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Ao BNews, Tato revela segredo pelos 20 anos de estrada da Falamansa com a mesma formação

Imagem Ao BNews, Tato revela segredo pelos 20 anos de estrada da Falamansa com a mesma formação
Celebrando duas décadas, a banda lança um DVD 'Falamansa 20 anos' e inicia turnê com previsão de show em Salvador  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 11/09/2018, às 12h43   Tiago Di Araujo


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Hoje em dia não é nenhuma surpresa ver bandas tradicionais, e até mesmo com pouco tempo de carreira, se desfazerem, ou no mínimo, ter a saída de alguns integrantes. Em busca do sucesso imediatista, é comum ver cantores apostando em carreira solo depois de ter tido certo destaque em algum grupo. Mas, esse não é o caso da Falamansa. 

Completando 20 anos de estrada, o tradicional grupo de forró, que tem como base os mais tradicionais instrumentos do gênero, a zabumba, o triângulo e a sanfona, se mantém de forma inabalável. A prova é que a banda segue com a mesma formação desde o início da carreira, formada por Tato (voz, violão e composição), Alemão (Zabumba), Dezinho (percussão e triângulo) e Valdir (acordeon). 

O segredo, a receita, a mágica para isso, como quiserem chamar, foi revelada para nossa reportagem em entrevista exclusiva com o cantor Tato. No bate-papo, o vocalista do grupo destaca a boa convivência entre todos os integrantes, o foco no objetivo principal da banda, e ressaltou o respeito aos que podemos chamar de "ritmos do momento", que atualmente têm atenção da mídia. 

Em comemoração, a banda lançou um CD e DVD 'Falamansa 20 anos', que conta toda trajetória através das canções que se tornaram sucesso no Brasil e também em muitos países do mundo. A gravação "íntima", entre amigos, como Tato gosta de falar, aconteceu em julho do ano passado, em Itaúnas, no Espírito Santo, e contou com participações pontuais, que mesmo "fora da moda", no bom sentido da expressão, agregam ainda mais valor ao trabalho da Falamansa. 

Confira a entrevista na íntegra abaixo:

BNews - Manter um grupo por 20 anos é uma tarefa difícil na realidade da música brasileira?

Tato - Sem dúvida nenhuma. Acho que historicamente a gente sabe que é difícil. Você analisa poucas bandas no cenário, que tem muito tempo de estrada e nosso caso ainda com a mesma formação, o que intensifica mais isso. Eu acredito que é difícil porque eu vejo externamente na história música brasileira, na música mundial, que não é uma tarefa fácil. Mas, se você perguntar se isso foi uma tarefa difícil para nós, nos mantermos unidos, eu já diria que muda de figura. Porque a banda sempre teve a mesma meta, o mesmo objetivo musical e de intenção também, do que a Falamansa queria ser, do que a Falamansa queria falar nas letras. Então, nós quatro nos mantivemos sempre com uma intenção muito boa do que a gente queria fazer, o mesmo objetivo, e isso facilitou as coisas. Acaba sendo um negócio de olhar para trás e falar: "caramba, 20 anos já né?". Eu acho essa a diferença, a gente não se aturou durante 20 anos, a gente trabalhou por um mesmo objetivo durante 20 anos e isso sem dúvida tornou tudo mais fácil. 

BNews - Existe alguma "receita", algum segredo para isso? 

Tato - O segredo é o mesmo para qualquer empresa, os sócios terem o mesmo objetivo e esse é o nosso caso. A gente acredita muito no que a gente faz. Acredita nessa busca pela musicalidade, do forró, da cultura, de zabumba, triângulo e sanfona como base do que a gente faz, a gente nunca mudou porque o mercado mudou, e a gente acredita também na temática que a gente usa nas letras, sempre falando de alegria, de fé, de amor, de esperança, de motivação, consciência ambiental, consciência social, coisas que a gente acredita que fazem bem, não só para nossa música e também para quem as escuta em um cenário social. Então, isso é uma meta nossa desde o início, a gente começou a banda assim e continua assim. A receita é essa em nosso caso, e acho que em qualquer caso de empresa, mesmo objetivo, todo olhando para o mesmo lugar. 

BNews - Em algum momento nesses 20 anos, houve a possibilidade de separação, de encerrar as atividades? Porque?

Tato - Na verdade a Falamansa foi uma banda que engatou um trabalho atrás do outro. A gente não teve tempo em pensar em nada. Desde o início, as oportunidades sempre foram fazendo com que a gente abraçasse e fizesse. A Falamansa é um banda que fez. Que agora a gente olha para trás e fala: "caramba, 20 anos já". Não é uma banda que ficou parada se analisando, tipo: "vamos parar, vamos continuar". Não. É um disco atrás do outro. Se analisar nossa história, de 20 anos, se traçar uma média de discos pela quantidade de anos da banda, é um disco a cada dois anos, o que é uma méida muito boa. E os acontecimentos que vêm através da história, são acontecimentos que só motivam a gente. São shows todos os finais de semana, pessoas que têm gratidão à banda, pelo o que a banda fala e pelo o que a banda faz pela cultura brasileira. Todas as outras coisas você consegue comprar, mas isso aí, a gratidão, o respeito, você não compra. E quem quer se separar quando tem pessoas te falando isso? Te demonstrando isso no seu dia-a-dia? A Falamansa é uma banda que sempre pensou em melhorar e nunca parar ou separar. 

BNews - Sabemos que a Falamansa ficou nacionalmente e internacionalmente conhecida em determinado período. Mas, houve depois uma certa limitação na divulgação e exposição do grupo, que já não aparece tanto quanto antes. O que houve?

Tato - Eu acredito que para qualquer empresa, e colocando a Falamansa também como uma empresa, você tem que saber o tamanho da perna que você deve ter em todos os momentos da sua vida. Analisando o mercado, analisando o que acontece no seu meio profissional e a Falamansa soube fazer isso muito bem. Em consequência disso, é claro, você não fica tão exposto à mídia como os estilos que são os que mais aparecem no mercado. Então, a Falamansa não parou de fazer shows desde que começou a carreira. Mas, é claro que em todo momento, temos que saber o momento da perna que temos e que precisa ter para o tamanho da água. A gente se mantém fazendo isso e principalmente escolhas, para cada escolha tem que saber que há uma renúncia também. A Falamansa fez suas escolhas, de não mudar o estilo e começar a tocar sertanejo ou qualquer outro estilo, a escolha de fazer uma musicalidade que fale de coisa boa, mesmo vendo tanta música que fala de vingança, de traição, de coisas que as pessoas nem percebem que influenciam na vida delas, mas que a mim pelo menos influencia, e eu quero ser contrário a isso sempre em meu trabalho. Então, a gente sempre soube que fazer essas escolhas talvez nos tirássemos um pouco do que acontece hoje no mercado. Mas, esse tirar não é enfraquecer. Existe um mercado, não só da Falamansa, mas de muitas bandas, que ele vive bem sem precisar desse barulho todo. Eu acredito que tem coisas que parecem e tem coisas que são. Existe uma diferença gigante entre ser e parecer. Nosso mundo é cada vez mais um parecer. Mas, ser é difícil. E Falamansa há 20 anos é. É uma banda que faz e apresenta trabalhos. Isso nunca vai te tirar do cenário. Talvez você não apareça tanto, mas continua fazendo. 

BNews - Com tantos anos de estrada, como vocês enxergam essa perda de espaço do forró, principalmente para o sertanejo, em que alguns artistas do forró migraram para o gênero?

Tato - Isso eu acredito que é uma demana. Se a Falamansa ou qualquer banda de outro estilo não souber lidar com isso, enlouquece. Porque isso é uma demanda e eu compreendo isso. Se exitse tantas bandas de sertanejo, se existe tanto funk rolando, é porque existe uma demanda. E eu acho que a questão dessa debandada  de forrozeiros. Na verdade, eu acho que não é nem um debandada. Eu acho que hoje todo mundo hoje toca meio que o mesmo estilo musical, que é o reggaeton. É uma batida universalmente conhecida como a batida do sucesso. Não só no Brasil. Nos Estados Unidos também é assim, os países latinos usam muito isso já há muito tempo, que é uma batida, que é a batida comercial do momento. E todo mundo faz isso buscando esse sucesso. Então, eu acredito que esse sucesso existe mesmo e não dá para que está errado. Não está errado. Tem uma demanda, tem pessoas querendo ouvir. O que cabe a nós fazermos sempre é trabalhar, levar adiante o que a gente acredita, levar adiante o que a gente faz e sempre empreendendo nesse mercado, se não você se frustra. E não existe motivo para frustração em uma banda que já tem 20 anos de história e ainda hoje ativa na estrada. Eu acho a Falamansa revolucionária na verdade, tipo Star Wars, Luke Skywalker (risos).

BNews - Vocês acham que o forró pode voltar a ser o "carro-chefe" da música brasileira? 

Tato - Eu acredito que "carro-chefe" de um mercado é uma música. Eu entendo que tem artistas que se mantém presentes na mídia com vários trabalhos. Mas, a música é capaz de tudo, capaz de pegar um cara que gravou um vídeo caseiro e levar ele para o país inteiro e desbancar qualquer topfive.  É interessante isso. A internet virou uma terra de oportunidades e porque não dizer, para Falamansa também? É claro que a gente acredita em um caminho mais longo e talvez, no meu caso principalmente, falando pessoalmente, que estou fazendo algo que faz parte da nossa cultura há mais de 120 anos, eu não posso querer está aqui para assistir o meu trabalho ser "carro-chefe" de novo. Eu tenho apenas que fazê-lo e colocá-lo em uma estante, que é a estante cultural brasileira. Talvez, eu não vá assistir isso hoje, mas eu não tenho que ser egoísta ao ponto de querer assistir isso. Eu acredito que isso daqui há 100 anos possa acontecer, 200 né. Então, eu não acredito que eu possa está aqui, talvez, para ver nossa música ser "carro-chefe", mas eu acredito que nossa música vai está sempre voltando em várias gerações como um referência cultural. Hoje, você vai em uma festa de casamento, rola o forró, rola Falamansa. Em uma festa de debutante, na hora do forró, rola Falamansa. A banda de baile na hora do forró, toca Falamansa. Então, é uma presença cultural que já não depende de eu está aqui para assistir. Claro que eu gostaria. Mas, espero que aconteça de qualquer forma, mesmo não estando. 

BNews - Porque o estilo que vocês defendem, no caso um forró menos "eletrônico", tem menos espaço na mídia do que o forró mais "eletrônico"?

Tato - Eu acredito que no nosso caso, a gente uma musicalidade sabendo da suas limitações, entendendo o mercado. Tal como o forró eletrônico, por se aproximar mais do que acontece hoje em dia, do sertanejo, ele acaba tendo mais visibilidade, isso é claro. Mas, isso é uma coisa que sempre existiu com outros ritmos. A gente não pode achar isso errado porque, é claro, se eu quiser, eu vou mudar minha estrutura musical e vou lá igual a eles, talvez tenha mais visibilidade. Mas, em nosso caso, é intenção mesmo, a busca é essa. Não posso ficar olhando para quem escolheu diferente. Eu sei porque eles escolheram. Mas, eu escolhi isso e também sei por quê. 

BNews - Agora, com mais espaço ou menos espaço, midiaticamente falando, vocês chegaram em uma marca histórica, que são os 20 anos, ainda mais com a mesma formação. Qual o "sabor" dessa realização?

Tato - O respeito, que através da carreira, se mantendo fiéis ao que a gente acreditava, principalmente quando você trabalha com letras também que fazem bem para as pessoas, isso aí, ao longo dos anos vai demonstrando pra gente essa volta, esse feedback histórico da banda, sobre o quanto a gente influenciou a vida das pessoas, pessoas que se casaram, pessoas que eram depressivas e saíram da depressão, pessoas até que queriam tirar a vida e não tiraram por causa de determinadas músicas. Então, é disso que vale o que a gente faz. Nós somos propagadores de mensagens. Nada mais saboroso, usando o termo que você usou, do que chegar 20 anos depois e ver que essa sua mensagem foi propagada da maneira que você queria, que você não mudou a sua veia, não mudou o seu jeito de enviar essa mensagem ritmicamente, e aí, chegar em 20 anos e sentir isso, é uma sensação de dever cumprido e principalmente de motivação. Diria que a Falamansa ela sobrevive moralmente disso, mais que qualquer outra coisa. 

BNews - Como foi organizar essa comemoração, que gerou um DVD? Como foi pensado os nomes para participar, as músicas, o cenário?

Tato - A gente tentou resumir um pouco da história da banda, através das canções, através das suas temáticas, sempre com temas que a gente sempre gostou de usar durante todo tempo, agregamos também a elas músicas novas que tivessem a mesma intenção, como 'O Dinheiro Não Compra o Amor', 'Joia Rara', músicas que têm a mesma intenção desde o início da carreira da banda, e chamamos também participações para contar um pouco da história da banda através delas. Grandes amigos, parceiros. Ao invés de chamar pessoas que não fazem parte da nossa história, que possivelmente, claro, iam agregar fãs e agregar visibilidade para o trabalho, pessoas da moda, não. A gente pensou em chamar pessoas que fazem parte da nossa história para que nosso público conheça. Aí foram participações como Rastapé, Bicho de Pé, que são bandas que fazem parte da nossa história. O Mestrinho, que é da nova geração, um sanfoneiro, musicista fantástico, que hoje toca com Gilberto Gil. Chamamos o Targino Gondim, que já é uma veia do Nordeste, desse movimento do forró que rolou junto com a gente. E nossos grandes mestres, mas da nossa história, o Enok Virgulino, do Trio Virgulino, o Luís Mário, do Trio Nordestino, e Dió Araújo, do Trio Xamego, que são três referências na nossa musicalidade, que muita gente não conhece e a gente fez questão de colocar. Ou seja, um DVD entre amigos, entre familiares, assim pode se dizer. 

BNews - Após 20 anos, ainda há fôlego para inovar, surpreender? Como será a fase da Falamansa após o marco de duas décadas?

Tato - É engraçado porque nesses 20 anos a gente não conseguiu nenhuma vez já planejar o próximo. Na verdade, as oportunidades e os momentos fizeram a gente fazer tudo que a gente fez. Eu dou um exemplo, a gente fez um disco pensando em fazer um DVD, era o centenário de Luiz Gonzaga, aí a gente foi e fez o disco em homenagem a Luiz Gonzaga. Logo depois, o público estava pedindo muito música inédita, porque vinhamos de um DVD, aí fomos lá e fizemos um disco de inéditas. Depois disso, "vamos fazer um de inéditas?". Não, está chegando o DVD, de 20 anos. Então, é isso, basicamente a gente ainda acredita que essas oportunidades estão sempre aparecendo pra gente fazer trabalhos novos. Existe uma vontade de fazer um trabalho, quem sabe mais acústico, é uma coisa que a gente não fez ainda, mas a ideia principal é viver o momento e fazer desses momentos, principalmente agora com o DVD, mais um ato na nossa história. 

BNews - O que mais faz parte das comemorações de 20 anos? Vai ter turnê? Já tem cidades programadas?

Tato - A gente tem uma previsão de turnê pelo Brasil inteiro, que já iniciou. Já fizemos São Paulo, já fizemos Rio de Janeiro com esse lançamento, a gente faz agora BH (Belo Horizonte), e é claro que esse show também já está correndo em cidades do interior. A gente conseguiu fazer uma estrutura de show que a gente pudesse levar para qualquer lugar. Isso que é bacana também. As cidades do interior vão ter o mesmo show que as cidades da capital e acredito que Salvador em breve a gente já deve fazer uma comemoração bem especial. Aliado a isso, a gente está lançando não só o CD físico, o DVD em todas as plataformas digitais, e aliado a esse lançamento dos 20 anos, a gente inaugura também a loja, com os produtos da Falamansa e produtos desse DVD especificamente. Está muito bacana porque a gente está alinhando vários caminhos, vários veículos de propagação da banda para ficar mais presente aí no mercado. 

Classificação Indicativa: Livre

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