Política

Servidores da Caixa relatam perda de cargos por retaliação durante gestão do ex-presidente Pedro Guimarães

Marcos Corrêa/PR
Os relatos foram dados em entrevista ao jornal O Globo  |   Bnews - Divulgação Marcos Corrêa/PR

Publicado em 15/07/2022, às 19h56   Redação BNews


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Funcionários da Caixa Econômica Federal relatam que perderam cargos por retaliação sob a gestão do ex-presidente do banco público Pedro Guimarães, uma prática que, segundo especialistas, viola a impessoalidade da administração pública. Os relatos foram dados ao jornal O Globo.

O advogado do banco Sebastião Barza, perdeu sua função de consultor jurídico, em fevereiro de 2020, por ter vindo à tona o fato de ter se filiado ao PT em 1997, antes de entrar no banco. Ele ouviu que precisaria trabalhar em outro prédio para que ninguém corresse o risco de "topar com um esquerdista pelos corredores".

"O que me foi dito é que, em razão disso (da filiação), eu perderia minha função de consultor jurídico, porque não se admitiriam esquerdistas dentro da matriz. E que, para dar continuidade ao meu trabalho, teria que continuar em outro prédio, para que o presidente e as outras pessoas não topassem com esquerdistas nos corredores", disse Barza, que afirma nunca ter feito militância política dentro do banco e que se desfilou do partido.

De acordo com reportagem do jornal, após ser comunicado da perda de função, Barza voltou para a Bahia, seu estado de origem. "O que me foi dito é que as listas (com filiados ao PT) vinham do Palácio do Planalto e perpassavam todas as estatais. Uma lista de pessoas que não eram desejadas, e que eram distribuídas aos gestores para que tomassem as providências de retirada das funções", contou.

O advogado disse acreditar que o medo de retaliações fez com que não fossem formalizadas denúncias na época. "Esse medo coletivo, em uma fase em que o governo estava forte, foi o que determinou que as pessoas se calassem e não denunciassem. Nós intuímos que isso seria abafado, pela força do governo na época e pela tônica. E que isso poderia se voltar contra a gente. Agora que estourou, que o Pedro Guimarães caiu, as pessoas podem tomar um pouco mais de coragem".

No final do ano passado, em uma reunião, o ex-presidente do banco se revoltou contra uma regra que impediria sua participação em mais de dois conselhos. O impedimento o faria perder uma gratificação de R$ 100 mil por mês.

Uma das pessoas que participaram da elaboração da nova regra foi Eduardo Pereira, advogado da Caixa, que perdeu seu cargo logo em seguida. Procurado pela reportagem ele confirmou que, depois da reunião, foi avisado que foi removido da sua função de assessor da direção.

"Tenho desconforto em falar desse assunto. Mas efetivamente perdi minha função e a informação que me foi dada é que perdi a função por esse motivo".

"Ele (Loureiro) me relatou que essa situação teria desagradado o presidente e, em função disso, minha função estava sendo retirada, mas com a preservação do valor da minha função (salário)".

A mudança no estatuto em que trabalhou Pereira foi feita para seguir a Lei das Estatais, que proíbe a participação em mais de dois conselhos. Após a revelação do áudio, o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (MPTCU) pediu uma investigação sobre o acúmulo de cargos de Guimarães, que estava em 21 conselhos.

Por meio de nota a Caixa disse ao jornal O Globo, que "todas as informações serão encaminhadas para análise da Corregedoria do banco, bem como pela empresa independente a ser contratada pela nova gestão".

Já a defesa de Pedro Guimarães nega que ele tenha envolvimento na remoção das funções dos funcionários. "Pedro Guimarães nunca tomou conhecimento do ocorrido. Jamais praticou, estimulou ou autorizou qualquer ato que possa ser caracterizado como perseguição", disse José Luis Oliveira Lima, advogado de Guimarães, em nota.

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