Política

“Não adianta ônibus novos se usuário passar 3h dentro dele”, defende governo

Chefe da Sedur nega politização em licitação dos ônibus de Salvador  |  

Publicado em 11/07/2014, às 11h27      David Mendes (Twitter:@__davidmendes)


Secretário da Sedur Manuel Ribeiro

O secretário estadual de Desenvolvimento Urbano, Manuel Ribeiro, negou nesta quinta-feira (10) que o governo da Bahia tenta politizar o processo licitatório do transporte público de Salvador, após o governador Jaques Wagner (PT) enviar ao prefeito ACM Neto (DEM) um ofício com pedido de suspensão da consulta pública prevista para a próxima segunda-feira (14). “Se isso fosse verdade, teríamos enviado a carta também para toda imprensa”, afirmou Ribeiro, em entrevista ao Bocão News, ao garantir que o documento foi enviado apenas e diretamente ao gestor soteropolitano. 

No conteúdo, de acordo com o chefe da pasta, o governo faz ponderações sobre o edital que, segundo a administração estadual, não contemplaria o sistema integrado que envolve o metrô – administrado pelo Estado – e o BRT, que será gerido pela prefeitura da capital. Daí a necessidade, segundo Ribeiro, de uma discussão mais ampla e com a participação da Entidade Metropolitana, autarquia intergovernamental, com caráter deliberativo e normativo, criada há 20 dias. “[O edital] não prevê forma de integração dos ônibus da cidade com os metropolitanos. Não permite integração com os trens do Subúrbio, onde detém a população mais carente, com os ascensores da cidade, com o transporte marítimo, das ilhas, por exemplo. Salvador não possui mais espaços e as pessoas que estão migrando para cidades vizinhas [da RMS] pagarão duas ou mais tarifas”, criticou Ribeiro.
 
Em nota enviada à imprensa, o prefeito ACM Neto considerou a intromissão do Executivo estadual como uma “afronta à soberania” do Município e fez severas críticas à sugestão do governador Wagner. “A lei é tão republicana que o controle é dos municípios. Se somarmos todos os municípios, eles têm mais poder que o governo”, defendeu, ao se referir à divisão feita do colegiado da Entidade Metropolitana, composto por representantes do governo, da prefeitura de Salvador e das prefeituras da RMS. "Agora quem manda são os municipios e os prefeitos", alertou o chefe da Sedur.
 
Ainda segundo o secretário, a atual proposta formulada que trata do transporte público fará com que a administração soteropolitana assine um “cheque em branco” aos três grupos que deverão administrar os coletivos da cidade nos próximos 25 anos. “A outorga é onerosa. Cobrar das empresas R$ 200 milhões? Isso deveria ser revertido para o usuário e não para o caixa da prefeitura. (...) O edital tem que possuir um projeto básico, que estime seu preço com relação à tarifa, que possa prever reequilíbrio financeiro. Se isso tudo não for planejado acabará afetando todo o sistema”, condenou.
 
Para Manuel Ribeiro, o ideal seria mais seis meses de discussões antes de abrir os envelopes. “Vamos discutir no âmbito da Entidade Metropolitana. A gente tem a única oportunidade agora. Depois de decidido será muito difícil negociar. O povo não aguenta mais, concordo até com o prefeito, mas não adianta ônibus novos se o usuário continuar a passar, em pé, três horas dentro deles para realizar o trajeto de sua casa para o trabalho. E isso só se resolve com mobilidade. O nosso receio é que se não for bastante planejado, o metrô e o BRT não resolverão o problema do transporte público de Salvador”, defendeu.

Reportagem publicada dia 10 de julho, às 23h.

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