Salvador

‘Lá ele’: Saiba como usar corretamente a gíria baiana em qualquer situação

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Entre os marcantes termos da história dos 474 anos de fundação de Salvador, a gíria 'lá ele' tem seu valor  |   Bnews - Divulgação Ilustrativa/BNews
Pedro Moraes

por Pedro Moraes

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Publicado em 29/03/2023, às 12h00 - Atualizado às 12h00


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“O cacau caiu com tudo” e “Receba sua pancada” são algumas das frases que são popularmente vistas no dia a dia dos baianos. Mas, se tem um termo que é mais visto do que qualquer outro, é o ‘lá ele’. Como já caiu na boca do povo - lá ele -, essas duas palavras também penetraram com força nos turistas que visitam Salvador, lá ele. 

Com milhares de adeptos espalhados pelo Brasil que é gigante, lá ele, essa gíria rapidamente se popularizou e tomou dimensões para além da norma culta do dicionário de baianês. 

Acostumado a entrar na resenha rotineiramente com seus seguidores, um dos principais influenciadores digitais do estado da Bahia, William Forlan, conhecido como Will - não aquele do vídeo viral 'Machuca, Will’ -, de 2014, bateu um papo com a reportagem do BNews, no dia do aniversário de 474 anos de Salvador.

O influencer com mais de 200 mil seguidores na conta oficial no Instagram, que tem o costume de ‘entrar na onda’ de situações corriqueiras dos baianos, explicou como entende que o ‘lá ele’ deve ser aplicado. 

“O 'lá ele' pode ser usada em diversas situações, por qualquer tipo de pessoa, sem se importar o sexo. É muito usado em contextos de duplo sentido, quando vem aquele amigo sacana, que faz uma piada, e você já larga ele [lá ele], que é substituído por ‘eu tô fora’. Tem a questão também de repreender algo: a pessoa usa uma frase e você em vez de falar ‘Deus é mais’, ‘Tá repreendido’, e nessas situações a pessoa pode usar o ‘lá ele’, lá ele”, conta Will, aos risos.

Ainda que seja usado em piadas de cunho sexual, o ‘lá ele’ deixou de ser somente um mecanismo de defesa contra algum deslize. É o que avalia o linguista e autor do Dicionário de Baianês, Nivaldo Lariú. 

“Originalmente, a expressão lá ele era usada como “defesa” ante uma insinuação de cunho sexual. Com o passar do tempo, passou a ser defesa contra qualquer tipo de provocação, não apenas de teor sexual, mas ainda no sentido de significar algo como ‘isso não é comigo não, é com outra pessoa!’, explica, em entrevista ao BNews

Ainda conforme o linguista, é importante reforçar que há uma “variação mais intensa” do termo ‘lá ele’. 

“Se tem um convite para uma festa que se prenuncia chata, a pessoa convidada pode dizer: ‘lá ele! Vou nada!’. Existe uma variação mais ‘intensa’, como por exemplo: ‘Lá ele! Vou nada! Quem cai lá é coelho’!”, indica Nivaldo. 

O mundo do idioma baianês

Outras situações que também podem ser de extrema ‘laranjada’ no cotidiano dos baianos envolvem as palavras oxítonas com terminações com a letra “u”. Exemplos delas são “umbu” e “bambu”. Mas, calma aí, que para se pronunciar todas elas em Salvador e em todas as outras cidades da Bahia, é preciso adicionar o sufixo “ivis”. 

“Tem que pegar a visão daquelas palavras que terminam com ‘u’ pra você não cair em laranjada, porque a pessoa pode fazer uma rima de duplo sentido sem se importar com a idade. Então, por exemplo, você não pode mais falar umbu, porque a pessoa pode fazer uma rima de duplo sentido, então você larga ‘umbivis’, esqueça a palavra que termina com ‘u’ pra você não cair em laranjada”, pontua William Forlan.

Para os ‘das antigas’, não tem como não lembrar do jovem futebolista “Baiacu”. Na época, ele virou “Baiaco” como estratégia para ‘se sair’ dos cânticos ofensivos gerados pelas torcidas adversárias com potenciais rimas. Ele, inclusive, jogou pelo Bahia, se tornando ídolo entre os anos 50 e 70, detalhe que evidencia a ‘defesa’ do baiano há muito tempo. 

Classificação Indicativa: Livre

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