Artigo

ACM pediu a cassação de Bolsonaro em 1999; relembre

Imagem ACM pediu a cassação de Bolsonaro em 1999; relembre
Leia o artigo do jornalista Henrique Brinco  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 06/05/2020, às 15h42   Henrique Brinco


FacebookTwitterWhatsApp

O hoje presidente Jair Bolsonaro, envolto em ameaças de impeachment, protagonizou diversas polêmicas ao longo de quase três décadas no Congresso Nacional. Uma delas despertou a ira de Antônio Carlos Carlos Magalhães (1927-2007), então presidente do Senado pelo PFL. O baiano defendeu a cassação do mandato ex-deputado federal, integrante do PPB na época. Bolsonaro tinha 44 anos e exercia o terceiro mandato na Câmara (foram sete, ao todo). O caso foi relembrado pelo colunista Otávio Guedes, da GloboNews. Fui, então, procurar o acervo da imprensa da época.

Em entrevista ao programa Câmera Aberta, da TV Bandeirantes, Bolsonaro declarou que, na ditadura, os militares deveriam ter fuzilado "uns 30 mil corruptos a começar pelo presidente Fernando Henrique Cardoso". Ele também defendeu o fechamento do Congresso e não poupou palavras: "Eu sou favorável à tortura, você sabe disso. E o povo é favorável".

Foi nessa participação, realizada após a campanha presidencial de 1998, vencida por FHC, que Bolsonaro soltou uma frase que causaria controvérsia nos dias de hoje: "Eu votaria no Lula no segundo turno".

O programa teve ampla repercussão na mídia. "Não tenho porque tomar conhecimento das loucuras de alguém que, evidentemente, está perdendo o senso. Se ele prega isso, a Câmara deveria cassar o mandato dele", afirmou Antonio Carlos Magalhães, ao observar que não assistiu ao programa de televisão.

Naquele ano, a mesa diretora da Câmara dos Deputados decidiu se reunir para avaliar as declarações.O corregedor-geral da Câmara, deputado Severino Cavalcanti (PPB-PE), a mesa diretora da Casa solicitou a fita com a entrevista do deputado à TV Bandeirantes para analisar as declarações do deputado. A cassação de fato nunca foi à frente graças ao "centrão" da época.

O presidente Fernando Henrique Cardoso também criticou Bolsonaro por ter dado as declarações dizendo que ele deveria ter sido morto durante o governo militar. "Afirmações desse tipo mostram que o deputado não se converteu à democracia. O presidente tem certeza e espera que o Congresso tomará as medidas cabíveis", disse o porta-voz da Presidência, Georges Lamazière.

Acusação de nepotismo
Também em 1999, Bolsonaro se envolveu em uma denúncia. A edição do jornal Folha de São Paulo (o mesmo que o presidente xingou nesta semana), do dia 15 de agosto de 1999, publicou uma nota afirmando que o ex-deputado usava verbas da Câmara para empregar a sua então companheira, Ana Cristina Vale, o pai e a irmã dela. O pai de Ana Cristina, José Cândido Procópio, e a irmã, Andréa de Assis, teriam sido contratados de forma irregular pelo gabinete do deputado. Os dois moravam em Juiz de Fora (MG), embora o deputado tenha sido eleito pelo Rio.

Segundo a reportagem, o Ato 72/97 da Câmara determinava "que os funcionários 'terão exercício exclusivamente nos gabinetes parlamentares, em Brasília, ou em suas projeções, nos Estados'". "Ana Cristina, com salário de R$ 3.600, exerce cargo de confiança no gabinete do líder do PPB, Odelmo Leão. Procópio ganha R$ 2.500 e Andréa, R$ 3.000", ressaltou um trecho da matéria.

Procurado pelo jornal, Bolsonaro negou a prática de nepotismo e disse que Procópio e Andréa iam ao Rio toda semana. "Eu estou me divorciando da minha primeira mulher. A Ana Cristina é minha companheira. Não somos casados. Portanto, não são meus parentes."

*Henrique Brinco é repórter de política do BNews e do jornal Tribuna da Bahia, tendo passado pelos principais portais de notícias do estado.

Classificação Indicativa: Livre

FacebookTwitterWhatsApp