palácio de Ondina.

Ao que tudo indica, Rui deve manter uma distância segura do pleito municipal, assim como aconteceu em 2016, quando ACM Neto aplicou uma derrota acachapante sobre Alice Portugal (PCdoB), que era a principal candidata da esquerda.

Naquela época, o governador havia sinalizado preferência pelo nome de Olívia Santana, que hoje disputa prévias internas no campo comunista, com a retórica de ter um postulante negro brigando pelo Thomé de Souza. Alice, por sua vez, precisa do recall eleitoral de 2020 para manter-se viva como deputada federal em 2022.

Sem a condução do governador, o grupo de oposição deve se dissolver em candidaturas avulsas e apostar mais uma vez na pulverização do pleito para forçar a realização do segundo turno, o que não funcionou em 2016.

Dessa vez, o PT insiste em colocar uma candidatura própria, mas não há consenso sobre nomes. Antes, a legenda precisa superar os entraves internos no processo de eleição dos diretórios municipal e estadual.

Nelson Pelegrino briga para ser novamente o representante da estrela vermelha em Salvador. Uma corrente menos conservadora avalia outros nomes, dentre os quais estaria Fábio Villas-Boas, secretário estadual de Saúde.

Nos bastidores, o resumo da ópera é que o PT está frágil. "É muito abraço e pouco aperto", resumem observadores.

Terceiro colocado na reeleição de Neto em 2016, o Pastor Sargento Isidório (Avante), eleito deputado federal em 2018, pode voltar à cena política de Salvador e embolar o meio de campo. Ele atrai o voto considerado de protesto e não representa nenhuma classe, apesar de se apresentar como evangélico. Isidório também é cotado para disputar as prefeituras de Candeias e São Francisco do Conde, mas seus movimentos são aleatórios e pouco controlados pela Governadoria.

O PSD, do senador Otto Alencar, ainda não se decidiu. Assiste a tudo sem precipitação porque pode usar as negociações de 2020 para alargar suas tendas dentro do governo e fincar sua prerrogativa por 2022, na sucessão de Rui Costa.

O mesmo acontece com o PP, do vice-governador da Bahia, João Leão, com a diferença mínima de que os progressistas estão pressionados a elegerem pelo menos um vereador em Salvador. Causa constrangimento à executiva ter o segundo posto mais importante no estado, 60 prefeituras pelo interior, mas não ter um nome sequer no Legislativo da capital.

A cúpula do partido na Bahia ventilou o nome do deputado federal Cacá Leão, mas opera um plano mais realístico que pode culminar na candidatura do deputado estadual Niltinho. 

Enquanto aguarda pela decisão de Bellintani, o PSB rascunha um plano B para sua cacique, a deputada federal Lídice da Mata. A sigla espera ter em 2020 uma composição mais honrosa para curar as mágoas de 2018, quando Lídice foi alijada da vaga para o senado em virtude da indicação do PSD por Ângelo Coronel. 

No entanto, há integrantes da sigla que não defendem a candidatura. “Candidatura por candidatura não ajuda na eleição de vereadores. É preciso ter um nome forte. Candidatura fraca atrapalha mais do que ajuda”, disse um interlocutor.

O pleito ainda deve ter a candidatura protocolar do PSOL, que já chancelou a indicação de Hilton Coelho e deve trazer, junto com PT e PCdoB, uma abordagem nacional contra o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e sua relação com o prefeito ACM Neto para o debate de sucessão municipal.

Redes sociais

Mesmo com a máquina na mão, o vice-prefeito não ganha dos seus adversários no quesito redes sociais, pelo menos no Instagram, uma das mídias que mais crescem.

Entre os quatro nomes que hoje estão oficialmente na base da prefeitura, Geraldo Júnior é o que tem o maior número de seguidores (50 mil) e também de publicações (mais de 3800), enquanto Reis é seguido por 41 mil pessoas, tendo feito mais de 2700 postagens.

João Roma é o terceiro com melhor desempenho: tem 28 mil pessoas, diante de mais de 800 publicações no Instagram.

Leo Prates é o que apresenta índices mais moderados, com 18 mil seguidores e quase 1800 posts.

Vale registrar a performance de Guilherme Bellintani, que alcançou a mesma margem de seguidores de Bruno Reis, tendo postado 52 vezes apenas. A marca está associada, dizem especialistas, à ascensão ao posto de presidente do Esporte Clube Bahia.

Capturas de tela feitas nesta segunda-feira (2) no momento da publicação da matéria.

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