Política

Ex-Abin admite omissão sobre alertas do 8/1 e cita ordem de ex-ministro de Lula

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Moura disse que, no dia 8/1, comunicou GDias da chegada de cerca de cem ônibus a Brasília por volta das 8h  |   Bnews - Divulgação Pedro Ladeira/Folhapress

Publicado em 01/08/2023, às 22h37   Thaísa Oliveira/ FolhaPress


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O ex-diretor-adjunto da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) Saulo Moura da Cunha afirmou à CPI do 8 de janeiro que omitiu do Congresso os alertas de inteligência que ele havia enviado ao ex-ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) Gonçalves Dias por ordem do próprio GDias, como mostrou a Folha de S.Paulo.

Em depoimento nesta terça-feira (1º), Moura afirmou que foi ele quem enviou os alertas de inteligência sobre o risco de invasão às sedes dos três Poderes para o celular do ex-ministro. Moura disse que também ligou para GDias quando a agência constatou que "não seria apenas uma passeata pacífica".

Moura disse que, no dia 8 de janeiro, comunicou GDias da chegada de cerca de cem ônibus a Brasília por volta das 8h. Segundo o ex-chefe da Abin, o general respondeu "Acho que vamos ter problemas".

O compilado de alertas de inteligência enviados pela Abin, publicado pela Folha de S.Pauloem abril, indica que o "ministro do GSI" recebeu, às 8h53 do dia 8 de janeiro, a mensagem: "Cerca de 100 ônibus chegaram a Brasília/DF para os atos previstos na Esplanada".

Moura afirmou à CPI que recebeu uma ligação do responsável pela segurança de um dos prédios dos três Poderes por volta das 13h, preocupado com a situação.

Ele disse que compartilhou o celular de GDias com a pessoa que havia telefonado para ele e que ligou para o ex-ministro na sequência, por volta das 13h30 —quando já estava claro que os golpistas tinham a intenção de invadir os prédios públicos.

"Eu repassei para ele [GDias] todos os alertas da Agência Brasileira de Inteligência. Repassei para ele também algumas informações que estavam no grupo [de WhatsApp] da célula integrada de segurança pública."

"Um pouco antes de a marcha começar o deslocamento, nós já tivemos informações de que havia entre os manifestantes efetivamente o chamamento, inclusive estavam fazendo isso em carro de som, para invasão de prédios", disse.

A pedido da relatora da CPI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), Moura concordou em colocar o sigilo dele à disposição da comissão. Ao final da sessão, o oficial de inteligência entregou seu celular ao presidente da CPI, deputado Arthur Maia (União Brasil-BA).

Como mostrou a Folha de S.Paulo em junho, o ex-chefe da Abin também disse em depoimento que omitiu do Congresso os alertas de inteligência que ele havia enviado a GDias por ordem do ex-ministro.

A pedido da Comissão de Atividades de Controle de Inteligência, o GSI encaminhou ao Congresso um documento com informes de inteligência disparados pela Abin por WhatsApp —em grupos ou individualmente— entre os dias 2 e 8 de janeiro.

A relação, entregue à comissão no dia 20 de janeiro, continha mensagens dirigidas a diferentes órgãos, mas não apresentava os informes que tinham sido enviados, segundo a agência, diretamente a GDias.

Os alertas só chegaram ao Congresso no mês de abril por meio de um novo documento da Abin —esse com os informes que, segundo Saulo, foram disparados por ele diretamente para GDias. A íntegra foi entregue pelo atual diretor-geral da agência, Luiz Fernando Corrêa.

"Eu fiz os dois relatórios. Eu fiz o primeiro, uma planilha que continha os alertas encaminhados pela Abin a grupos e continha ali também os alertas encaminhados por mim pessoalmente, pelo meu telefone, para o ministro-chefe do GSI", disse Moura à CPI.

"Eu entreguei essa planilha ao ministro e o ministro determinou que fosse retirado o nome dele dali porque ele não era o destinatário oficial daquelas mensagens, que ali fossem mantidas apenas as mensagens encaminhadas para os grupos de WhatsApp."

Segundo o documento, a Abin enviou na noite de sexta-feira, dia 6 de janeiro, o primeiro informe sobre a possibilidade de ações violentas em manifestações de bolsonaristas contra a eleição do presidente Lula (PT).

Cunha foi indicado por Lula para o comando da Abin, mas ocupava o cargo de diretor-adjunto da agência em 8 de janeiro porque a nomeação do diretor-geral depende de aprovação do Senado.

Ele deixou o posto em março e passou a ocupar a chefia da Assessoria Especial de Planejamento e Assuntos Estratégicos do próprio GSI a partir de abril, durante a gestão de GDias, mas pediu exoneração no dia 1º de junho.

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