BNews Turismo
Publicado em 01/05/2022, às 12h52 Redação BNews
A Sereníssima, como é conhecida Veneza, cidade italiana de 1 600 anos, é famosa por sua arquitetura flutuante e por festivais artísticos, e segue sendo um dos destinos mais badalados do planeta. O trânsito de pessoas em seus cenários cinematográficos — palco de filmes como Morte em Veneza (1971) e 007 — Cassino Royale (2006) —, porém, vem se tornando alvo de controvérsia, segundo a Veja.
O alto fluxo de turistas poderia ser motivo de comemoração pela retomada da economia no período de flexibilização das medidas contra a Covid-19, mas reacendeu um debate sobre os efeitos nocivos do overtourism, como é definida a superlotação de um local sem estrutura para suportá-la.
O turismo em excesso, exacerbado pela popularização de empresas aéreas de baixo custo e por sites de hospedagem on-line, tem uma série de efeitos colaterais, informa a publicação. Além da superlotação, ainda impactos ambientais consideráveis.
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Diante do fato, o prefeito Luigi Brugnaro desengavetou medidas drásticas. A partir de junho, no início do verão, Veneza fará os primeiros testes de um sistema de reserva para entrada em seu centro histórico. Inicialmente, o cadastramento será gratuito. A partir de 2023 serão aplicadas taxas entre 3 e 10 euros (até 52 reais), dependendo do número de pessoas circulando (a taxa mínima é de até 40 000 visitantes).
“Seremos os primeiros do mundo a realizar esse difícil experimento. Muitos já entendem ser o caminho certo”, disse Brugnaro. O gestor ressalta que os visitantes que pernoitam em hotéis do centro já pagam uma taxa turística de 3 a 5 euros e por isso estarão isentos, assim como os moradores locais. A cobrança se limitará aos turistas “pendulares”, aqueles que não dormem na cidade, ou ainda aos que conseguem teto não registrado.
A parte mais polêmica do plano, ainda não confirmada, passa pela instalação de catracas em pontos específicos. “Me parece uma medida aceitável, já que chegamos a um ponto em que é difícil até se mover. Uma situação tão grave exige medidas impopulares”, disse a VEJA Claudio Scarpa, diretor da Associação de Hoteleiros Venezianos.
Giacomo Salerno, pesquisador e ativista do grupo Ocio Venezia, um observatório cívico residencial, considera a medida elitista e inócua. “Não creio que transformar Veneza oficialmente em um parque temático seja compatível com a função urbana de uma cidade”, diz. “É uma forma a mais de fazer caixa, sem impedir que venha mais gente. Veneza não é uma empresa, mas quem a governa a vê como a galinha dos ovos de ouro”. Ele afirma que outros desejados destinos como Roma e Florença também podem vir a adotar medidas extremas.
O overtourism não é exclusividade italiana. Segundo a ONU, o número global de turistas dobrou em quinze anos: chegou a 1,3 bilhão por ano e pode passar de 2 bilhões em 2030. Cidades como Amsterdã e Barcelona já adotaram medidas mais eficazes (e menos polêmicas), como planos de limitação do número de leitos, tanto em hotéis como em locações como o Airbnb. Na capital holandesa, os ônibus de turismo foram banidos de algumas regiões e taxas turísticas em hotéis foram implementadas. Na cidade catalã, cuja presença de turistas cresceu dez vezes em vinte anos, protestos tomaram as ruas.
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