Cidades

Com suor e lágrimas, moradores do Barro Branco tentam retomar vida após tragédia

Publicado em 02/05/2015, às 14h13   Tiago Di Araujo (twitter: @tiagodiaraujo)


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O cenário é completamente desastroso. Cinco dias após a tragédia na localidade do Barro Branco, na Avenida San Martin, que fez  11 vítimas fatais, o que se vê no local na manhã deste sábado (2), é uma cena de drama composta por companheirismo e solidariedade. Em meio ao “mundo” de lama, as retroescavadeiras trabalham sem parar, mas parecem não fazer nenhuma diferença pelo tanto de barro que tomou conta das casas que ali estavam.

Mesmo assim, o trabalho continua, iniciando todos os dias pontualmente às 7h e praticamente sem hora para terminar, chegando até às 23h. Ao redor das máquinas, outras casas que por pouco também não fizeram parte da tragédia e tiveram que ser interditadas por segurança. Quem tem parentes por perto continuou na região, quem não tem saiu do local e alguns estão em um hotel próximo, que segundo alguns moradores, foi disponibilizado pela Prefeitura.

Uma dessas casas foi da moradora Ivonete Barbosa, de 41 anos, e que vive no local desde 1999, mas teve que deixar o imóvel. “Não tira foto minha desse jeito”, logo ressaltou a vaidosa senhora, pois estava suja e desarrumada por estar ajudando na organização das doações recebidas. “Eu estou ajudando a organizar as cestas e materiais que está chegando”, contou e enfatizou. “Muita ajuda”. Com 16 anos de moradia na localidade, Dona Ivonete conhecia todas as vítimas do deslizamento. “Todos meus vizinhos que conviveram comigo”, disse ao citar alguns nomes, enquanto olhava o enorme barranco, fumava um cigarro e os olhos enchiam de lágrimas. Porém, Ivonete não perde a esperança pela melhoria e ressalta sua fé em Deus e no prefeito ACM Neto. “Eu tenho certeza que ele (ACM Neto) vai nos ajudar. Ele esteve aqui, viu de perto e não vai deixar a gente nessa situação”, afirmou. Agora, ela conta com a solidariedade da vizinhança, já que está morando em uma das casas da região, um pouco mais afastada da tragédia, enquanto espera a liberação do seu imóvel, quase engolido pelo barro.

E por falar em solidariedade, as ajudas chegam a todo instante e em todo tempo. Durante o período que a nossa reportagem esteve presente no local, quatro carros lotado de doações, como roupas, alimentos e até eletrodomésticos, chegaram vindos do bairro da Liberdade. A iniciativa foi do educador físico, Manoel Santana, com a ajuda do amigo Marcos Quadros. “Comecei a pedir ajuda aos amigos pelo WhatsApp e também na academia que ensino. Organizei com o Marcos e aí conseguimos ajuda também da Faculdade onde estudamos”, detalhou o professor ao ressaltar que a campanha de arrecadação vai continuar. “Agora não é o momento de procurar culpados e sim de ajudar, ou pelo menos tentar ajudar. É o máximo que podemos fazer”, complementou Marcos.

A recepção das doações quem faz é José Luiz, morador do local há 30 anos. Em meio a toda correria para atender aqueles que chegam para ajudar, ele fala qual a maior necessidade no momento. “Recebemos muitas doações, mas estamos precisando agora de alimentos e produtos de limpeza”, disse após ser interrompido por diversas vezes por doadores e moradores. O pouco de alimento que tem é compartilhado entre os que moram no local e os que trabalham por lá.

Porém, ao mesmo tempo em que agradece cada apoio, Seu Zé, como é carinhosamente chamado pelos vizinhos, lamenta os furtos das doações ocorridos na última noite. “Infelizmente, estamos sem segurança e algumas coisas estão sumindo. É difícil de acreditar, mas é verdade, isso que está acontecendo”, contou nitidamente abatido.  Enquanto fala, Seu Zé ainda tem que organizar o trânsito na estreita Avenida Bolera, dos carros que chegam com doações e as caçambas que retiram o barro do local da tragédia, já que os militares do Exército chegaram no fim da manhã.

E após uma semana difícil, mesmo sem conseguir imaginar o fim de todo sufoco, para Seu Zé resta apenas acreditar na melhoria. “Acho que com tudo isso que aconteceu, pelo menos alguma iniciativa vai ser tomada para melhorar. Nem que seja só para melhorar 50% da nossa situação”, projetou ao deixar uma frase no ar. “Eu acredito”. 

Classificação Indicativa: Livre

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