Geral

Brasil é denunciado em Organização Internacional por retrocessos no combate à corrupção

Brasil foi denunciado ao grupo antissuborno da OCDE  |  Divulgação/Twitter OCDE

Publicado em 10/03/2022, às 07h30 - Atualizado às 08h01   Divulgação/Twitter OCDE   Patrícia Campos Mello | Folhapress

A TI (Transparência Internacional Brasil) entregou nesta quarta-feira (9) ao grupo antissuborno da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) um relatório com denúncias de retrocessos na luta contra a corrupção no Brasil.

No documento, a TI aponta o que vê como compra de apoio político com orçamento secreto, omissão do Procurador-Geral da República, Augusto Aras, e aparelhamento dos órgãos de controle.
O combate à corrupção, ao lado da política ambiental, são os dois maiores obstáculos para o acesso do Brasil à OCDE, um dos objetivos do presidente Jair Bolsonaro (PL). O Brasil foi aceito oficialmente em janeiro deste ano para iniciar o processo de acessão à entidade.

A TI, que tem subsidiado as discussões do grupo antissuborno, pede no relatório, obtido pela reportagem, que o secretário-geral da OCDE leve em consideração a deterioração do arcabouço legal e institucional do Brasil ao avaliar a aptidão do país para aderir à entidade, "para que uma eventual acessão não signifique um endosso a práticas incompatíveis com as diretrizes" do órgão.

Leia mais: Condenados na Ficha Limpa podem ter punições encurtadas; entenda
Investigado na Faroeste, desembargador baiano é aposentado pelo TJ-BA
Desembargador e juiz afastados na Faroeste podem reassumir cargos no TJ-BA; veja quem são

Ao longo do processo de acessão, que leva em média quatro anos, o Brasil precisa aderir a uma série de instrumentos, e os 38 países que integram a OCDE avaliarão o cumprimento deles.

No início de 2021, a OCDE, pela primeira vez, criou uma força tarefa especialmente dedicada ao monitoramento da corrupção no Brasil. A entidade citou preocupação com o fim "surpreendente" da Lava Jato, o uso da lei contra abuso de autoridade e as dificuldades no compartilhamento de informações de órgãos financeiros para investigações.

No relatório enviado ao grupo antissuborno, que está reunido em Paris nesta semana para avaliar países, a TI afirma que Bolsonaro "neutralizou os dois principais pilares políticos e legais do sistema de freios e contrapesos que limitam o poder e garantem responsabilização da Presidência da República. Essa arquitetura de impunidade se expande através da interferência sobre órgãos de controle".

Segundo Bruno Brandão, diretor-executivo da Transparência Internacional Brasil, é fundamental que o grupo antissuborno considere o descumprimento da convenção da OCDE contra corrupção pelo Brasil. "Queremos que o processo de acessão à OCDE seja uma oportunidade de reverter os retrocessos do Brasil no combate à corrupção", diz Brandão.

Em novembro do ano passado, Drago Kos, chefe do grupo antissuborno da OCDE, afirmou estar "preocupado" com o Brasil.

"Se você me perguntasse há três ou quatro anos sobre o combate à corrupção no Brasil, eu teria uma resposta muito simples: o Brasil é um dos melhores, provou que pode ir do zero na luta contra corrupção para 100% e isso podia ser dito sobre todas as instituições do país. Agora, há apenas alguns indivíduos e uma ou duas instituições engajadas no combate à corrupção", disse ele durante painel da Fundação FHC. E completou: "O Brasil era um caso típico de um país altamente corrupto, que explodiu, no sentido positivo, provando, com a Lava Jato, que estaria disposto a lidar até com os casos mais difíceis de corrupção."

O relatório da TI cita também a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de que a Justiça Eleitoral deve julgar crimes comuns (como corrupção e lavagem de dinheiro) que tenham conexão com crimes eleitorais.

"[A decisão] traz um impacto sistêmico para a capacidade do Brasil de investigar e julgar grandes esquemas de corrupção, já que muitos deles são ligados a financiamento ilegal de campanhas e, agora, ficam sob a competência da Justiça Eleitoral, que é menos especializada e tem menos recursos", diz o relatório.

O texto enviado à OCDE afirma que Aras "provou sua docilidade" com a classe política, e o presidente da Câmara, Arthur Lira, acumulou um "poder extraordinário" ao centralizar o controle do orçamento secreto.

"Há a preocupação de que o convite [para iniciar o processo de acesso à OCDE] se dá em um momento de contínuo desmantelamento das estruturas que, durante anos, eram usadas para combater a corrupção, promover direitos humanos, preservar o meio ambiente e, em última instância, proteger a democracia no país.".

Siga o BNews no Google Notícias e receba as principais notícias do dia em primeira mão.

 

Classificação Indicativa: Livre


Tags denúncia corrupção stf brasil bolsonaro lava jato transparência ocde Arthur Lira combate a corrupção grupo antissuborno brasil denunciado drago kos transparência internacional brasil fundação fhc

Leia também


Câmara aprova urgência para projeto de mineração em terra indígena, mas votação fica para abril


Ministério Público abre inquérito para apurar possível quebra de isonomia no Enem


Aras é criticado após dizer que mulheres têm 'o prazer de escolher a cor das unhas'