Saúde

Caso Pelé: Cuidados paliativos atuam além da cura e mira a qualidade de vida, diz especialista

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Desde o dia 3 de dezembro deste ano, o Rei do Futebol tem sido assistido sob os cuidados paliativos após inércia para quimioterapia  |   Bnews - Divulgação Reprodução/Instagram
Pedro Moraes

por Pedro Moraes

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Publicado em 14/12/2022, às 05h30


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Fãs e admiradores do maior craque do futebol brasileiro e, para alguns, do futebol mundial, Pelé, acompanharam no dia 3 de dezembro a mudança de estratégia da equipe médica do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, que cuida do Rei do Futebol. Na ocasião, após não responder mais a quimioterapia, etapa sucessora da operação de um câncer de intestino, o ex-jogador adotou a aplicação dos cuidados paliativos

Diante das dúvidas sobre a condição de Pelé, muitas foram as dúvidas referentes à adesão dessa tática técnica medicinal. O BNews conversou com Silvia Seligmann Soares, médica pneumologia e paliativista, para esclarecer alguns questionamentos públicos. O que é, por que ser aplicado e quais benefícios oferece estão entre os principais questionamentos.

Conforme dados da Worldwide Hospice Palliative Care Alliance (WHPCA), organização internacional não governamental que atua no desenvolvimento dos Cuidados Paliativos no mundo, cerca de 57 milhões de pessoas necessitam destes cuidados e que aproximadamente 18 milhões de pessoas morrem anualmente com dor e angústia desnecessárias, sem ter acessibilidade a esse tipo de atendimento. 

Entre os efeitos provocados, um estudo publicado no New England Journal of Medicine, em 2010, mostrou que pacientes com câncer de pulmão que receberam precocemente essa medida junto ao tratamento padrão apresentaram resultados extremos na qualidade de vida e no humor. Além disso, eles viveram em média três meses a mais do que os pacientes que contraíram somente os cuidados padrões. 

“Eu acho extremamente importante que o Pelé esteja recebendo cuidados paliativos. Entendo que a quimioterapia deve ser olhada dentro desse contexto e pode sim ser interrompida se não estiver atingindo o objetivo esperado ou se estiver trazendo mais malefícios do que benefícios para o paciente, sempre em decisão compartilhada, envolvendo as equipes assistentes além do próprio paciente e sua família. Isso não quer dizer que ele não está sendo tratado ou que “não há mais nada a fazer por ele”, apenas que o foco do tratamento mudou, deixando de ser uma cura ou controle da doença e passando a ser mais a qualidade de vida do nosso Rei”, afirma a atual coordenadora médica da Comissão de Cuidados Paliativos da Assiste Vida Atenção Domiciliar.

Como forma de ‘combater’ não só as consequências do paciente como também fortalecer a representatividade do indivíduo, o tratamento sob cuidados paliativos é, acima de tudo, uma abordagem multiprofissional. 

No Sistema Único de Saúde (SUS), inclusive, esse tipo de acompanhamento consta em resoluções como a de número 41, de 31 de outubro de 2018, que abrange as diretrizes para a organização dos cuidados paliativos, à luz dos cuidados continuados integrados. 

De mãos dadas com o emocional

Entre os benefícios provenientes dos cuidados paliativos está o emocional. Entender que períodos de frustração, raiva, e esperança de cura e melhora vão ser frequentes na vida das pessoas acometidas pelas doenças. Assimilar tudo isso é, assim como a atuação de uma equipe multiprofissional, uma função de familiares e amigos, num ato de compaixão

“Eu gosto de lembrar que não podemos deixar que a doença nos defina, precisamos lembrar de quem somos além dela e cuidar dessa pessoa, que é maior e mais importante do que qualquer doença que ela carregue”, pontua Silvia Seligmann.

Combate ao mito do ‘adeus’

Um levantamento feito pela Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP) em 2018 aponta que a demanda por atendimento desse serviço no Brasil é superior à oferta disponível atualmente. Um dos fatores que podem originar essa ressalva trata-se dos “preconceitos” referentes aos cuidados paliativos. 

“É extremamente importante desmistificar a crença de que cuidados paliativos são sinônimo de cuidados de fim de vida, porque isso faz com que as pessoas, mesmo os profissionais de saúde, tenham preconceitos e acabem não desfrutando deste cuidado que é mais do que uma indicação, é um direito humano”, ressalta a médica pneumologia e paliativista.

Por fim, a fisioterapeuta Tatiana Maita, líder da Comissão de Cuidados Paliativos da Assiste Vida, resume o início do trabalho de equipes fornecedoras desses cuidados.

“Em uma situação hipotética, temos um jovem paciente que sofreu um acidente vascular cerebral, o conhecido AVC, ficou com restrições motoras e funcionais significativas e está com dificuldades de aceitar essa nova condição. Nesse caso, o primeiro passo da equipe de Cuidados Paliativos é acolher e validar o sentimento do rapaz, que é completamente válido”, explica. 

Classificação Indicativa: Livre

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