Política

"Tenho medo do que vai acontecer": Primeiro catari a se assumir gay solta o verbo contra governo local

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Nasser Mohamed é a primeira pessoa catari a se assumir gay em público  |   Bnews - Divulgação Foto: Redes Sociais

Publicado em 07/12/2022, às 10h50   Vinícius Dias


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O Catar é um país com legislações crueis para pessoas LGBTQIA+. Há probições penais contra afetos em públicos e, mais ainda, para quem foge do padrão heteronormativo como Nasser Mohamed, médico de 35 anos que, segundo os registros disponíveis, é o primeiro catari a se autodeclarar gay em público na história.

A saída do armário não foi fácil. Só foi possível longe de sua terra natal e aconteceu nos Estados Unidos, onde mora há 11 anos. Em entrevista para o Globo Esporte, ele soltou o verbo contra a Fifa e o governo local, além de se mostrar receoso com o futuro do país após a Copa do Mundo que sedia.

Atualmente, Nasser mora em San Francisco e milita em defesa da comunidade LGBTQIA+. Na entrevista, ele teceu duras críticas contra o baixo comprometimento do futebol com a causa que defende.

"Desde que era mais jovem sabia que eu não me encaixava no país. Não era seguro. A comunidade LGBT do Catar ou ainda residente no Catar é perseguida mais severamente do que os visitantes. Até eu sair do Catar, mantive essa parte de mim escondida de todo mundo, incluindo da minha família, da qual sinto falta", contou.

Ele deixou o Catar em 2011 logo após terminar a faculdade. Pediu asilo nos EUA e teve o contato com a família cortado logo depois. "A perseguição à comunidade LGBT no Catar é mais do que apenas não te aceitarem. Eles acabam contigo", relata.

Segundo o médico, o Catar tenta usar a Copa do Mundo para vender uma imagem de si próprio que não existe. Ele também pontuou que ficou irritado com o pronunciamento do presidente da Fifa, Gianni Infantino, que alegou se sentir gay, mulher e trabalhador imigrante.

"Eu fiquei muito irritado, porque é tão desrespeitoso. Se ele tivesse alguma empatia pela vida dessas pessoas, as ouviria. Ouviria o que eu estou falando para vocês agora", disse à reportagem.

Ele diz que as pessoas LGBTQIA+ no Catar têm medo de serem encontradas tanto pelo governo quanto pela própria família ou compatriotas, que agridem minorias "para proteger sua 'reputação e honra'".

"Agentes do governo se infiltram tentando nos encontrar, entram em aplicativos de namoro, espionam empresas de telefone, investigam dados pessoais e perseguem os cataris que suspeitam ser LGBT. Existe um departamento ligado ao Ministério do Interior que faz isso", denunciou.

Segundo Nasser, as pessoas não são presas, senão sequestradas, espancadas e submetidas ao que chamam de "terapia da conversão".

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