Saúde

Especialistas alertam sobre ciberbullying e impactos de novas mídias na educação

Publicado em 17/03/2017, às 18h32   Redação Bocão News


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O 19º Fórum da Academia Brasileira de Pediatria (ABP) encerrou suas atividades, nesta sexta-feira (17), em Salvador, com um debate multidisciplinar sobre o impacto das novas tecnologias e redes sociais nas relações familiares e escolares e sobre como lidar e prevenir o assédio virtual – ciberbullying.
Promovido pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e com o apoio da Sociedade Baiana de Pediatria (Sobape), o evento reuniu mais de 900 participantes, entre estudantes e profissionais de diversas especialidades do país inteiro envolvidos nos cuidados com a criança e o adolescente.
De acordo com a pesquisa Kids Online Brasil 2017, do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI), 68% das crianças/jovens, entre 9 e 17 anos, acessam a internet mais de uma vez por dia, sendo que 85% delas o fazem através de um celular. O levantamento também apontou que 29% dos que viram alguma propaganda na rede pediram algum produto para seus pais e, destes, 59% tiveram seu pedido atendido.
Ao comentar os números, o professor Nelson Pretto, titular da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia (Ufba), afirmou que o ambiente de excesso de informações não representa, necessariamente, um problema e sim o controle e gerenciamento de aplicativos e ferramentas por grandes empresas que tratam ainda de “customizar” e, com isso, limitar o tipo de conteúdo ofertado. “É um cerco que nos torna escravos, não da tecnologia, mas das empresas que concentram as informações, é o que chamamos de internet murada”, analisou, ao criticar a dificuldade de inclusão digital que ainda existe em áreas mais distantes dos grandes centros urbanos.
Ele também elogiou a “diversidade e amplitude” da programação do 19º Fórum de Pediatria, com temas que transcendem à especificidade pediátrica, como meio ambiente, educação e tecnologia.
Nelson Pretto advertiu que o formato conservador de escola não acompanha as novas tendências e, portanto, “não dá conta dos desafios contemporâneos”. “A escola mudou muito, mas o mundo mudou muito mais. Não podemos simplesmente atualizar a escola, ela precisa ser revolucionada”, aconselhou.
Quanto aos impactos no ambiente familiar, a pediatra Sandra Plessim, especialista no atendimento a adolescentes, observou que as relações presenciais têm sido muito prejudicadas pelo uso desequilibrado das novas mídias. “Há falta de limites dos pais, filhos que mandam nos pais. É preciso voltarmos um pouco ao mundo real. O virtual é importantíssimo, mas se usado com sua justa medida”.
Na avaliação do presidente da ABP, José Martins Filho, é cada vez mais comum ver pais usando tablets e smartphones como “babás eletrônicas”, sob o pretexto de manterem os filhos “quietos”, e também mulheres que acessam a internet enquanto amamentam.
“Ainda não sabemos como usar essas novas tecnologias”, disse José Martins, ao citar um caso trágico em que um adolescente morreu atropelado enquanto usava o celular e andava distraído na rua.
Ciberbullying
A frequência excessiva às plataformas online sem a supervisão dos pais expõe a criança a riscos desde complicações físicas, na audição, visão e sedentarismo, até dramas sociais como pedofilia, compra e, consequente, uso de drogas, comentários sexuais e assédio de naturezas diversas, conhecido também pelo termo ciberbullying.
Segundo a pediatra Sandra Plessim, quem passa adiante conteúdos ofensivos também se constitui em agressor, que, na maioria dos casos, se sente até mais corajoso sob a presunção do anonimato. Ela destacou que quadriplicou nos últimos anos o envio e reprodução de “vingança pornô” – quando uma pessoa divulga fotos íntimas do antigo parceiro sexual -, que atinge majoritariamente as mulheres.
Sandra Plessim listou que as vítimas de ciberbullying podem desencadear sérios problemas com pensamentos ou gestos de autoagressão, abandono escolar, crimes bárbaros e até suicídio. No Brasil, a privacidade é garantida pela Constituição Federal [artigo 5º], pela Lei do Marco Civil da Internet que, em seu artigo 29, prevê controle dos pais a conteúdos impróprios, e pelo Estatuto da Criança e do Adolescentes (ECA).
Roda de Conversa sobre sexualidade
Ainda na tarde desta sexta (17), a Roda de Conversa Núbia Mendonça​ reuniu cerca de 30 jovens entre 10 e 17 anos assistidos pelas instituições sociais Hora da Criança, com sede na Avenida Juracy Magalhães Júnior, e Núcleo de Assistência Social Bom Samaritano, em Plataforma. Auxiliados pelas pediatras ​​Isabel Freitas e Márcia Messias, os jovens participaram de uma dinâmica de grupo para discutir sobre adolescência, anticoncepção e doenças sexualmente transmissíveis, entre outros assuntos. Além de ouvirem orientações das especialistas, os meninos e meninas puderam tirar dúvidas.
Acompanhando os meninos do projeto Bom Samaritano, o agente social Adiel Santos Conceição destacou a importância da atividade. "É sempre muito importante promover o acesso de crianças e adolescentes a informações seguras, com profissionais capacitados", avaliou Adiel, acrescentando que, através de uma série de projetos, a instituição atende, por ano, a mais de 500 crianças, adolescentes, adultos e idosos Plataforma e bairros adjacentes.

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