Saúde

Jovens filhos de agora

Publicado em 26/04/2011, às 17h29   Jovens filhos de agora


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*Marcelo G. Reis

Ainda me lembro, e com muita saudade, da felicidade quando, na minha adolescência, chegava a hora de meu pai voltar do trabalho para casa e isso acontecia diariamente, de segunda a sexta às 18hs.

Minha mãe nos avisava enfática "já estava na hora de seu pai chegar"! Era o bastante para que fossemos para porta de casa, de banho tomado e arrumado com roupa limpa, aguardar para ver aquele magrelo descer da lotação Ribeira 20, com o seu terno suado, seu nó de gravata quase desfeito, pão e jornal debaixo do braço e com um lindo sorriso nos lábios correr para um abraço em nós 4.

Minha mãe ficava por ultimo, recebia um beijo na testa e um leve abraço na cintura. Se ele não aparecia na lotação das 18 hs era pânico, medo de desastre (assim eram chamados os acidentes de ônibus e bondes da época) orações, promessas a Santo Antonio, velas acesas e logo na próxima, alguns longos minutos depois, ele descia para o alivio da nossas tensões e sem necessitar justificar o atraso o abraço era ainda mais gostoso. Somente o seu retorno para casa. Já era o suficientemente necessário para a nossa grande felicidade.
No jantar, ele era quem se servia primeiro, e sentar junto dele era uma briga danada entre eu e minhas irmãs para conquistar a cadeira junto a cabeceira.

A vontade de meu pai era sagrada e noss, concordávamos com isso incondicionalmente sem rancores nem questionamentos. Minha mãe nunca foi submissa a ele porem nos ensinava a respeitar os mais velhos e a idolatrar nosso pai!

Ele fazia o mesmo quando se tratava de reverenciar nossa mãe. Nenhum dos dois jamais ousou tirar a autoridade do outro. Crescemos felizes, sem traumas, estudamos, formamos nas universidades da Bahia e constituímos famílias ate agora estáveis e felizes.

Bastava minha mãe dizer "vou dizer a seu pai" para o nosso facho baixar rapidinho sem que ele tenha nos dado, durante toda a sua vida, um piparote na orelha. Bastava seu olhar, uma frase mágica que ele costumava nos repreender "seu pescoço esta engrossando muito" para logo, entrarmos na linha.

Hoje é diferente, a vontade dos pais não pode contrariar a dos filhos porque traumatiza os coitadinhos dizem os neo psicólogos! O importante é fazer os nossos filhos felizes a qualquer custo, mesmo que isso seja com o sacrifício, seja ele qual for, dos próprios pais. A coxa da galinha não é mais dos pais é das crianças!

As datas sagradas para os velhos não são mais importantes para eles, os motivos muito menos, o único objetivo é deixar os filhos curtirem suas vidas e suas preferências mesmo que morramos de angustia pela falta de um telefonema na madrugada para justificar a demora em voltarem para casa, do seus celulares que chamam, chamam e não são atendidos, das mensagens deixadas nas suas caixas de recados e os torpedos endereçados aos próprios não respondidos.

Qual nada, frescura, estresse desnecessário, agonia de velho, dizem eles. E isso não tem a menor importância para os jovens de agora.
Sinal dos tempos, o mundo mudou!

Somente nos, os velhos pais baianos, que precisamos mudar.

Fazer como os Suecos que, apos a maioridade dos filhos, naturalmente pedem para que eles saiam de casa e vão abanar os seus próprios carvões molhados em outro lugar. Os jovens filhos de hoje em dia mudaram com seus pais em comparação ao que éramos com os nossos pais

Será que vamos também mudar e virar Suecos?

É uma!

* Marcelo G. Reis é médico ginecologista e obstetra

Classificação Indicativa: Livre

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