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Salvador 473 anos: Fitinhas que carregam devoção, fé e amor por Salvador

Karine Pamponet
Seja na forma tradicional colorida, em ouro ou semijóias as fitinhas do Senhor do Bonfim são um orgulho para os baianos  |   Bnews - Divulgação Karine Pamponet

Publicado em 27/03/2022, às 06h00   Karine Pamponet


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Amarela, verde, vermelha, azul. São várias as cores das fitinhas que embelezam os pulsos dos baianos num sincretismo de fé e devoção ao Senhor do Bonfim, que é a representação de Jesus Cristo e é simbolizado pela imagem de Jesus Crucificado. Mas, as fitinhas também são amuletos que identificam a Bahia em toda parte do mundo. Não é à toa que nas fitinhas a frase impressa é “Lembrança do Senhor do Bonfim – Bahia”.

Com exatos 47 centímetros de comprimento, tamanho do braço direito da estátua de Jesus Cristo, logo quando criadas em 1809 pelo tesoureiro da Irmandade do senhor do Bonfim, Manuel Antonio da Silva, com o objetivo de angariar fundos para a instituição, eram confeccionadas em seda, com a imagem e o nome do Santo escritos à mão em letras douradas ou prateadas. O adereço era colocado no pescoço, como colar, sempre acompanhado de um pingente de proteção. Com o tempo, a partir de 1960, as fitinhas passaram a ser confeccionadas em algodão e seu uso passou a adornar braços e tornozelos. Outra curiosidade é que as cores são representação às cores dos Orixás: Verde é Oxóssi, Azul claro é Iemanjá, Amarelo: Oxum, Azul escuro: Ogum, Colorido ou rosa: Ibeji (erê) e Oxumarê, Branco: Oxalá, Roxo: Nanã, Preta com letras vermelhas: Exu e Pombajira, Preta com letras brancas: Omolu, Vermelha: Iansã,Vermelha com letras brancas: Xangô e Verde com letras brancas: Oçânhim.

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“Chegar a Salvador e não ir visitar o Senhor do Bonfim e nem voltar cheia de fitinhas, não é a mesma coisa”, diz a empresária gaúcha Alexsandra Machado. E dessa forma, as fitinhas viraram tradição e um marco simbólico da visita à capital baiana. Já para a estudante baiana, Ivana Martins, as fitinhas vão além do colorido mesmo representando o amor à cidade que mora. “Não fico sem a proteção do Senhor do Bonfim. Ele me ajuda a realizar meus desejos, me dar força e fé. Antes do Enem fui a Igreja, fiz todo o ritual e pedi com todo o meu coração para ele iluminar a minha prova. Passei em direito. Ele me ajudou eu tenho certeza”, ressalta.

Reza a crença popular, que o uso das fitinhas vem do antigo costume de usar pedaços de roupas de santos como proteção.  Mas vai além disso, é preciso dar duas voltas no braço e fazer três pedidos a cada nó dado. Quando a fitinha se partir o desejo se realiza. Há quem prefira amarrar as fitinhas no gradil da Igreja. “Acho que pertinho da Igreja o Santo fica lembrando dos pedidos de forma mais fácil”, brinca a turista do Rio Grande do Sul, Jordana Alves. “Como ele vai lembrar de mim estando tão longe. Na dúvida amarra a fitinha aqui e leva várias comigo na mala, no braço e ainda para presentear os amigos”, completa.

Sofisticação na lembrança de Salvador

Aos poucos a representatividade da Bahia foi se tornando amuleto e se sofisticando. O já falecido joalheiro Carlos Rodeiro contribuiu para isso com a criação da pulseira da “Lembrança do Senhor do Bonfim” em joia confeccionada em ouro. “Não vivo sem a minha pulseira que apesar de ser uma réplica da de Carlinhos, me abençoa e me protege”, afirma a engenheira Ivne Santos.

A devoção pelas fitinhas do Bonfim e o amor a Salvador, também fez outra designer de semi jóias criar uma pulseira ainda mais semelhantes às vendidas na porta da Igreja do Senhor do Bonfim, no Comércio. “ Sempre fui devota ao Senhor do Bonfim, mas, por causa do meu trabalho na aviação comercial por 24 anos não pude usar as fitinhas. Em 2014, decidi abrir meu próprio negócio de fabricação e venda de bijuterias e meu maior desejo era materializar minha devoção”, diz a empresária e designer Claudia Novaes.

Dos rabiscos em papel, as fitinhas tomaram forma em 2015 mantendo as características das originais, mas com um toque moderno e mais permanente. “ Queria que fosse bonito, prático e que, apesar de uma semi-jóia, tivesse um preço mais acessível. Hoje ela representa 30% das minhas vendas com envios para todo o Brasil, Europa e Estados Unidos”, afirma Novaes reafirmando a fé no Senhor do Bonfim em ter ajudado na concretização da loja.

É inegável que seja na forma tradicional, em ouro ou semi-jóia, as fitinhas do Bonfim enchem de orgulho os baianos, principalmente os soteropolitanos, que na alegria ou nos momentos de aperto recorrerem ao amuleto e ao Santuário em devoção.

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