Fora do circuito comercial do Carnaval, Netinho cospe no prato que comeu
Publicado em 15/03/2013, às 09h04 Redação Bocão News (@bocaonews)
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Direito de imagem, fim dos DJs nos camarotes e nada de abadá. Esta foi a ideia pregada pelo cantor Netinho, na tarde de ontem, em entevista concedida para a rádio Transamérica. Segundo o artista, quando questionado sobre o Carnaval da Bahia, ele foi taxatixo e disse que melhor mesmo seria se não existissem mais abadás e que todo artista tivesse direito de imagem.
Além disso, o cantor que já fez sucesso na década de 90 disse não aos DJs de camarote. Para ele, seria melhor que não tivesse música eletrônica pois isto descaracteriza a folia momesca. Até aí, tudo bem. Mas, vale ressaltar que em anos de outrora Netinho fazia parte de toda esta estrutura e, sem dúvida, muita coisa mudou. Mas, o abadá - tansformação da antiga mortalha, continua, os DJs em camarotes não são novidade e direito de imagem? Como questionar o mote da maior festa popular do planeta?
Buscar as câmeras, sorrir para elas, desfilar, aparecer, estrelar, são características que compõem e alimentam o Carnaval desde a época em que a fobica deixou de ser um caminhão colorido para se transformar - após a câmera bater - no precursor do trio elétrico.
As mudanças sofridas no Carnaval da Bahia são notórias e muitas vezes até, pertinentemente criticadas, como os aluguéis na fila dos blocos - antes denunciadas por outro grande ícone do axé, Ricardo Chaves.
É fato que o Carnaval se tornou comercial e isso não volta atrás. Fato também que vale levantar a bandeira da essência que une o povo e faz o pipoca pular atrás do trio. Mas, o que está aí não se desfaz. Se adapta aqui, ali.
Netinho, não se adaptou. No ano passado, quando se mudou para o Rio de Janeiro e levou consigo grandes sucessos como 'Mila' do Carnaval daqui - que o fez brilhar no bloco Beijo de abadá e que desfilava na frente de camarotes com DJs com toda imagem exibida para o Brasil e para o mundo sem direito algum, ele diz não a algumas coisas. Isso, com toda autoridade garantida de quem já fez muito folião sair do chão.
E por não se adaptar, alguns comentários do artista foram interpretados de forma negativa. Em seu perfil no Facebook, às vésperas do Carnaval baiano, Netinho que nos últimos anos - vinha tirando dinheiro do próprio bolso para sair na festa, agradeceu o reconhecimento do público carioca. Este ano ele arrastou os Blocos 'Chá' e 'Se não vai me dar, me empresta', na Praia de Ipanema, sem cordas.
Confira o relato do cantor baiano na época:
"A tarde de ontem foi ímpar pra mim. Como bom baiano e como um dos representantes do Axé Music, eu nunca pensei que iria me impressionar com um outro carnaval popular que não o de Salvador. O Rio de Janeiro ontem me surpreendeu em tudo. Me apresentou uma festa com elementos que eu achava que não mais existiam. Este Carnaval de rua do Rio é feito realmente para o povo do Rio de Janeiro. Sem cordas, sem abadás, sem qualquer tipo de segregação. Sem empurra empurra, sem brigas, sem confusão. Com muita organização e estrutura. Vi ontem aqui na Praia de Ipanema algo que já não via há muitos anos no meu Carnaval: as pessoas foram para a rua fantasiadas. Muita gente foi assim. Eu vi a alegoria traduzindo a alegria dessas pessoas, os verdadeiros donos do espaço público onde este grande carnaval acontece. Eu vi as pessoas gritarem e se empolgarem ao ouvirem os primeiros acordes das minhas músicas e das músicas de axé. Eu vi o respeito com o artista, com a festa e com a cidade. "Ontem eu sonhei acordado. Parabéns povo do Rio, Prefeitura do Rio, RioTur e todos os órgaõs públicos envolvidos na festa. E para todos os meus fãs e pessoas que se manifestaram em relação à minha ausência no Carnaval de Salvador este ano, eu digo que eu também lamento e gostaria de estar todos os anos também em Salvador. Mas digo também que eu poderia estar lamentando mais e poderia continuar praticamente pagando para desfilar em Salvador no Carnaval, mas desisti. Há muito eu não reconheço mais o Carnaval de Salvador como o conheci. Um Carnaval que deveria ser feito pelo e PARA o povo, donos das ruas, é hoje uma festa que não tem mais a cara da Bahia. Um ótimo Carnaval para todos, onde quer que vocês estejam. Muita alegria, fantasia, respeito ao próximo e... juízo! rsssss..".
Contudo, as transformações acontecem e para uns que ontem foram sucesso e referência no Carnaval da Bahia - sem alvenaria, o barraco cai.
Nota publicada originalmente às 17h34 do dia 14/03
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