Salvador

Reforma na Praça Castro Alves revela antiga estrutura do Teatro São João; historiador defende suspensão de obra

Reprodução/Redes Sociais
Teatro inaugurado em 1823, com capacidade para 2 mil pessoas, foi destruído por um incêndio em 1923, que nunca teve explicações  |   Bnews - Divulgação Reprodução/Redes Sociais

Publicado em 24/12/2019, às 13h06   Luiz Felipe Fernandez


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Parte da antiga estrutura do Teatro São João, - um dos maiores e mais representativos do século XIX e XX - situado na atual Praça Castro Alves, foi encontrada durante uma reforma no local. Frequentado pela alta sociedade baiana da época, o teatro foi inaugurado em 1812 e viu passar pelos seus palcos e poltronas figuras célebres.

O nome da praça, inclusive, teria sido motivado pela relação íntima do escritor Castro Alves com o São João. Em 1923, em um dia de temporal, um incêndio não resolvido até hoje, destruiu o teatro.

Em contato com o BNews, o historiador Jaime Nascimento reforçou a importância da descoberta, que circula nas redes sociais deste esta segunda-feira (23). Ele lembra que o teatro, erguido no governo de Conde dos Arcos, abrigava mais de 2 mil pessoas - maior do que a capacidade do salão principal do Teatro Castro Alves.

Segundo Jaime, o espaço ficou abandonado por anos, até que no governo de Juracy Magalhães (1931-1937) foi construída por cima dos escombros do Teatro São João, a sede da Secretaria da Agricultura, Viação, Indústria e Obras Públicas. Jaime alerta para a urgente necessidade de intervenção do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), para que a Prefeitura de Salvador suspenda imediatamente a obra e discuta "coletivamente" o que fazer com a estrutura encontrada.

"Ele tinha uma capacidade para mais de 2 mil pessoas, em 1812, o primeiro prédio concebido e construído já com o objetivo de ser um teatro. Hoje, a sala principal do TCA  espaço para 1500 pessoas. Você consegue conceber isso? É essa estrutura, de um teatro monumental, que foram encontrados naã vestígios, mas uma estrutura grande. Agora é o Iphan imediatamente parar a obra, colocar arqueólogos, historiadores ali, pesquisando, verificando qual é a estrutura que ainda existe e pensar coletivamente, qual a melhor destinação. Remover dali, não vai", argumenta.

Carlos Gomes, considerado o maior compositor de ópera brasileiro e que dá o nome à importante rua do Centro Histórico, foi mais uma das personalidades importantes para o Teatro São João. Foi lá que o autor do "Hino a Camões" apresentou pela primeira vez em solo nacional, a premiada ópera "O Guarani", que tinha sido um sucesso na Itália.

Para o historiador baiano, a estrutura do teatro ficou coberta por anos em virtude de uma "cultura infeliz de soterrar as coisas". Ele argumenta que é comum que os governos encubram a história escrita pelos seus antecessores. 

"É uma cultura infeliz de soterrar as coisas. É o resultado da forma infame como as obras públicas sempre foram feitas aqui, com governantes sempre destruindo o que foi feito pelo anterior", salienta Jaime, que explica que possivelmente aquela parte restante do teatro ficou soterrada pelos sucessivos aterros no local, que era bastante íngrime.

Procurada pelo BNews, a assessoria do Iphan, por outro lado, informou que não se trata de uma "descoberta", já que era previsto - por meio de estudo arqueológico - que fosse encontrada alguma parte do teatro naquele local.  O órgão salientou que não há a necessidade de suspender a obra, e que será discutido com a Prefeitura de Salvador quais serão os próximos passos.

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