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Ferry: dono da Internacional Marítima enrolado em escândalo de Caixa 2

Imagem Ferry: dono da Internacional Marítima enrolado em escândalo de Caixa 2
Luiz Carlos Cantanhede é amigo de Jorge Murad, acusado de desviar R$ 15 milhões durante campanha de Roseana Sarney  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 14/03/2013, às 06h40   Caroline Gois (twitter: @goiscarol)


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Desvios de dinheiro, escândalos, denúncias e milhões. Estes são os ingredientes que fazem parte do passado do diretor presidente da Internacional Marítima, Luiz Carlos Cantanhede Fernandes. A empresa de São Luis do Maranhão, que nasceu em 1988, está prestes a iniciar os serviços na capital baiana, onde - por 180 dias, em caráter emergencial - irá assumir o sistema Ferry-boat.

Na manhã desta quarta-feira (13), o vice-governador e secretário de Infraestrutura do Estado da Bahia, Otto Alencar, anunciou o contrato com a empresa, cujo presidente Cantanhede - que estava em uma das pontas da mesa do auditório da Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comunicações do Estado (Agerba), permaneceu calado a maior parte do tempo, respondendo apenas a uma pergunta, nada conveniente para ele, mas, ainda não tão complicada quanto as denúncias que o site Bocão News resgatou através de reportagens feitas pela Revista Veja, em 2002.

Nestas matérias, é possível acompanhar o passo a passo de uma investigação que liga o presidente da Internacional Marítima a uma rede de escândalos atrelada ao Jorge Murad, marido da atual governadora Roseana Sarney, do Maranhão, na época senadora.


A denúncia da Veja

Nos escritórios das empresas de Jorge Murad em São Luís, os agentes federais encontraram duas portas de armário trancadas. Foram informados de que ali havia dois cofres e requisitaram as chaves e os segredos. Num deles, encontraram pilhas de documentos. No outro, de 1 metro de altura, acharam ouro em forma de papel: dezenas de maços de dinheiro e um envelope pardo, onde havia mais dinheiro, R$ 150 mil. Por quase duas horas, dois delegados e seis agentes da Polícia Federal se ocuparam em contar a dinheirama toda, nota por nota. No fim, somaram 26.800 notas de R$ 50, o que totalizava R$ 1,34 milhão. A maioria dos maços estava amarrada com alças bancárias. Encerrada a apreensão da grana, emergiram duas questões elementares: de onde veio o dinheiro e para onde ia.

Na época, um advogado da família, Vinícius César de Berredo Martins, declarou que o dinheiro não era da Lunus, empresa em que Roseana e Murad são sócios, mas de uma companhia que funciona no mesmo local, a Pousada dos Lençóis Empreendimentos Turísticos, da qual apenas Murad é sócio. E que essa empresa guardava a dinheirama no caixa para comprar madeira com a qual ergueria 100 chalés num complexo turístico na bela região dos Lençóis Maranhenses – o Parque dos Lençóis Eco Resort. Diante de versões tão díspares, escalou-se o sócio-gerente da Pousada dos Lençóis, Luíz Carlos Cantanhede Fernandes, que se encarregaria de dar todas as explicações. Luís Carlos Cantanhede Fernandes, em conversa com a Veja, disse que tanto a origem quanto o destino do dinheiro estão explicados.


Há algum tempo, Luís Carlos Cantanhede Fernandes, dono de uma agência de viagens, convidou o amigo Jorge Murad para tocarem juntos um empreendimento de exploração turística do litoral do Estado. Fundaram a Pousada dos Lençóis, que depois também recebeu como sócio o engenheiro Severino Cabral. O projeto, inicialmente, previa investimento de R$ 5 milhões, mas estudos preliminares indicavam que era dinheiro demais para colocar num lugar de difícil acesso, onde não havia nem estrada asfaltada. Como num consórcio de amigos, tudo começou a se resolver. O governo do Maranhão construiu a estrada ligando São Luís a Barreirinhas, município onde se localizará o resort. A parte final da estrada, que viabilizou o projeto e valorizou a região, foi feita pela construtora Sucesso, do empresário piauiense João Claudino. Quando a Polícia Federal bateu na Lunus, encontrou R$ 150 mil, com uma tarja identificando que era dinheiro da Sucesso. Murad, agora, diz que se tratava de recursos de campanha. Ou seja: um projeto privado se viabilizou, o Estado pagou a obra, a obra foi feita por um amigo – e o amigo pingou dinheiro no caixa eleitoral.

O que aconteceu

Em 2003, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região determinou a devolução dos bens apreendidos da Lunus, de propriedade de Murad, incluindo o R$ 1,34 milhão. Em seu relatório, o juiz Mário César Ribeiro concluiu não haver provas da relação entre a Lunus e as empresas responsáveis pelos desvios na Sudam.

A posição do Governo do Estado da Bahia

A reportagem do Bocão News procurou o vice-governador e secretário de Infraestrutura, Otto Alencar, responsável pela operação Ferry Boat - Internacional Marítima, para falar sobre estas denúncias que o presidente da empresa, o empresário Cantanhede carrega. "Não tenho acesso a estes dados. Se houve algo lá atrás só ele
para responder. Não me importo com isso. Só sei que o trabalho da Internacional Marítima é muito bom e é uma empresa indônea", afirmou.

Ainda de acordo com Alencar - cujas denúncias e ação do MP lhe foram passados pela equipe do Bocão News, ele preferiu não comentar e preferiu se atentar ao fato de que "a Internacional Marítima opera a maior travessia hidroviária do país. Isso é que importa e confio nos levantamentos que fizemos com relação à qualidade da prestação de serviços da empresa, que é muito boa. Ele tem 38 embarcações em São Paulo", disse.

O site Bocão News também ligou para o Luiz Carlos Cantanhede afim de obter esclarecimentos sobre as denúncias divulgadas pela Revista Veja, mas ele não atendeu ao telefone.


Outra denúncia

Segundo informações contidas no Portal da Transparência do Governo, os nove caminhões do tipo carreta-baú adquiridos por Roseana envolveu e trouxe de volta para os esquemas da família o velho conhecido empresário Luís Carlos Cantanhede Fernandes (dono da empresa Atlântica Serviços Gerais), ex-sócio e grande amigo de Jorge Murad, marido de Roseana. Luíz Carlos teria sido contemplado com um mega contrato com o governo do Estado para a execução do Viva Cidadão que lhe rendeu, até agora, a soma de R$ 105,174 mil.




Cantanhede, à direita, durante coletiva do acordo entre a Internacional Marítima e o Governo do Estado



A Internacional Marítima

No Maranhão, a Internacional Marítima não opera por concessão. Ela tem apenas autorização do governo para realizar a travessia entre a capital, São Luís, e a cidade de Alcântara, junto com outra empresa, a Servi-Porto.

Em São Luís, a travessia com a Internacional Marítima custa R$ 8 para pedestres, R$ 60 para carros pequenos e R$ 75 para caminhonetes.


Com informações da Revista Veja
Imagens da publicação da Veja

Publicada no dia 13 de março de 2013, às 12h50


Classificação Indicativa: Livre

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