Salvador

Salvador registra baixa de 58% na arrecadação de ISS; prejuízo é de quase R$ 3,5 milhões

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Percentual foi definido em comparação ao mesmo período de 2020  |   Bnews - Divulgação BNews

Publicado em 24/04/2021, às 16h39   Beatriz Araújo


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Um dos setores mais afetados pela pandemia da Covid-19 em Salvador é o hoteleiro. Empresários do ramo têm lidado com as dificuldades da crise econômica decorrente da doença que obrigou hotéis a fecharem suas portas por pelo menos cinco meses no último ano. Sem hóspedes, obviamente, não foi possível contribuir com a arrecadação da capital baiana, fato que refletiu diretamente na redução do Imposto Sobre Serviço (ISS), que em março de 2021 foi 58% menor que no mesmo período do ano anterior, segundo dados divulgados pela Secretaria Municipal da Fazenda (Sefaz). 

De acordo com o prefeito Bruno Reis (DEM), o rombo no orçamento do município já ultrapassou a casa dos R$ 400 milhões apenas em 2021. O prejuízo é tão grande quanto para os segmentos do turismo e hospedagem, ramos que melhor contribuem para a arrecadação do ISS da capital baiana. Em janeiro e fevereiro deste ano o percentual de redução dos valores adquiridos com os impostos foi de 63%, já março chegou ao fim com a queda de 58% em comparação ao mesmo período do ano passado.

Ainda segundo os dados divulgados pela Sefaz Salvador, no primeiro trimestre de 2020 o município arrecadou R$ 5,4 milhões, já no mesmo período de 2021 o faturamento foi de apenas R$ 1,9 milhão, em decorrência das medidas restritivas estabelecidas nos decretos municipais e estaduais que visam conter a propagação da Covid 19. 

Prejuízos para os donos de hotéis

Para falar sobre os impactos causados ao setor hoteleiro, ninguém melhor que os empresários que estão lidando diariamente com as dificuldades da ausência de turistas na cidade. Proprietário do Monte Pascoal Praia Hotel, localizado no bairro da Barra, em Salvador, o empresário Glicério Lemos informou, em entrevista ao BNews, na tarde desta sexta-feira (23), que realmente existe uma perda muito grande no faturamento por parte desses empreendimentos, em função do coronavírus.

“No ano passado ficamos sete meses fechados e isso realmente fez uma diferença muito grande pra gente e, consequentemente, a prefeitura vai arrecadar menos. Hoje a ocupação [de hotéis] está em torno de 15% e é muito baixa. Os hotéis estão tendo um prejuízo muito grande e isso vai refletir também na arrecadação. É um efeito cascata provocado pela pandemia”. 

Quem também sentiu os dramas financeiros por causa da pandemia foi o empresário Júlio Rangel, proprietário dos hotéis Alah Mar e Salvador Mar, localizados nos bairros do Costa Azul e Armação, respectivamente. 

“Para se ter ideia, 22 hotéis foram fechados desde março do ano passado. A prefeitura ainda está tentando fazer alguma coisa, mas muito tímida. Fez algum benefício, divulgou uma certidão. O pior de tudo foi o estado, que nem quis saber do setor. O estado nem parece que tem secretário de Turismo, ele me parece que nem em Salvador mora”, afirmou em entrevista ao BNews

“Nós temos dois hotéis, o Alah Mar e o Salvador Mar. A queda do ISS para gente foi 80% porque nós levamos, basicamente, um hotel cinco meses fechado e o outro seis meses. Só abrimos porque é na frente da praia e o salitre estava acabando com o hotel”, acrescentou. 

Ciente dos dados divulgados pela Sefaz Salvador acerca da redução no ISS do turismo e hospedagem, o atual secretário municipal de Cultura e Turismo, Fábio Mota, disse já ter entrado em contato com o prefeito Bruno Reis para tratar sobre assuntos de interesse do setor hoteleiro da cidade. 

“Tivemos uma reunião na segunda-feira dessa semana com o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis da Bahia (ABIH-BA) e os filiados e nessa reunião foi debatida essa situação. Inclusive, nós temos um projeto chamado ‘Revitalizar’, que permite desconto sobre o IPTU para hotéis que façam reformas e que façam melhorias no setor hoteleiro da cidade. Foi nos pedido por eles a extensão desse projeto que vai até 2022, para que possa ir até 2025 e pediram também, em cima desses dados, uma maior redução de IPTU para o setor”, iniciou. 

“Nós recebemos isso, vamos sentar com o prefeito Bruno Reis, que já tem dito que nos próximos dias lançará algumas ações especificamente para o setor de turismo de uma maneira geral e isso está no nosso radar e no nosso debate para ver de que forma a gente pode ajudar”, afirmou o secretário. 

Estratégias da Secult

De acordo com Fábio Mota, a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult) vem estudando e colocando em prática formas de conter os impactos aos hotéis da cidade. 

“Nós temos uma outra estratégia que é o trabalho nas redes sociais, mostrando a cidade, tudo isso para o fortalecimento do turismo interno. Nós estamos fazendo todas as ações e campanhas para que a gente possa atrair. Primeiro para o baiano conhecer a cidade, tem muitos e muitos baianos de outros municípios que não conhecem a nova Salvador, que foi transformada nos últimos anos, então nós estamos trabalhando forte nesse sentido e também para que o Nordeste possa vir conhecer Salvador”, explicou. 

“Os números [da Covid-19] estão abaixando, graças a Deus a taxa de ocupação de leitos de UTI está diminuindo e nessa linha a gente vai fortalecer a estratégia e incentivar o turismo interno para o baiano e para o nordestino, para viagens curtas para alimentar os nossos hotéis”, ressaltou o secretário. 

Mota afirmou ainda que os indicies de redução na arrecadação do ISS são bem maiores do que o imaginado, mas alertou para a retomada das atividades. “O que a gente tem que estar pronto é para a estratégia da volta porque vamos ter aí uma demanda reprimida de um, ou dois anos quase, de pessoas sem fazer turismo”. 

“A gente tem que estar com a cidade preparada para isso. Do ponto de vista da estrutura, de receptivo, tudo tem que estar muito bem preparado”, emendou. 

Apesar de o secretário ter afirmado que a Secult tem prestado apoio ao setor hoteleiro, o empresário Júlio Rangel afirma que a gestão municipal agiu com desdém diante da situação enfrentada pelo ramo. “Como a gente só tem esse patrimônio, a gente resolveu abrir, mas com bastante dificuldade, devendo muito a fornecedor, devendo salário, passando coisa que eu nunca imaginava e sem ajuda nenhuma do governo e nem da prefeitura”, elencou.

“Ninguém procurou saber, ninguém ligou. Eles só gostam de divulgar dados quando está em alta, tipo Réveillon ou Carnaval. É a única coisa que eles fazem fora a pandemia. Agora eles não tiveram nem coragem porque não teve nem Carnaval e nem Réveillon. Mas a preocupação deles é só nessa época que a ocupação é 100% e esquecem o ano todo. Então o setor está bastante fraco”, desabafou. 

O empresário ainda disparou críticas ao presidente da Associação Brasileira Associação Brasileira da Indústria de Hotéis da Bahia (ABIH-BA), Luciano Lopes, que, segundo ele, só quer cuidar dos grandes hotéis. “O presidente esquece dos hotéis médios e pequenos, como quer fazer política, média, com o governador e com o prefeito”.

A reportagem também ouviu o presidente da ABIH-BA sobre como se deu a baixa arrecadação do ISS registrada no mês de março. “Essa questão da baixa arrecadação do ISS é algo que já estava previsto porque os hotéis em março, com o início da segunda onda da contaminação, o fluxo de turistas na cidade reduziu bastante com relação ao ano de 2019 e 2020”, informou. 

“Não é um movimento específico do mês de março. Em outros meses também a arrecadação já foi menor porque os hotéis realmente tiveram poucos turistas hospedados na cidade, então a atividade hoteleira reduziu bastante seu faturamento. A taxa de ocupação que nós divulgamos no mês anterior já reflete claramente essa situação. Comparando a taxa de ocupação de março desse ano com março do ano passado, já se vê uma redução bastante significativa”, acrescentou. 

Ainda segundo o presidente da ABIH-BA, como o ISS é um tributo que incide diretamente sobre o faturamento dos hotéis, diante da ausência de faturamento, a redução na arrecadação já era prevista e deve acontecer também nos meses de abril e maio deste ano. 

“Para se ter uma ideia, no ano passado a ocupação foi de 41%, esse ano a ocupação foi de 20%, foi metade. Nesse mês de abril agora já vai ter uma ocupação muito baixa também, muito parecida com a do ano passado, que já foi muito ruim. Realmente a situação é muito difícil. É importante destacar que a gente está aguardando medidas do governo municipal, estadual e federal para socorrer os hotéis neste momento difícil que a atividade vem passando”, aponta o presidente da associação. 

Ao contrário do que foi afirmado pelo empresário Júlio Rangel, o presidente da ABIH-BA garantiu que a Secult juntamente com a prefeitura de Salvador, prestaram apoio ao setor hoteleiro. 

“Eles apresentaram no ano passado um plano de marketing voltado a essa recuperação”, conta. No entanto, Luciano reconhece que com a pandemia a situação fica muito agravada.

“É difícil você trazer muitos clientes para cidade, no estado em que a gente está, com a cidade com praias fechadas e com restrições de horários. Tudo isso é um ambiente muito difícil para você manter um hóspede na cidade na situação atual que está”, concluiu.

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