Política

EXCLUSIVO: Entenda a briga no PT da Bahia que adiou o encontro territorial em Salvador

Éden Valadares e Filipe Almada - Divulgação
Oposição interna acusa presidente do PT da Bahia de autoritarismo; Éden analisa medidas disciplinares  |   Bnews - Divulgação Éden Valadares e Filipe Almada - Divulgação
Lula Bonfim

por Lula Bonfim

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Publicado em 25/07/2023, às 15h32 - Atualizado às 16h24



A divisão interna no Partido dos Trabalhadores está cada vez mais clara. A legenda, historicamente dividida em grupos chamados de “tendências”, explicitou o caos entre seus quadros no último sábado (22), quando uma briga acabou adiando o Encontro Territorial do PT em Salvador.

A origem de toda a confusão está no enfrentamento interno entre o Campo Majoritário [Construindo Um Novo Brasil, CNB], tendência ligada na Bahia ao senador Jaques Wagner e ao presidente estadual do partido Éden Valadares, e a Avante, grupo que faz oposição à atual diretoria baiana do PT.

Os oposicionistas acusam Éden Valadares e seus aliados de perseguição a membros da Avante, além de não cumprir o estatuto partidário, conjunto de regramentos que orienta o PT interna e externamente.

Procurado pelo BNews, o militante petista Filipe Almada, ligado à Avante, relatou que a gota d’água na relação entre as tendências foi o caso de Brisa Moura, integrante do grupo oposicionista que teria sido impedida por Éden de assumir o posto de secretária setorial de Mulheres no diretório estadual do PT.

Segundo Almada, havia um acordo entre as tendências da legenda de que, dentro de quatro anos, quatro militantes mulheres dividiriam, uma por ano, o comando da Secretaria Setorial. Brisa Moura seria a representante da Avante, assumindo o posto em 2023. Entretanto, o trato realizado entre os petistas passou a enfrentar resistência dentro da legenda.

Ao assumir um posto na Secretaria de Política para as Mulheres (SPM), do governo do estado, Brisa passou a ser contestada na secretaria interna do PT. De acordo com os adversários, a oposicionista não poderia se manter como secretária setorial, por um suposto impedimento estatutário.

“Como Brisa é um expoente do grupo político de oposição a Éden e é uma figura muito eloquente, que faz um debate muito forte, já havia um incômodo muito grande da direção estadual do PT, no Campo Majoritário, com a presença dela. Ela é muito questionadora. E aí, quando ela vai para a SPM, Éden inventa uma leitura que, ao nosso ver, não existe. Até porque não existe, de fato, no estatuto”, disse Almada, apontando autoritarismo na postura do correligionário.

“Ele pega o artigo 33 do estatuto do Partido dos Trabalhadores, que diz que membros efetivos da Executiva não podem fazer parte da Executiva e estar no governo equivalente à instância partidária — Executiva municipal, prefeitura; Executiva estadual, governo do estado; Executiva federal, governo federal. Só que, no mesmo estatuto, no artigo 131, não se reconhece as secretarias setoriais — que é o caso das mulheres, do combate ao racismo e dos LGBT — como membros efetivos da Executiva. Até porque o processo de escolha dessas secretarias setoriais é em uma outra eleição, não é na mesma eleição que é tirada a direção partidária. É uma direção à parte, dos encontros setoriais”, argumenta o líder da Avante.

Ainda de acordo com Almada, além de ter inventado uma interpretação nova para o estatuto visando prejudicar a tendência Avante, Éden não estaria cumprindo de fato o texto estatutário, já que teria nomeado como membros da Executiva estadual dois militantes que não teriam participado do último Congresso petista, responsável pela eleição do diretório baiano.

“Ele [Éden] disse que, na gestão dele, tudo que estivesse no estatuto seria cumprido. Aí você pega uma série de questões. E aí tem a questão do vice-presidente de Éden, Glauco Chalegre, e da secretária de comunicação, Rafaela Cruz. Eles não compuseram a chapa ao diretório do último Congresso do PT, quando a chapa é votada e ocupa proporcionalmente a direção. E nenhum desses dois companheiros está presente. Ele fez uma manobra e ludibriou toda a Executiva”, apontou Almada.

Questionada pelo BNews, a direção estadual do PT não emitiu nenhuma resposta até a publicação desta matéria. Porém interlocutores próximos à gestão do partido na Bahia afirmaram que a Executiva petista no estado deve se reunir nesta quarta-feira (26) para se pronunciar sobre a composição do diretório e possíveis medidas disciplinares contra membros da legenda que tenham cometido excessos no Encontro Territorial do último sábado.

Segundo fontes ligadas ao partido, a intenção dos integrantes do Campo Majoritário é abrir um processo de expulsão dos quadros petistas de Filipe Almada e, possivelmente, de outros oposicionistas internos.

"Eu não trato e não tenho Éden como meu inimigo. Mas eu acho que ele tem a mim, porque, com todo esse processo, eu venho sofrendo algumas ameaças. Não diretas, porque ele não diz para mim, mas a gente vem sofrendo ameaças de retaliação, porque eu fiz a denúncia no Encontro [Territorial]", lamentou Almada.

O governador Jerônimo Rodrigues (PT) comentou o assunto na manhã desta terça-feira, durante o lançamento do Plano Safra na Bahia. O gestor estadual afirmou não estar sabendo da confusão, mas apontou ter confiança no presidente Éden Valadares.

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