Saúde

Gerente administrativo do Monte Tabor reforça compromisso social e opina sobre piso da enfermagem

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Dioney Mascarenhas, gerente administrativo do Monte Tabor, e comitiva do grupo visitaram redação do BNews  |   Bnews - Divulgação Joilson César // BNews
Rafael Albuquerque

por Rafael Albuquerque

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Publicado em 29/09/2022, às 17h26 - Atualizado às 19h43


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O Monte Tabor completa, em 2024, 50 anos de chegada a Salvador. A instituição filantrópica, que durante muitos anos foi a única controladora do Hospital São Rafael, atua em diversas frentes com trabalhos sociais na capital baiana. Em entrevista ao BNews, Dioney Mascarenhas, gerente administrativo do Monte Tabor, falou sobre o contrato de compra e venda entre o grupo e a rede D'Or, comentou sobre a tabela defasada de repasses do SUS e explicou como a instituição enfrentou a fase mais dura da pandemia da Covid-19. Dioney também se posicionou sobre a lei que foi aprovada - e suspensa pelo STF por liminar - que determina o reajuste do piso salarial dos profissionais de enfermagem. Confira a entrevista na íntegra abaixo:

Primeiramente, gostaria que você explicasse o que é o Monte Tabor. Muita gente sabe da relação com o Hospital São Rafael, mas tem gente que não saber o que, de fato, é o Monte Tabor.

O Monte Tabor é uma instituição que está presente na Bahia há 48 anos. Desde que aqui chegou, o Monte Tabor conseguiu transformar a saúde baiana. Claro que a principal ferramenta que tivemos pra fazer isso ao longo desses anos foi o Hospital São Rafael. Até que, em 2018, motivado pelas dívidas que a gente tinha, e também por conta da baixa remuneração da tabela SUS, contra a nossa vontade a gente teve que fazer uma operação de compra e venda com a rede D'Or. A gente vendeu 80% das ações do Hospital São Rafael e começamos a nos dedicar de forma mais ampla àquilo que é nossa vocação, que é atender ao social. O Monte Tabor é uma instituição filantrópica e nossa vocação é atender ao social.


Mas e agora, como está a saúde financeira depois da venda?

A saúde financeira do grupo foi retomada. Claro que o Monte Tabor reduziu bastante de tamanho. Hoje a gente administra todo o passivo do gigante que é o Hospital São Rafael e concentra nossas ações em iniciativas sociais. Então, hoje o Monte Tabor é basicamente uma organização social e atua em Salvador em algumas frentes. A gente tem um complexo no bairro de Pau da Lima, onde tem o Ludovica, um centro de educação profissional onde atendemos pessoas de baixa renda com cursos completamente gratuitos. São cursos de capacitação de cuidador de idoso, auxiliar de portaria, de recepcionista, etc. Tudo isso 100% gratuito. A gente está no sexto edital e cada turma tem, aproximadamente, 30 alunos. De três em três meses, lançamos um edital. Hoje, por exemplo, as inscrições estão abertas para esse sexto grupo.


O poder público dá algum tipo de apoio ou contrapartida para esse tipo de ação?

Para essa ação no Ludovica não, ela é totalmente custeada pelo Monte Tabor. Em relação ao poder público, a gente tem o CTDV, o Centro de Tratamento de Doenças e Úlceras Venosas, que funciona também nesse mesmo complexo onde a gente atende pacientes que têm feridas ocasionadas por problemas venosos, e que tem aquelas veias calibrosas, lá realizamos o tratamento de escleroterapia com espuma. Em vez de o paciente fazer a cirurgia, ele vai na nossa instituição, a gente avalia o caso dele e consegue fazer com que essas varizes desapareçam utilizando a espuma. Então, a gente desonera o SUS, porque não precisa de cirurgia nem de internação. Lá, atendemos pacientes que têm feridas há 15 anos.


Como o Monte Tabor passou pelo momento mais pesado da pandemia da Covid-19?

Essa parte da pandemia é bem curiosa porque justo nesse período todo o foco estava em cima da Covid-19. Então, existiam vários hospitais de retaguarda, todo mundo atendendo na Covid-19. E foi justamente nesse momento que a gente abriu uma terceira iniciativa, que foi o Luigi Verzé Ambulatório Social. O que foi que a gente observou na segunda onda? Que muitos pacientes estavam sem atendimento para outras especialidades. Mas os problemas cardíacos não desapareceram, os problemas ortopédicos não desapareceram, os problemas de ordem neurológicas não tinham desaparecido e esses pacientes estavam sem assistência. Então a gente resolveu, com médicos voluntários amigos do Monte Tabor, médicos que atendiam o SUS na época do Hospital São Rafael, saudosos de contribuir com a saúde da população de baixa renda, se colocaram à disposição para serem voluntários no nosso ambulatório social. Então, hoje a gente tem esse ambulatório social que atende gratuitamente, em mais de dez especialidades. A gente realiza, inclusive, exames de eletrocardiograma, ultrassom. A gente tem seis consultórios nesse ambulatório, que funcionam todos os turnos. Começou na segunda onda da pandemia e essa inciativa segue. Ela não tem vinculação nenhuma com o poder público, é bancada por nós com ajuda dos médicos voluntários que nos atendem.

É uma prioridade para vocês as ações em benefício da população?

A nossa missão é 'ide, ensinai e curai'. Nosso fundador Don Luigi nos ensinou que a gente precisa dar tudo aquilo que tem, porque um doente é um outro Cristo. Então, se eu encontro com Jesus na estrada, o que é que eu vou dar pra Jesus? Vou dar tudo que eu tenho. A gente entende que, de fato, a população carente é aquela que precisa mais e isso está no DNA do Monte Tabor.


Como você avalia a aprovação da lei que reajusta o piso salarial dos profissionais de enfermagem e, posteriormente, a liminar do STF que barrou essa lei?

Entendemos que todas as categorias profissionais precisam ser remuneradas de forma justa, especialmente os profissionais de saúde, que conseguiram mostrar durante a pandemia qual é o papel deles na nossa sociedade. O papel desses profissionais, do técnico de enfermagem, do enfermeiro, do fonoaudiólogo, do fisioterapeuta, todos precisam ser valorizados. O grande problema do piso da enfermagem e da discussão, é que não se diz de onde que vai vir esse recurso. Nós temos, por exemplo, técnicos de enfermagem que trabalham no CTDV, e a gente tem um contrato pequeno com o SUS. Qualquer aumento de custo, principalmente do dia para a noite, impacta na sustentabilidade do grupo. Então, é importante que de fato o piso seja feito, mas que se diga previamente como será financiado. Quais serão as fontes de recursos? Isso não foi feito. O STF de forma muito corajosa e clara suspendeu, através de liminar, até que o governo diga de onde vem esses recursos.

Falta diálogo com o poder público?

Falta diálogo. Agora, o próprio poder público sabe que as instituições, principalmente as filantrópicas, estão numa situação caótica há muitos anos por conta da baixa remuneração da tabela do SUS. A gente tem um grande exemplo disso na Bahia que é o Hospital Espanhol, que fechou há quase dez anos. Então, o poder público tem que estar muito atento a isso, porque os filantrópicos representam mais de 60% de todos os atendimentos do Brasil. Precisa ter um olhar diferente, entender as dores dos filantrópicos.

O Monte Tabor tem hoje uma relação bem próxima com o povo da Bahia?

Hoje e desde sempre, vai fazer 50 anos em 2024. E pra comemorar isso, dona Laura, Presidente do Monte Tabor, está escrevendo, e a gente quer muito que se transforme em um livro de memórias.. qual foi o impacto da chegada do Monte Tabor, e dela, que saiu da Itália, de um hospital que é de grande referência lá, e traz pra o Brasil, traz para Salvador esse foco em tecnologia. O Hospital São Rafael e o Monte Tabor sempre tiveram a inovação como foco. Aqui a gente começou a fazer no São Rafael, quando eles chegaram, o primeiro tratamento de cálculos renais com laser, o primeiro do Brasil foi feito no São Rafael. O primeiro tomógrafo do Brasil não foi no Einstein nem no Sírio, foi instalado no hospital São Rafael, outros tratamentos de vanguarda foram feitos aqui.

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