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Bolsonaro diz que pode descartar aumento de ministros do STF se corte baixar temperatura

Aumento de ministros foi ventilado novamente após eleição de grande bancada do PL, partido de Bolsonaro, no primeiro turno  |  Reprodução // Valter Campanato // Agência Brasil

Publicado em 09/10/2022, às 14h23   Reprodução // Valter Campanato // Agência Brasil   João Gabriel, Renato Machado e Paula Soprana // Folhapress

O presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou neste domingo (9) que deve decidir sobre a proposta de aumento do número de ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) após as eleições e que ela vai depender da "temperatura" na corte.
Em entrevista para um canal no YouTube, Bolsonaro fez as contas dos ministros que pode ter a seu favor caso seja reeleito. Seriam os dois já indicados por ele, Kassio Nunes Marques e André Mendonça, mais dois que entrariam no próximo mandato, após a aposentadoria de Rosa Weber e Ricardo Lewandowski.
O mandatário foi questionado especificamente por um dos entrevistadores sobre a sugestão de aumentar a composição do STF, que tem 11 ministros atualmente. Disse que já recebeu essa sugestão, mas que vai decidir depois das eleições.
"Se eu for reeleito, e o Supremo baixar um pouco a temperatura, já temos duas pessoas garantidas lá [Kassio Nunes Marques e André Mendonça], tem mais gente que é simpática à gente, mas já temos duas pessoas garantidas lá, que são pessoas que não dão voto com sangue nos olhos, tem mais duas vagas para o ano que vem, talvez você descarte essa sugestão", afirmou o presidente ao canal Pilhado.
"Se não for possível descartar, você vê como é que fica. Você tem que conversar com o Senado também a aprovação de nomes. Você tem que conversar com as duas Casas a tramitação de uma proposta nesse sentido. E está na cara que muita gente do Supremo vai para dentro da Câmara e do Senado contrário, porque se você aumenta o número de ministros do Supremo, você pulveriza o poder deles. Eles passam a ter menos poder e lógico que não querem isso", completou.
O presidente teve um ambiente bastante amigável durante o podcast, com ambos os entrevistadores manifestando voto em Bolsonaro e repetindo mantras bolsonaristas, como críticas ao Judiciário e à imprensa.
Um deles, Paulo Figueiredo, é neto do último ditador do regime militar, o ex-presidente João Baptista Figueiredo (1918-1999). O comentarista louvou em alguns momentos o governo de seu avô, como a política habitacional.
Bolsonaro repetiu em diversos momentos críticas aos ministros do Supremo, embora não tenha usado desta vez palavras de baixo calão. Disse novamente ser perseguido e voltou a citar a determinação do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que o proibiu de realizar lives dentro do Palácio do Alvorada.
"Os caras têm lado político, os caras decidem. Qualquer ação no Supremo, TSE, dá ganho de causa para o outro lado. Não tem isenção nisso tudo", afirmou.
O candidato também fez um apelo para que a corte eleitoral não derrube a rede de influenciadores e políticos que faz propaganda intensa a ele pelo Twitter. O time jurídico do PT vem estudando os principais perfis pró-Bolsonaro e entrou no TSE com uma representação cobrando a rede social pela disseminação de fake news por essas contas.
A lista de mais de 30 nomes inclui os filhos Carlos e Flávio Bolsonaro, sendo o primeiro o líder da campanha do pai na internet, a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), o deputado federal Ricardo Salles (PL-SP), a produtora Brasil Paralelo e influenciadores como Kim Paim e Bárbara Destefani.
"Peço que nosso querido TSE não embarque nessa porque se tirar o pessoal lá e eu nada fizer aqui é você mandar um batalhão para a guerra e no meio do caminho você tira os canhões dele. É nessa situação que eu fico aqui. Eu ia entrar na guerra e, em vez de fuzil e canhão, com pau e pedra, vou perder essa guerra", afirmou, referindo-se ao segundo turno da eleição.
Bolsonaro também foi questionado sobre o deputado federal André Janones (Avante-MG) e disse que ele é um "mal tremendo à nação".
O presidente depois acrescentou que "é impossível eu governar mais quatro anos com o Supremo fazendo ativismo judicial".
Em outro momento, Bolsonaro afirmou que o STF "condena santos e liberta capetas". O presidente usou a palavra santo, em particular, para se referir ao deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), condenado por ameaças e incitação à violência contra ministros da corte.
O presidente Jair Bolsonaro também disse que, em caso de reeleição, terá muito mais facilidade para aprovar medidas de seu interesse no Congresso Nacional, por ter fortalecido a sua bancada nas últimas eleições.
"Temos um Congresso mais conservador [...] vou ter facilidade para aprovar projetos de interesse da população", afirmou.
Bolsonaro também criticou o uso pela campanha de Luiz Inácio Lula da Silva de entrevista na qual afirma que comeria um índio. Disse que a menção ao canibalismo teria o intuito de "amedrontar a população". A frase associada ao canibalismo foi dada por Bolsonaro em entrevista ao jornal New York Times.
O mandatário também acusou seus opositores de jogo sujo ao divulgarem que o senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) se tornaria ministro da Previdência em eventual segundo governo e que iria confiscar a aposentadoria de aposentados.
"Agora estão falando duas coisas aí. Primeiro, que eu sou canibal. Pô, é foda né? Aguentar um trem desse aí. A outra é que o Collor vai ser ministro e que nós vamos confiscar a aposentadoria dos aposentados. É o tempo todo assim", afirmou.
Após ter relacionado a vitória de Lula no Nordeste à alta taxa de analfabetismo na região, Bolsonaro buscou amenizar a situação e disse que nunca havia feito essa associação. E, sem provas, levantou dúvidas sobre o desempenho do petista na região.
"Falam muito que o Nordeste é reduto do PT, no meu entender não é mais reduto do PT. Tem voto lá o PT, tem. Mas não a esse ponto. Não teve festa na Bahia com o Lula com dois terços do voto pro lado dele. Não justifica isso. Então, foi bastante esquisito esse resultado", afirmou.
Bolsonaro passa o domingo em Brasília após viagem no fim de semana. No sábado (8), o presidente participou das festividades do Círio do Nazaré, em Belém. O mandatário esteve a bordo da Corveta da Marinha Garnier Sampaio, embarcação que leva a Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Nazaré, mas permaneceu isolado.
A procissão pelas águas da baía do Guajará faz parte das 13 romarias do Círio de Nazaré, considerada uma das maiores festas religiosas católicas do mundo.
Ao retornar a Brasília, no fim da tarde, o presidente foi direto para o estádio nacional Mané Garrincha, onde posou para fotos com a dupla Henrique e Juliano.

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