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Plantio do algodão aumenta e movimenta R$ 4,5 bilhões na Bahia

Imagem Plantio do algodão aumenta e movimenta R$ 4,5 bilhões na Bahia
Júlio Busato – presidente da Abapa, traçou panorama ao BNews durante a 15ª Bahia Farm Show  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 09/06/2019, às 08h00   Eliezer Santos


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A economia da Bahia recebe por ano uma injeção de R$ 4,5 bilhões vinda da produção de algodão – que majoritariamente acontece em cidades do oeste do estado e gera renda diretamente para mais de 30 mil pessoas. Este ano a área de plantio aumentou em 25%, mas os produtores enfrentaram condições climáticas pouco favoráveis. 

Ainda assim, a produtividade deve ficar entre 300 e 305 arrobas por hectare, contou Júlio Busato – presidente da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), em entrevista ao BNews durante a 15ª Bahia Farm Show, em Luís Eduardo Magalhães, na última semana. 

Em cinco dias de programação, a maior vitrine do agronegócio do Norte e Nordeste gerou R$ 1,9 bilhão em volume de negócios. Por lá passaram o governador da Bahia, Rui Costa (PT), e a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que admitiu preocupação com lançamento do Plano Safra 2019/2020 – principal linha de crédito para trabalhadores do campo. 

“Sem isso, ou o produtor vai deixar de plantar ou vai ter que diminuir o seu nível de tecnologia, principalmente na aplicação de fertilizantes. E isso vai representar lá na frente numa menor produção da safra brasileira”, comenta Júlio Busato.

Ele diz que o setor acompanha com expectativa o desenrolar do governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) na confiança de ver intervenções na infraestrutura para melhorar a logística no escoamento da produção e abertura de novos mercados. 

Os registros de violência no campo, a posse e o porte de armas para agricultores, além do prognóstico de greve dos caminhoneiros foram temas de um panorama apresentado pelo presidente da Abapa. Confira:

BNews - Como está a produtividade e expectativa para a safra do algodão?

Júlio Busato - Esse ano nós tivemos um aumento em torno de 25% da área plantada. As condições climáticas não foram às melhores, ali no período de janeiro e fevereiro. Nós não vamos ter a produtividade que tivemos o ano passado, que foi 330 arrobas por hectare. Porém estamos estimando uma produtividade entre 300 e 305 arrobas. Isso é uma excelente produtividade de qualquer forma. Não vai ser nosso melhor anos de produtividade, porém vai ser o melhor ano de produção em função do aumento da área que nós tivemos. Essa produtividade a nível mundial continua sendo a maior de algodão não irrigado do mundo graças ao trabalho que os agricultores têm feito em favor do seu solo, na melhoria dos processos de produção, na melhoria da lavoura. A Bahia tem esse orgulho, que além de ser o segundo maior produtor de algodão do Brasil, de ter o algodão de melhor qualidade do Brasil e segunda melhor do mundo, ainda tem essa produtividade.

BNews - Quanto a produção do algodão representa na economia da Bahia?

Júlio Busato - O algodão vai movimentar 4,5 bilhões de reais este ano na Bahia. O que você tem que olhar é...da economia da Bahia, de onde vem o maior dinheiro? Camaçari. Polo petroquímico – 160, 170 bilhões de reais que vem daí. O Oeste, quando você somar todo o algodão é 4,5 bilhões, mas o resto é 12 bilhões de reais. Nós somos pequenos dentro do todo, agora, nós [do agronegócio] somos a terceira maior em renda da Bahia. Não sei se nós já superamos lá o Sul...não, acho que ainda não, porque tem a celulose lá no sul. O Polo petroquímico foi um negócio instalado pelo governo, se ele fosse instalado aqui, seria aqui. Infelizmente ele não foi, nem teria como né...porque precisa ter o mar e aqui não tem. Agora, isso aqui há 30 anos, essa cidade aqui, era o que? Era um posto de gasolina no meio do deserto. Você olhava para lá tinha cerrado, olhava para lá também...e eu estava aqui.

BNews - Quantas famílias são alcançadas com a economia do algodão?

Júlio Busato - Só no algodão são 30 mil pessoas que estão envolvidas diretamente no processo de produção. 

BNews - Quais municípios do Oeste com maior produção de algodão?

Júlio Busato - Na ordem são São Desidério, Barrreiras, Luís Eduardo Magalhães, Formosa do Rio Preto, Riachão das Neves.

BNews - Como vocês receberam o decreto de ampliação da posse e porte de armas a produtores do campo?

Júlio Busato - Eu diria que é uma necessidade. Você imagina se uma pessoa que está na fazenda, próxima à segurança, próximo ao posto policial já não se sente tão seguro, então você imagina se você morasse a 200 quilômetros da cidade. As fazendas estão totalmente desprotegidas e não tem sistema e nem número de pessoas que vai resolver isso. A única forma de resolver isso é o ladrão saber que a pessoa pode estar armada. A única coisa que para o sujeito mal-intencionado armado é o sujeito bem-intencionado armado também. Então é isso que está se buscando: segurança no campo das pessoas que ali vivem porque elas não têm. E não é por um sistema que está errado, é em função da distância que elas se encontram e da logística. É difícil as pessoas da cidade entenderam isso porque elas não vivenciam isso é não estão com essas distâncias. E realmente é difícil de entender.

BNews – Como estão os casos de violência no campo aqui no Oeste?

Júlio Busato - Felizmente diminuiu muito os assaltos às propriedades, onde chegavam vinte pessoas armadas à noite e prendiam todas as pessoas da fazenda, às vezes tinha 150 pessoas na fazenda, eram todas rendidas, eles aterrorizavam essas pessoas para roubar os defensivos agrícolas. Felizmente, em uma operação em parceria com a Aiba [Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia], da Adab [Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia] e a Secretária de Segurança Pública, através da Polícia Militar, nós criamos a operação safra que reduziu isso muito. Mas de qualquer forma os agricultores continuam expostos.

BNews - Desde a assinatura do decreto houve acréscimo no número de pedidos de posse e porte de arma entre agricultores?

Júlio Busato - Esse número não tem ainda. O que a gente sabe é que é uma necessidade.

BNews - Nesses cinco meses de governo, como o senhor está analisando as políticas do Ministério da Agricultura?

Júlio Busato - A ministra Teresa Cristina está fazendo um esforço danado, está trabalhando muito com essa questão do crédito agrícola. Nós sabemos que a nossa necessidade não será completamente atendida em função da conjuntura econômica do país. Nós temos que entender essa questão e procurar outras formas de formar nossas lavouras e é isso que estamos fazendo. Quanto às mudanças, acho que tudo demora algum tempo apesar de que o [ex] ministro Blairo Maggi fez um excelente trabalho no ministério e deixou a casa arrumada, então nós temos a esperança e a certeza de que a ministra vai conseguir fazer um excelente trabalho e vai atender aos anseios dos agricultores.

BNews - Quais são as principais pautas na mesa que atenderiam ao agronegócio hoje? 

Júlio Busato - A primeira coisa que nós precisamos resolver é o problema da infraestrutura, principalmente de logística. Para nós continuarmos crescendo, precisamos conquistar mercados. Para continuar produzindo o que estamos produzindo, precisamos manter os nossos mercados. Outros países estão avançando, estão investindo em logística melhor, em processo de produção, ninguém está parado e nós precisamos avançar e rápido.

BNews - Quando fala sobre infraestrutura, a que se refere?

Júlio Busato - Estou falando de ferrovia, porto, de hidrovia, das próprias rodovias também e de agilização nos processos.

BNews - Há algum temor no setor sobre possível greve dos caminhoneiros este ano?

Júlio Busato - Não. Não porque eu acho que não existe clima para isso e nem um motivo para isso. Na primeira greve que aconteceu a narrativa era aumento no preço do óleo diesel e nós agricultores fomos solidários aos motoristas, e nos sentimos enganados porque no final a história não era essa. Era emplacar uma tabela de frete e um tabelamento que não tem nenhum sentido em uma economia aberta. A população também estava a favor. Hoje eles não têm o apoio da população e também não tem o apoio dos agricultores. Então, se eles fizerem um movimento, estarão sozinhos. 

BNews - O governo federal anunciou que ainda há incerteza na liberação do orçamento do Plano Safra 2019/2020. O montante, avaliado parcialmente em R$ 10 bilhões, está contido no crédito suplementar de R$ 248 bilhões que o governo precisa aprovar no Congresso. Qual o tamanho da importância do Plano Safra para vocês agricultores?

Júlio Busato - Muito grande porque os agricultores dependem de crédito para formar sua lavoura, comprar os insumos...Existe uma dependência grande hoje da agricultura e dos agricultores do crédito oficial do governo. Sem isso, ou o produtor vai deixar de plantar ou vai ter que diminuir o seu nível de tecnologia, principalmente na aplicação de fertilizantes. E isso vai representar lá na frente numa menor produção da safra brasileira.

BNews – Como vocês veem o acirramento na relação do presidente Bolsonaro com o Congresso e o poder Judiciário? Há ânimo entre vocês que ele consiga contornar as coisas?

Júlio Busato - Acho que isso com certeza trava o andamento do país. Agora, de quem é a culpa? Ou não tem culpado? É difícil opinar porque quem tem razão? Acho que ninguém tem razão. Eu diria que é com uma tristeza muito grande que a gente fica observando isso porque, afinal, nós precisamos avançar nessas questões que vão destravar o Brasil e fazer com que a vida de todos melhorem. É uma coisa que era desnecessária estar acontecendo. Nós temos a esperança que num período curto de tempo isso seja alinhado e as coisas comecem a andar. Porque ao fim todos queremos ir para o mesmo lugar, ou seja, desenvolvimento, crescimento, poder ter mais investimento na agricultura, mais investimento na indústria para gerar mais emprego, mais rendar e aumentar o consumo.

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