Saúde

Da fertilidade a maternidade: Problemas para engravidar atingem cerca de 15% dos casais

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Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), oito milhões de brasileiros são afetados pela infertilidade  |   Bnews - Divulgação Arquivo pessoal

Publicado em 06/05/2022, às 06h00 - Atualizado às 06h50   Juliana Barbosa


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Segundo uma pesquisa do IBGE, a cada ano que passa, a taxa de natalidade cai no país. O mundo mudou. Hoje em dia, ter filhos é uma opção. E se a escolha é tê-los, é possível optar pelo melhor momento para engravidar. As mulheres estão preferindo dar prioridade para a carreira profissional.  Mas, esse não é o caso da dona de casa Athena Sellinas, de 32 anos, diagnosticada com endometriose.
Depois de uma cirurgia mal sucedida aos 25 anos, foi dada a largada para uma árdua caminhada.

“Abriram minha barriga na vertical. Houve complicação, meu intestino foi perfurado e tive uma infecção generalizada. Sobrevivi por Deus. Mas, desde então, desde 2015 fui tendo uma sequela atrás da outra. Além de ainda ter vários focos de endometriose, tive hidrossalpinge, precisaram retirar minhas trompas, aí começou a saga! No total foram 13 cirurgias. ”

Aos 31 anos, Athena conheceu a obstetra Paula Fettback, Especialista em Ginecologia e Reprodução Assistida. Durante o tratamento foram 18 óvulos colhidos, oito fertilizados, mas só dois evoluíram.

“Graças a Deus, é a realização de um sonho... Vou lavando as roupinhas, me olhando no espelho, olhando minha barriga, é real! ”, diz Athena está grávida de gêmeas.

Athena

Quem também teve a felicidade de encontrar a dra. Paula foi a Janaína Mota, de 37 anos. Em 2016, ela e o marido decidiram engravidar:

“Começamos a tentar e depois de 8 meses conseguimos o primeiro positivo! Em 2017, em fevereiro, descobrimos que o coraçãozinho do Felipe teve uma má formação e tinha parado de bater. Ele já tinha 13 semanas. Não foi um processo fácil...”

Janaina descobriu o diagnóstico de endometriose. Passou por duas cirurgias e duas fertilizações, sem sucesso. Uma das operações, ocasionou uma lesão em três nervos, deixando sequelas no sistema excretor.

Em 2020 o casal passou por uma segunda perda. Até que Janaína conheceu a Dra. Paula, que prosseguiu com o tratamento por outros meios.

Chá revelação

No ano seguinte nasceram os gêmeos Murilo e Mariana. “Eles são o meu milagre. O meu final feliz, não imaginava que seria tão lindo, graças a Deus! ”.

gemeos

Aumento no número de consultas

A ginecologista Gérsia Viana especialista em Medicina Reprodutiva falou sobre o aumento nas consultas no mês e maio:

“Se considerarmos que cerca de 15% dos casais apresentam algum tipo de problema que afeta a fertilidade, podemos estimar o número de mulheres que precisam de ajuda para ter filhos. Importante ressaltar o aumento nos últimos anos de casais lesboafetivos e mães solo que também buscam ajuda para conseguir a gravidez. Visto que o mês de maio ressalta o desejo de maternidade, a média de consultas aumenta, principalmente para mulheres com mais de 35 anos e aquelas com muito tempo de infertilidade. ”

Quais são os principais problemas que impedem ou dificultam a tão sonhada gravidez?

“Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), oito milhões de brasileiros são afetados pela infertilidade. No lado feminino, podemos citar os distúrbios ovulatórios, alterações nas trompas, endometriose, baixa reserva ovariana e alterações no útero, como malformações e presença de pólipos e miomas. Importante citar também a idade materna avançada, principalmente após os 40 anos, que implica em um declínio na qualidade e quantidade dos óvulos."

Foi a partir de uma experiência pessoal que a psicóloga e psicanalista Aline Borges decidiu trabalhar com mulheres que enfrentam dificuldade para engravidar (as chamadas tentantes), e/ou que sofreram perdas gestacionais. Com atuação de 14 anos voltada para a parentalidade, a psicóloga fala sobre estudos que comprovam que o sofrimento da infertilidade é compatível com o divórcio ou até mesmo doenças graves:

“É comparado a doenças fatídicas como o câncer. Os casais que passam por isso relatam que esse foi o evento mais difícil de lidar em toda vida, então a infertilidade impacta o emocional de diversas formas, ela mexe com o casal, ela mexe com a autoestima, ela mexe com a relação com o corpo, ela mexe com todas as relações... a pessoa, aos poucos, vai diminuindo o investimento em várias áreas da vida. Começa a não ter vontade de trabalhar, a não ir a eventos sociais para não ter que encontrar outras gestantes ou crianças pequenas, começa a não consegui investir no relacionamento, porque o relacionamento passa a estar em função desse desejo de ter filhos...”

Uma mãe sem filho é mãe?

Aline explica que há uma invisibilidade em torno do luto da perda gestacional;

“O luto da perda gestacional é um dos mais difíceis de serem processados, porque os outros, a sociedade não reconhece como perda de um filho, é perda de um bebê que não existiu para os outros,  mas pro casal ele existiu, porque na verdade o bebê existe muito antes de estar no ventre, ele existe no coração, ele existe a partir do desejo. Então, desde que você deseja ser mãe você tem toda uma projeção, todo um planejamento. Quando você recebe um positivo, tudo isso se torna mais concreto. E aí, quando o bebê vai embora, não é só o bebê que vai...  Vão os planos, ainda que temporariamente, ainda que essa mulher engravide de novo, toda expectativa, todo status de gestante, por quê ser gestante é uma coisa que até os desconhecidos sorriem para a barriga... então você perde muitas coisas... a saúde, por que se seu corpo não conseguiu seguir com a gestação é porque tem algo errado... as mulheres precisam fazer curetagem, é o luto insólito, um luto solitário, um luto que não tem ritual. O ritual quando a gente perde alguém (o enterro, o velório), ele ajuda na elaboração. E um bebê que se vai na barriga não tem nenhum desses rituais, então todo esse processo do seguir em frente fica comprometido.

Ainda de acordo com a psicóloga, o dia das mães, em que tudo é voltado para a data, na mídia, redes sociais e indústria, é um momento em que as tentantes se sentem deslocadas e as mulheres que perderam um bebê retornam ao sofrimento:

“No dia das mães isso é vivido intensamente, principalmente no primeiro ano pós perda do bebê, todas as datas ficam condicionadas aquelas perdas: “ah! Em tal época eu faria o chá de bebê, em tal época meu bebê nasceria, em tal época eu estaria com meu bebê no colo no natal, no dia das mães... então tem todo um processo de todo sofrimento, o dia das mães é sem dúvidas o dia mais difícil para quem sofreu uma perda gestacional porque remete a todo sofrimento, e para as tentantes também porque todas as redes sociais, tudo que a gente olha, os comerciais de televisão, todos tem um apelo, tem uma indústria voltada para essa data. As tentantes como um todo, vivem uma coisa de se sentirem pressionadas socialmente, todo lugar que você chega “e aí, quando vem o bebê? ”, “nossa só falta vocês”, e tal... E aí é muito comum que isso traga um impacto social de começar a não querer ir a eventos e ir se recolhendo (o que é um sinal de alerta para depressão), e o dia das mães é um momento que isso é geral: está tudo mundo comemorando...”

O luto insólito

A psicóloga Aline Borges explica os desencontros que podem ocorrer numa relação conjugal durante o processo do luto.

“Quando o bebê morre na barriga a mulher volta a condição anterior que é de uma mulher sem filhos. Então, por isso que é um processo que precisa de um apoio psicológico, um suporte porque o impacto emocional é muito grande. Isso muitas vezes vai abalando a relação conjugal porque o homem e a mulher vão expressar o luto de uma forma e podem ocorrer desencontros na relação.

De acordo com obstetra Paula Fettback, Especialista em Ginecologia e Reprodução Assistida existe uma procura maior em maio, uma tendência inclusive entre mulheres em idade mais avançada, ou que estão querendo congelar óvulos, por ser uma data muito significativa. Inclusive a idade é um dos principais fatores que podem dificultar uma gestação, principalmente a partir dos 30 anos, comenta a especialista:

“Nos fatores relacionados a idade temos a endometriose, tem o ovário policísticos doenças autoimunes, metabólicos, obesidade, tanto fermina quanto masculina, e lembrar que não só a mulher é infértil, 35% no mínimo com casais com infertilidade, são fatores masculinos.

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