Saúde

Família denuncia descaso em UPA de Salvador e demora na regulação de paciente

Reprodução / Valter Pontes / SECOM
A família registrou imagens de uma situação crítica de descaso em UPA de Salvador.  |   Bnews - Divulgação Reprodução / Valter Pontes / SECOM

Publicado em 26/08/2022, às 05h40   Emilly Giffone


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A Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Parque São Cristóvão, localizada no bairro de São Cristóvão, em Salvador, vem recebendo diversas denúncias em relação ao atendimento prestado na unidade. Dentre os questionamentos, está o descaso com os pacientes internados, além da demora na transferência através da regulação.

Uma adolescente de 15 anos procurou a equipe do BNews para relatar o sofrimento de seu pai, Reginaldo Nonato, que ficou internado na UPA do Parque São Cristóvão por mais de um mês e somente na última quarta-feira (17) conseguiu a transferência. A família aguardava a regulação para que ele passasse por um cirurgia devido a um dedo necrosado, mas durante esse período ele não estava recebendo os devidos cuidados.

“No dia 14 de julho levarmos meu pai porque ele estava com uma pequena infecção urinária e o dedo estava ferido também, levamos por causa das duas coisas. Toda vez que chego na upa meu pai está mijado, cheio de comida de almoço, meu pai não tem o movimento do lado esquerdo, não tem condições de comer sozinho”, denunciou.

Além de toda falta de estrutura interna, a família comunicou que o dedo necrosado já estava prejudicando um outro dedo e nada foi resolvido. As filhas de Reginaldo foram informadas de que a regulação tinha sido solicitada, mas ao conseguir o apoio de uma pessoa conhecida da família para ajudar na transferência, perceberam que a regulação não havia sido solicitada.

“Quando postei sobre a regulação de meu pai, uma pessoa tentou me ajudar, mas eles lá na UPA não tinham solicitado a regulação. Minha irmã que é maior de idade, foi conversar com a Assistente Social e só assim o pedido foi feito”, destacou a jovem e completou falando sobre a liberação de alta sem finalizar os procedimentos.

“A Assistente Social me ligou dizendo que meu pai estava de alta, mas eu perguntei a ela como se ele não tinha feito a cirurgia. Ela disse que ele teve uma melhora na saúde dele, aí eu questionei sobre o dedo necrosado. Mandaram minha irmã comparecer a UPA para o médico conversar com a família e depois de muita insistência eles internaram meu pai novamente e botaram ele na regulação”, declarou Ester.

Em nota, a assessoria da Secretaria Municipal de Saúde informou a equipe de reportagem do Bnews que desde o primeiro dia de internação o paciente teve seu nome inserido na regulação. Alegaram também que ele recebeu todo suporte na estrutura de emergência.

“A Secretaria Municipal da Saúde informa que o referido paciente foi admitido na UPA Parques São Cristóvão no dia 14 de julho com indicação de cirurgia vascular.  Neste mesmo dia foi internado e seu nome incluído na tela da Central Estadual de Regulação. No dia 1º de agosto, em mais uma avaliação do quadro clínico foi indicado tratamento ambulatorial. Mas diante da queixa de dor intensa, o médico da UPA optou pela continuidade do internamento até que a regulação fosse autorizada para uma unidade especializada, o que aconteceu no último dia 18 de agosto. Durante os mais de 30 dias internados na UPA, o paciente recebeu toda assistência disponível na estrutura de emergência.”, disse nota.

Caso semelhante aconteceu com uma jovem identificada como Suelen Nunes, que no momento em que o pai foi transferido para o Hospital do Subúrbio, ele veio a óbito após 24 horas. A moça relata que esse tema precisa ser mais mencionado, pois assim como ela, outras famílias estão sofrendo sem o suporte público.

“Depois de muita luta nós conseguimos a transferência de meu pai para o Hospital do Subúrbio, mas um dia depois ele acabou falecendo. Esse segue sendo um tema de altíssima relevância, pois muitas famílias passaram e estão passando pelo mesmo que passei”, desabafou ela.

Recentemente, moradores do Bairro da Paz fizeram manifestação na Avenida Paralela lutando pelo mesmo motivo. Eles bloquearam o trânsito da Avenida Luís Viana Filho (Paralela), na tarde do dia 11 de agosto, para reivindicar a transferência de um paciente via regulação.

Procurada pelo Bnews, a assessoria da Sesab informou o prazo médio para que as regulações aconteçam. “Atualmente 80% das solicitações da Central Estadual de Regulação são atendidas em até 48 horas. Com a abertura de 20 novos hospitais nos últimos 15 anos, dentre eles o HGE 2, Hospital da Mulher, Instituto Couto Maia e Hospital da Chapada, a capacidade de atendimento da rede estadual aumentou”, afirmou em nota.

Como funciona a regulação segundo a Sesab

Em primeiro lugar, é preciso informar que a Central Estadual de Regulação (CER) funciona 24 horas por dia, 7 dias por semana para as regulações das urgências e transporte inter-hospitalar. Somente a Central Estadual de Regulação (CER) possui cerca de 1.100 solicitações diárias. As demandas contemplam avaliações com especialistas, exames, procedimentos cirúrgicos e vagas em unidades com maior complexidade, como UTI. Por dia, as quatro centrais recebem, em média, 150 pedidos solicitações para UTI adulto, 30 para UTI pediátrica, 25 para UTI neonatal e cinco liminares.

A transferência de um paciente depende, basicamente, da qualidade do relatório médico que a unidade coloca no sistema, a disponibilidade de leito/recurso para o perfil do paciente  e, é claro, a gravidade do mesmo. Estes elementos são analisados pelos médicos reguladores e hierarquizados, o que popularmente se chama de “fila da regulação”, mas ela é dinâmica e atualizada, pelo menos, duas vezes ao dia. No caso de UTIs, a captação de vagas é realizada a cada 6 horas. 

Para avaliar o paciente, as unidades realizam a classificação de risco. É uma ferramenta utilizada nos serviços de urgência e emergência, voltada para avaliar e identificar os pacientes que necessitam de atendimento prioritário, de acordo com a gravidade clínica, potencial de risco, agravos à saúde ou grau de sofrimento. As unidades seguem protocolos internacionais, como o Protocolo de Manchester, no qual classifica o paciente como Emergência (Vermelho), Muito Urgente (Laranja), Urgente (Amarelo), Pouco Urgente (Verde) e Não Urgente (Azul). 

Há um esforço contínuo para reduzir o tempo médio de atendimento, sobretudo, com a abertura de novos leitos e serviços, a exemplo do HGE 2, Hospital da Mulher, Hospital da Chapada (Seabra), Hospital Regional Costa do Cacau (Ilhéus), Hospital Geral Prado Valadares 2 (Jequié), Maternidade Regional (Feira de Santana), Instituto Couto Maia (Salvador), além da reforma e ampliação de diversas unidades, e a implantação de serviços de desospitalização. O tempo médio de atendimento para as solicitações diversas (exames, avaliações com especialistas, internação clínica e procedimento cirúrgico) é de 3 dias. Já o tempo médio para atendimento dos pleitos envolvendo UTIs é de 2,6 dias.

No caso específico de Salvador, a dificuldade do acesso aos postos de saúde prejudica o tratamento de doenças crônicas, a exemplo da Hipertensão e Diabetes.  O reflexo é imediato. Dados do Sistema de Pactuação dos Indicadores (Sispacto) apontam que 25% das internações de pacientes de Salvador poderiam ser prevenidas por serem condições sensíveis à Atenção Básica.

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