Saúde

Desorganização e a burocracia atrapalham atendimento nas unidades de saúde

Publicado em 16/04/2015, às 07h36   Rodrigo Daniel Silva (Twitter: @rodansilva)


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A série de reportagem do Bocão News mostra nesta semana a situação do sistema de saúde de Salvador. Na terça-feira (14), foram relatadas as críticas dos pacientes em relação à falta de humanismo dos médicos e profissionais dos postos médicos. Na segunda etapa do raio-x da saúde soteropolitana, evidencia que desorganização e a burocracia nas unidades médicas são outros dois pontos falhos nos serviços de saúde prestados na capital baiana.
Aos 69 anos, o aposentado João Pereira dos Santos deveria ter um atendimento prioritário, no Centro Médico de Pau da Lima. Ele contou, no entanto, que já aguardava há mais de uma hora na fila e não tinha previsão para ser atendido. O idoso ressaltou que só buscou o posto porque há sete dias se medicava com Tylenol para curar dores na cabeça, mas o remédio não fez efeito. “Ainda fizeram uma ficha e depois perderam. Estamos entre baratas aqui”, afirmou. 
O presidente do Sindicato dos Médicos do Estado da Bahia (Sindimed), Francisco Magalhães, disse ficar preocupado com essa situação de se automedicar.“Ele pode ter enormes prejuízos. O cidadão que toma, por exemplo, um antibiótico pode mascarar a doença e agravar sua saúde. Fico muito preocupado com isso”, salientou.
Na Unidade de Pronto Atendido (UPA) Adraldo Albergaria, em Periperi, no Subúrbio Ferroviário, os pacientes contaram que para serem atendidos precisam passar por uma triagem de avaliação do quadro clínico. Antes, porém, eles aguardam, sem nenhuma previsão de quando será o atendimento. Depois da peneira, esperam pela consulta. Assim como o aposentado João Pereira, Filomena Conceição dos Santos, de 65 anos, também não teve prioridade na fila. Já aguardava há uma hora para passar na triagem, segundo a sua neta Cristina Conceição, 24.
Os casos que aparentam ter mais urgência também ficam na longa fila. Após cortar a mão direita, com um copo quebrado, a assistente administrativa Neuza de Jesus, de 44 anos, estancava com um pano o sangue. Também na fila estava o vendedor Daniel Fonseca, de 35 anos, com o corpo dolorido, manchas e olhos vermelhos. Ele suspeitava que estivesse com dengue ou chikungunya. “Primeira vez que venho, porque evito. Mas como era um caso de emergência, não teve jeito. Esperava ser mais rápido o atendimento porque é uma UPA, né?”, questionou.
O vendedor mostrou-se descrente com o diagnóstico. “Desconfio do que eles vão receitar. Pode ser apenas uma alergia também”, avaliou. A UPA de Periperi foi inaugurada em outubro de 2012. Na época, a prefeitura estimou um investimento de R$ 2,6 milhões na unidade que atenderia cerca de 450 pessoas por dia, com 20 leitos de observação e uma equipe de seis médicos para cobertura nas áreas de pediatria e clínica médica.
O único posto de saúde que a reportagem conseguiu ir além da recepção foi na UPA de Periperi. Foi lá que encontramos uma mulher deitada nas cadeiras. Quando indagada porque a mulher estava ali, com dores, uma funcionária, que não quis se identificar, limitou-se a responder: “porque não temos leitos suficientes”. 
Sem leitos suficientes na unidade médica de Periperi, paciente é encontrada deitada nas cadeiras
Remédio
Embora esteja desativo para reforma desde o final de outubro de 2014, a farmácia, a vacinação e o cadastro do Sistema Único de Saúde (SUS) continuam a funcionar no Centro de Saúde Doutor Clementino Fraga, na Avenida Centenário. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, os serviços foram transferidos para a UPA dos Barris, inaugurada em outubro do ano passado.
Para a funcionária pública Mônica Carneiro, 42, a conclusão dos reparos na unidade da Avenida Centenário está demorando demais. Mãe de dois filhos, ela conta que há sete anos frequenta o posto quando precisa vaciná-los. “Está o pior possível. Um aspecto sujo. Isso aqui não é um ambiente para um posto”, avaliou. Ela ressalta, no entanto, que nunca teve problemas para vacinar os filhos. “Quando tem um surto de uma doença fica cheio. Mas, a gente sempre encontra a vacina”, falou.
O motorista Antônio Mendes de Jesus, de 64 anos, nem sempre tem essa sorte. Ele faz tratamento de hemodiálise e conta que a ausência de  remédio na unidade é constante. “Tomo vitamina C, metronidazol... e falta muito. Sempre venho e não tem nada. Hoje, deve ter porque vocês [a reportagem] estão aí”, disse.
Não foi um dia feliz também para a auxiliar de serviços, Ângela dos Santos, de 25 anos. O olhar triste do pequeno Wallasy Souza, de dois anos, mostrava estar bem abatido. A mãe contou que precisava de um antialérgico. “Vou tentar em outro lugar. Mas, é sempre assim. Se não achar, vou ter que comprar. Não posso deixar meu filho sem remédio”, afirmou.
A reportagem do Bocão News visitou o posto de Pau Miúdo nos dias 2 e 7 de abril. No primeiro dia, encontramos o maquinista Marcos Vinicius Santos, de 32 anos. A avó dele sofre de catarata e glaucoma e precisava de um colírio naquela quinta-feira. O que Marcos Vinicius não esperava era achar as portas do ambulatório fechadas.“Acho errado isto, as farmácias funcionam 24 horas, por que o ambulatório não?”, perguntou. “Vou procurar em outro lugar. Se eu não achar, vai ficar sem, infelizmente”, disse, saindo da unidade com pressa.
O secretário municipal de Saúde, José Antonio Rodrigues Alves, entende, no entanto, que esses ambulatórios não precisam funcionar 24 horas. Ele frisou que os pacientes cadastrados recebem medicamentos para 30 dias. “Nós temos também 96 farmácias privadas cadastradas pela Prefeitura de Salvador que funcionam 24 horas. As pessoas podem ir lá e retirar o medicamento. Tem todo o elenco de medicamentos distribuídos nos postos de saúde”, destacou.
Sobre a falta de medicamentos, o secretário disse que houve um atraso do governo federal e do estado, no início do ano, no repasse para a compra. “Hoje, só temos cinco itens de medicação em falta, já foi normalizado e temos plenitude de oferta”, assegurou. O secretário não informou quais são os medicamentos em falta.
Nesta quinta-feira (16), o Bocão News apresenta a terceira e  última reportagem da série. 

Matéria originalmente postada dia 15

Classificação Indicativa: Livre

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