Política

Proclamação da República: Por que ela é tão atual?

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"Dificilmente viveríamos novamente uma ditadura", afirma Iuri Vieira e ressalta a importância de conhecer sobre a proclamação da República no Brasil  |   Bnews - Divulgação Reprodução/Pixabay
Lorena Abreu

por Lorena Abreu

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Publicado em 15/11/2022, às 05h44


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No dia 15 de novembro de 1889 foi proclamada a República no Brasil. O ato foi motivado por uma série de insatisfações que giravam em torno do governo imperial, representado por D. Pedro II. Com a longevidade governista, as relações com a aristocracia, com a Igreja, com o Exército e com o povo, foram abaladas, tornando a permanência do Imperador no Brasil inviável. Havia ainda insatisfação entre os militares com salários e com a carreira, além de eles exigirem o direito de manifestar suas posições políticas (algo que tinha sido proibido pela monarquia).

O descontentamento entre elites emergentes com a sub-representação na política da monarquia fez com que grupos na sociedade começassem a exigir maior participação pela via eleitoral. A questão abolicionista também somou forças ao movimento republicano. Esses grupos se uniram em um golpe que derrubou a monarquia e expulsou a família real do Brasil.

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Iuri Vieira, professor de história (Instagram/@iurivieira88)

Iuri Vieira, professor de história explica que "a proclamação da República foi uma articulação entre os grupos elitistas, aristocráticos, do país e os militares, que se dissociaram do poder do Imperial. Ao contrário do que se imagina, o movimento não foi popular e não contou com a participação efetiva dos menos favorecidos. Nascia uma República, ainda distante de uma 'coisa pública', o que dificultaria a ação governista no início do processo."

O professor destaca a importância da proclamação no Brasil. "A proclamação da República está voltada para aquilo que o governo da época propôs. Na tentativa de construção de um sentimento cívico, vários aspectos da nossa história foram valorizados e muitos deles narrados em uma perspectiva hiperbólica. Havia uma necessidade de construir uma identificação entre o povo brasileiro e a história da sua terra. Entretanto, nos dias atuais é importante valorizar tal data, sobretudo porque fazemos parte de um povo que conhece pouco sobre sua história. Identificar as ações golpistas, as mobilizações existentes e as construções da época, são fundamentais para a compreensão da História. Comemorar o 15 de novembro serve para nos permitir uma memória e uma revisitação do período", ressalta Vieira.

Em tempos de bipolarização política e de "flertes" de alguns grupos da sociedade brasileira com atos da ditadura militar, Iuri Vieira pondera sobre uma volta do regime instituído no país entre 1 de abril de 1964 e 15 de março de 1985. "Dificilmente viveríamos novamente uma ditadura, sobretudo pela má impressão que o governo Bolsonaro levou para o mundo. Sem apoio estrangeiro, como aconteceu em 1964, dificilmente um outro golpe seria possível. A vitória de Lula foi comemorada em vários locais do mundo e isso não esteve relacionado com a tradicional dualidade entre direita e esquerda, mas a formação de um governo conciliatório, afastado do discurso de ódio e que rejeita a negligência social dos últimos anos, é algo que atrai parceiros no mundo", pontou ele. "Ainda que o desejo da intervenção militar seja forte no meio do grupo político derrotado nas urnas e os flertes golpistas existam, questionando as urnas, o processo eleitoral ou até o TSE [Tribunal Superior Eleitoral], boa parte da população brasileira entende que uma revisitação do passado seria algo impensado nesse momento", ressalta o professor.

Passados 133 anos da proclamação da República no Brasil, estimular os estudantes a conhecer a sua história não é uma tarefa fácil. "É um grande desafio. Na era da cultura de massas, da produção de fake news e de negacionismo, falar sobre história tornou-se uma missão delicada. Para nós professores e historiadores valorizar a ciência é evidenciar os fatos é, para muitos, um ato de doutrinação, o que dificulta o processo de construção de uma consciência crítica, explica Vieira.

Ele ainda destaca o papel dos professores no caminho do conhecimento histórico. "Nosso papel é alertar para os processos e mostrar aos jovens, sobretudo, o risco de repetirmos alguns dos momentos trevosos da nossa história. Assim foi a proclamação. Nasceu com uma promessa de abertura política, de efetivação da participação popular, mas foi articulada pelo exército, com apoio aristocrático e excluiu o povo", finalizou Iuri.

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