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Salvador 473 anos: Mais que ponto turístico, Dique do Tororó é representatividade de culto aos orixás antes das estátuas

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Segundo o babalorixá João Marcelo, o Dique do Tororó é utilizado para culto aos orixás há muitos anos  |   Bnews - Divulgação BNews

Publicado em 31/03/2022, às 06h00   Yasmim Barreto


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Muito mais que um ponto turístico, o Dique do Tororó tornou-se um lugar com significados que ultrapassam a esfera física. É no Dique que a ancestralidade de África passou a ser representada através das estátuas de orixás. Portanto, terreiros de candomblé fizeram desse “cartão postal” um lugar de rituais sagrados e fortalecimento do axé.

“Mostrar as estátuas é informar a população soteropolitana, baiana e todos que passam pelo Dique, que a religião do Candomblé também impera e é muito forte aqui na Bahia, faz com que a gente venha fortalecer a nossa raiz africana”, disse o babalorixá João Marcelo, do terreiro Ilê Asè Airá Tolami.

Babalorixá João Marcelo

Neste mês do aniversário de 473 anos de Salvador, o BNews fez uma série de reportagens sobre a capital baiana, e, nesta matéria, a reportagem conversou com o babalorixá João Marcelo e o historiador Rafael Dantas, sobre a história do Dique do Tororó atrelada aos orixás, que surgiram posteriormente no local.

Ao BNews, João Marcelo ressaltou que as estátuas não possuem nenhum ritual. Contudo, antes mesmo das esculturas estarem no local, as águas que correm pelo Dique do Tororó já faziam parte de diversos rituais de manutenção da fé do povo de axé.

“Antes das estátuas já existiam esses rituais ali, sempre existiu, desde que era pequeno que eu passava às vezes à noite eu via embarcações, sempre tiveram barcos ali que entregavam presentes. Existem casas grandes antigas de Salvador que fazem presentes ali, dando naquele espaço, aquele rio, nas águas que são abençoadas pelos orixás”, relembrou o babalorixá.

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O fato foi reiterado pelo historiador Rafael Dantas. Segundo ele, o local, desde século XIX, início do XX, já era escolhido por orixás e os religiosos para serem colocadas oferendas ligadas a Oxum, Yemanjá e todos os outros orixás relacionadas as águas.

“As estátuas foram colocadas em um lugar propício para isso se tornando um dos principais cartões postais de Salvador, além do fato de serem assinadas pelo grande artista Tatti Moreno”, completou o professor de história.

Com seu conhecimento ancestral, o babalorixá do terreiro Ilê Asè Airá Tolami explicou que os orixás em forma de estátuas chegaram ao Dique em razão do significado religioso que o manancial tem. “Pelo o que fui informado por meus mais velhos dentro da seita africana do Candomblé, é ali onde elas estão rodeando o Dique, faziam oferendas e presentes para Oxum, tanto que, atualmente, os religiosos de matriz africana entregam presentes para Oxum em determinados períodos”, disse.

Como era o Dique antes das estátuas?

À reportagem, o historiador Rafael Dantas contou que antes de qualquer tipo de intervenção, O Dique do Tororó era um espaço de vale, portanto, era um lugar onde já tinha um acúmulo de água. “Essa água foi represada por ação dos portugueses com o passar do tempo, no século XVI, século XVII, e depois com chegada dos holandeses também tivemos uma interferência no represamento dessas águas”, explicou.

Todavia, o manancial perdeu o tamanho com o tempo em razão do crescimento da cidade de Salvador. “Era muito maior do que o que a gente ver agora”, afirmou Rafael Dantas.

Vale ressaltar que Dique do Tororó é o único manancial natural da cidade de Salvador, no estado da Bahia, no Brasil, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Reduzido para Dique, possui uma lagoa de 110 mil metros cúbicos de água.

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