Feriado / 7 de setembro

Ato contra Bolsonaro no Anhangabaú tem gritos de 'fascista' e pedido de impeachment; veja vídeo

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Bnews - Divulgação Reprodução

Publicado em 07/09/2021, às 21h26   Folhapress



A poucos quilômetros das manifestações que ocorreram, nesta terça (7), na Avenida Paulista, em São Paulo, um grupo também se reuniu para protestar contra Jair Bolsonaro (sem partido) e pedir o impeachment do presidente. O protesto no Anhagabaú, centro da capital, teve gritos de "fascista", "genocida" e críticas à condução da pandemia pelo governo federal. Também foi marcado por cobranças pelo combate à fome e contou com arrecadação de alimentos. Foi realizado em conjunto com o Grito dos Excluídos, promovido tradicionalmente na data por alas da Igreja Católica.

Embora o vermelho ainda predominasse, as cores da bandeira brasileira, marca das manifestações da direita, foram resgatadas pela esquerda no protesto contra Bolsonaro. Uma faixa verde e amarela de 100 metros de comprimento e 9 de largura ocupou todo o calçadão que liga a Avenida São João ao Vale do Anhangabaú, região central da cidade. Com tinta preta, dezenas de manifestantes pintaram a frase "Fora Bolsonaro Impeachment Já".

"Essas cores são do país, não são deles", disse Annebelle Rene Ambria, membro do Juventude Pátria Livre, que confeccionou a faixa. Segundo ela, o movimento "quer disputar as cores da bandeira, da qual os bolsonaristas se apropriaram". O ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), disse em discurso no final do ato que Bolsonaro conseguiu dividir os brasileiros no dia da Independência.

"Temos um ato na Paulista de gente defendendo o fascismo e a tortura. Depois de três anos de destruição dos empregos, da vida e da esperança, o que essas pessoas estão fazendo na Paulista? Por que não estão aqui com a gente?", disse. Ex-candidato à Presidência e à prefeitura, Guilherme Boulos (PSOL) disse que a rua é do povo, não dos fascistas. Ele criticou falas de Bolsonaro que põem dúvidas na lisura do processo eleitoral e defendem o armamento da população.

"O Brasil não quer saber de ataques às urnas eletrônicas. O Brasil quer saber do combate à fome, do preço do feijão, e não do fuzil.", disse. Boulos também condenou falas autoritárias e de apoio à ditadura. "Nós somos herdeiros de uma geração que deu a vida pela democracia, de uma geração que foi torturada, que foi perseguida, que foi censurada e foi assassinada. E nós não vamos entregar a nossa liberdade pra eles. Nós não vamos entregar e nem desistir da nossa luta e dos nossos sonhos".

Citando Guimarães Rosa, disse que a vida exige coragem. "E é com coragem que nós vamos derrotar o genocida. Aqui tem um povo sem medo. Fora, Bolsonaro", completou. O protesto reuniu partidos de esquerda, como PSTU, PSOL, PCO e PT, além de representantes dos movimentos negro e feminista. Participaram os deputados federais Orlando Silva (PCdoB), Paulo Teixeira (PT) e Gleisi Hoffmann (PT), o vereador Eduardo Suplicy (PT-SP) e a deputada estadual Isa Penna (PSOL). A presença do ex-presidente Lula (PT) chegou a ser cogitada, mas não se concretizou.

A organização dos atos foi marcada por desencontro entre os opositores a Bolsonaro. Alas à esquerda e à direita convergiram no discurso de que era preciso dar uma resposta também nas ruas à manifestação bolsonarista, mas, fragmentadas por interesses ligados às eleições de 2022, travaram na falta de uma reação unificada.

Apesar dos acenos para fora, a participação na capital paulista dos diretórios municipais de PSDB e PDT foi atacada por integrantes do PCO. Militantes do partido chegaram a agredir tucanos na avenida Paulista em 3 de julho. Apoiadores de Ciro Gomes também relataram hostilidades.

A manifestação começou a ganhar mais força no início da tarde, pouco depois das 14h, e estava programada para encerrar antes das 19h. Segundo organizadores, 50 mil pessoas participaram da manifestação no Vale do Anhangabaú. A Polícia Militar estimou 15 mil pessoas.

O local foi escolhido após uma disputa pela avenida Paulista, que está reservada para os bolsonaristas, e um embate judicial com a gestão João Doria (PSDB), que chegou a proibir a realização no mesmo dia de protestos contra Bolsonaro, mas recuou.
Nesta terça, no Anhangabaú, muitas mulheres se reuniram em um bloco de carnaval. A canção "Bella Ciao", símbolo da esquerda recentemente revivido pela série espanhola "La Casa de Papel", virou "Bozo Tchau".

Grupos de percussão espalharam-se por todo o ato, com paródias carnavalescas que incluíram hits do funk e da MPB. "Eu só quero é ser feliz, derrubar o presidente e salvar o meu país" releu, por exemplo, famosa com posição de Cidinho e Doca sobre as favelas.
A Polícia Militar contou com dezenas de homens portando armas de fogo e cacetetes e realizou revistas não apenas em pontos de acesso à manifestação contra Bolsonaro, mas também em pontos de concentração.

Um tenente da Polícia Militar apreendeu uma lata de tinta spray do programador Bruno, 27 (ele não quis passar seu sobrenome para a reportagem). O policial, chamado Farina, justificou a apreensão dizendo que a tinta era inflamável, conforme registrado no rótulo da lata.
"É para a segurança dos manifestantes", disse. Bruno definiu a ação como "tirana e abusiva".

Segundo organizadores, houve protestos contra o governo em 200 cidades. No Rio de Janeiro e Brasília, as manifestações ocorreram na parte da manhã, terminando por de 12h. No Rio, após concentração na rua Uruguaiana, os manifestantes seguiram às 11h em direção à Praça Mauá, centro da cidade, e se reuniram em frente ao MAR (Museu de Arte do Rio).

No trajeto, chamaram o presidente de genocida e entoaram gritos de fora Bolsonaro. Segundo os organizadores, o ato reuniu 25 mil pessoas. A PM ainda não divulgou números. Pelo menos 20 policiais acompanharam a manifestação.

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