Política

PT reproduziu metodologias antigas e se lambuzou, diz Jaques Wagner

Publicado em 03/01/2016, às 15h49   Redação Bocão News (Twitter: @bocaonews)


FacebookTwitterWhatsApp

O chefe da Casa Civil, Jaques Wagner avaliou o governo petista em entrevista à Folha de São Paulo, e "errou" ao não fazer a reforma política e "acabar reproduzindo metodologias" antigas da política brasileira. O ex-governador da Bahia disse ainda que não acredita em retomada do crescimento este ano, porém afirmou que terá “um ambiente mais salutar”. 
Confira a entrevista: 
O governo começou o ano falando em crescimento e vai acabar com retração de quase 4%, inflação em dois dígitos e juros altos. 2015 foi um ano perdido?
Jaques Wagner ­ Foi um ano difícil. Não conseguimos compactar a base de
sustentação ao governo no Congresso, a crise da economia mundial
repercutiu aqui, assim como repercutiu os ajustes que precisamos fazer no
começo do ano por conta das medidas de 2013 e 2014.
O ajuste foi exagerado?
Jaques Wagner - Se tivesse feito menos teria conseguido segurar o nível de emprego que seguramos? O senso comum é que exageramos nas desonerações e na equalização de juros para investimentos. Mas as pessoas só olham para as
consequências negativas das medidas. Porque o reflexo foi ruim.
Concordo que foi um ano muito duro, mas não vou dizer nunca que foi um
ano perdido. Mas se você apurar só a notícia "não boa", a inflação realmente
está onde está, os juros estão lá em cima, o crescimento foi negativo. A foto de
final de ano não é boa.
E qual é a culpa do governo?
Não sei se foi erro, mas as medidas contracíclicas tomadas produziram um
problema fiscal que ela [presidente Dilma] se impôs consertar. O erro para
mim é muito mais da oposição, que fez uma agenda do "impeachment
tapetão".
O que o senhor quer dizer?
A impopularidade de Dilma hoje é consequência de que a gente teve que
consertar medidas tomadas em 2013 e 2014, que tiveram seu lado positivo e,
como tudo na vida, também consequências ruins. Mas nunca teve dolo. A
banalização do processo como recurso eleitoral é o "impeachment tapetão",
que não é com motivo, é para recorrer do jogo que perdi em campo. Mas isso
também será cobrado da oposição, porque impopularidade não é crime.
E qual a saída para isso?
O governo passa por um momento ruim de popularidade e a nossa grande
tarefa é começar a retomada da economia. Estamos abertos para fazer um
governo de unidade nacional, então quero propor dois temas: a reforma
política e a da Previdência.
O impeachment está enterrado?
Nós vamos enterrá­lo.
Na Câmara dos Deputados ou vai precisar do Senado?
Na Câmara. Não tenho dúvida de que a gente vai a 250, 255 votos [Dilma
precisa de 171 votos para barrar o pedido de impeachment na Casa].
A operação Lava Jato atingiu o PT em cheio. O partido errou?
Errou ao não ter feito a reforma política no primeiro ano do governo Lula. E
aí não mudou os métodos do exercício da política.
Por que o PT se entregou a estes métodos?
Porque ficou usando ferramentas que já eram usadas.
Que tipo de ferramentas?
Do financiamento privado [para campanhas eleitorais] e aí acabou
reproduzindo metodologias. Talvez, porque nunca foi treinado para isto, deve
ter feito como naquela velha história: "Quem nunca comeu melado, quando
come, se lambuza". Quem é treinado erra menos, talvez, né?
O governo vai registrar dois anos seguidos de recessão. 
O senhor teme que esse quadro leve a um novo enfraquecimento da
presidente?
Não tenho bola de cristal. O governo vai tentar resgatar a economia na
questão da inflação, da geração de emprego, do crescimento maior ou de um
decréscimo menor. O problema da economia não é ter um momento ou dois
ruins, é ter horizonte.
O senhor acha que Joaquim Levy exagerou na dose?
Não quero personalizar, porque é óbvio que as coisas têm o arbítrio dela
[Dilma]. Mas não sou só eu, tem uma porção de gente que acha que foi
apagando o incêndio, e isso era uma obsessão, sem dizer para onde iríamos.
Não sei se foi exagerado, mas o momento é de modular.
Modular é suavizar o ajuste?
Modular com medidas que apontem para o crescimento. A meta é menos
importante que a credibilidade.
Nelson Barbosa é o melhor quadro para 2016, ano de retomada do
crescimento?
Não é retomada, é preparação para a retomada. Não acho que vamos retomar
o crescimento em 2016, mas temos que ter um ambiente mais salutar.
O PT emitiu nota pedindo mudanças na economia e criticando a
reforma da Previdência.
Este é o DNA do PT e não vai mudar. O PT não é necessariamente refém em
tudo do governo, está expressando um pouco o que os movimentos sociais
falam.
Qual será o papel do ex­presidente Lula neste período de
enfrentamento ao impeachment?
Ele quer que Dilma tenha sucesso. É óbvio que, quando ele vê que ela não está
com a popularidade que ele gostaria, fica angustiado. Mas ele nunca
pretendeu [interferir].

Classificação Indicativa: Livre

FacebookTwitterWhatsApp