Salvador

As incertezas de um verão para quem depende da praia para sobreviver: "a gente está matando um leão por dia"

Dinaldo Silva/BNews
Reportagem do BNews conversou com vendedores das praias de Jaguaribe, Piatã e Itapuã  |   Bnews - Divulgação Dinaldo Silva/BNews

Publicado em 22/12/2020, às 11h02   Diego Vieira


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O sol forte e o calor deram boas-vindas ao verão que iniciou oficialmente nesta segunda-feira (21). Apesar das características típicas, a alta estação chegou repleta de incertezas para os vendedores que trabalham nas praias de Salvador. 

Prejudicados com a pandemia do novo coronavírus, os trabalhadores chegaram a ficar sete meses em casa devido as restrições da prefeitura que proibiu o acesso às praias para evitar ainda mais a transmissão do vírus. Em setembro, o acesso foi liberado pelo prefeito ACM Neto (DEM) desde que as pessoas sigam algumas recomendações como o uso de máscara e o distanciamento social. De lá pra cá, segundo os vendedores, as vendas caíram bastante mesmo diante das cenas de aglomerações registradas nos últimos meses na orla da cidade. 

Barraqueiro há mais de 20 anos, Joílson Gonçalves chegou a colocar 12 das 20 mesas permitidas espalhadas nas areias da praia de Jaguaribe neste primeiro dia de verão, entretanto apenas uma delas estava ocupada no momento em que a reportagem chegou ao local. 

"Nunca imaginei iniciar um verão dessa maneira. Mesmo sendo segunda-feira, se não fosse a pandemia, isso aqui estaria lotado como sempre foi nos verões passados. Fiquei oito meses em casa vivendo do auxílio da prefeitura de R$ 270", afirma o vendedor que estima um prejuízo de cerca de R$ 20 mil desde o início da pandemia.

Além da perda financeira, ele precisou demitir dez funcionários e, atualmente, apenas dois trabalham na barraca que serve bebidas e petiscos. "Eram 12 funcionários e hoje só tenho dois, ainda assim muitas vezes fica um olhando pra cara do outro porque não tem nada pra fazer. Eu espero que a prefeito não feche novamente", diz. 

A pouco mais de um quilômetro, na praia de Piatã, o vendedor de drinques, Marcos Antônio, partilha do mesmo sentimento de Joílson. À reportagem, ele contou que precisou “se virar” para manter o sustento durante o período em que ficou em casa, já que não foi beneficiado pelo auxílio emergencial concedido pelo governo federal.

“Nunca imaginava passar por isso, mas cada ano as coisas vão mudando. No ano passado foi o óleo e agora essa pandemia. Fiquei sete meses em casa correndo atrás do pão de cada dia. O brasileiro sobrevive de toda forma e foi isso que eu fiz. Nem auxílio eu recebi. Se acontecer de fechar de novo vai ser difícil sobreviver”, declarou Marcos que arrumava o seu posto de trabalho enquanto conversava com a reportagem.

Quem também teme por novas restrições é a vendedora Joceline Alves, que trabalha há seis anos na praia de Itapuã. Segundo ela, o lucro já não era o mesmo se comparado ao ano de 2017, no entanto, a pandemia contribuiu ainda mais para a queda nas vendas.  

“Estamos vivendo dias muito difíceis. A gente está matando um leão por dia como diz o ditado. De dois anos pra cá o movimento na praia caiu muito e agora com essa pandemia piorou ainda mais. A esperança é que todos possam lucrar mais porque dependemos disso aqui. Agora é chamar por Deus e esperar por dias melhores porque o que mantém a gente é a fé”, disse a profissional que questionou ainda a diferença de protocolos da prefeitura.

“Os shoppings estão ai lotados, já na praia tem dias que não podemos trabalhar devido as regras da prefeitura. Será que o vírus só tem na praia?”, questionou.

Reabertura das praias

Estão autorizadas a funcionar, de terça-feira a sábado (exceto feriados) e sem restrição de horário, as praias do Porto da Barra, São Tomé de Paripe, Tubarão, Ribeira, Amaralina e Itapuã. Ou seja, essas praias têm acesso restrito apenas às segundas-feiras, domingos e feriados. As demais praias de Salvador podem funcionar de segunda a sábado (exceto feriados), sem restrição de horário.

Em todas as praias, deve ser respeitado o distanciamento de 1,5 metro entre as pessoas, durante toda a permanência, e o uso da máscara é obrigatório, até mesmo durante a prática de atividades físicas, com exceção das aquáticas, momento em que o distanciamento deverá ser de 2m.

Classificação Indicativa: Livre

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