Salvador

Em busca de reconhecimento, campanha quer mudar nome da Avenida Adhemar de Barros para Milton Santos

Claudio Rossi/Divulgação
Bnews - Divulgação Claudio Rossi/Divulgação

Publicado em 13/10/2021, às 15h46   Pedro Vilas Boas


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Dar espaço a um homem negro, baiano e respeitado internacionalmente, em substituição a um homem branco, que foi governador de São Paulo e não tem relação direta com Salvador, a cidade mais negra fora da África. Esse é o objetivo da jornalista Cristiane Gurgel, que lidera uma campanha para que a Avenida Adhemar de Barros passe a se chamar Milton Santos.

"Não tem como ser contra essa mudança. Adhemar de Barros é uma figura totalmente dissociada da nossa cidade, não tem nada que justifique uma avenida em Salvador com nome de governador de São Paulo", defende Gurgel, em entrevista ao BNews.

Em março deste ano, o vereador Augusto Vasconcelos (PCdoB) apresentou um projeto na Câmara de Salvador para a mudança do nome ser feita. A proposta foi rejeitada pelo presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), vereador Alexandre Aleluia (DEM). O parlamentar bolsonarista argumentou que o projeto esbarra na lei municipal 3.073/1979, que prevê a manutenção do nome dos logradouros cuja "tradição já consagrou", exceto em caso de "duplicatas ou multiplicata" das ruas. Vasconcelos criticou o parecer e recorreu.

No mês passado, a ideia ganhou mais força. A campanha liderada pela jornalista lançou uma petição on-line endereçada ao presidente da Câmara, Geraldo Júnior (MDB), pedindo o reconhecimento ao geógrafo, intelectual e escritor baiano. 

“A avenida que passa pela Ufba deveria homenagear alguém que tem uma ligação forte com a nossa história e que é uma referência intelectual em nível internacional, que é Milton Santos, reconhecidamente um dos maiores geógrafos da humanidade e que foi professor da universidade”, justificou o vereador, no projeto de lei.

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Atualmente, a petição on-line conta com mais de cinco mil assinaturas. "Estou bem esperançosa. Temos conseguido um engajamento grande. É uma coisa absurda um intelectual como Milton não ter reconhecimento em Salvador", diz Gurgel.

A reportagem do BNews entrou em contato com a assessoria do vereador Geraldo Júnior, mas não obteve um posicionamento até a publicação desta matéria.

Apoios

A campanha pela mudança de nome da avenida tem angariado apoios relevantes no campo da educação. O reitor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), instituição da qual Milton Santos foi aluno e professor, gravou um depoimento defendendo a homenagem.

"Grande geógrafo, cuja trajetória se associa a nossa universidade e é inspiradora para nossas pesquisas. Queremos, sim, que a avenida onde está nosso campus de Ondina se chame Avenida Milton Santos", diz João Carlos Salles no vídeo.

A historiadora e antropóloga Lília Schwarcz é outra apoiadora da campanha. A escritora também gravou um vídeo em defesa da homenagem. "Milton Santos foi um dos maiores intelectuais do século XX, tem um papel no ativismo e na política muito forte. Precisamos de nomes de ruas que nos lotem de orgulho", defendeu.

Quem foi Milton Santos

Milton Santos nasceu em Brotas de Macaúbas, na Chapada Diamantina, em 1926. Ele se formou em Direito na Ufba em 1948, mas se destacou nas pesquisas sobre Geografia, área em que se tornou doutor pela Universidade de Stransbourg (França) em 1958.

Durante o golpe de 1964, Milton Santos iniciou uma carreira internacional, retornando ao Brasil em 1977. O escritor publicou mais de 40 livros em diversas línguas, além de atuar como professor na Ufba, USP e instituições de ensino no exterior.

Entre suas premiações, conquistou o Prêmio Vautrin Lud, o "Nobel de Geografia". Também ganhou o Prêmio Jabuti, em 1997, com "A Natureza do Espaço".

Classificação Indicativa: Livre

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