Feriado / 7 de setembro

Polarização no Brasil transforma 7 de setembro em jogo de cena política, diz historiador

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Data cívica do 7 de setembro é analisada por historiador baiano  |   Bnews - Divulgação Divulgação / Youtube

Publicado em 07/09/2023, às 05h50 - Atualizado às 12h26   Verônica Macêdo


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A independência do Brasil aconteceu em 7 de setembro de 1822, quando, D. Pedro I proclamou o grito de libertação do Brasil em relação à Portugal, às margens do Rio Ipiranga, na atual cidade de São Paulo.

Para o historiador Ricardo Carvalho, a celebração é, ao mesmo tempo, uma exaltação e uma necessidade de recordação. Então, celebrar é uma forma de dizer: "olha, nós achamos essa data significativa, isso é importante para a sociedade porque tem determinadas vinculações em termos de conquista para a sociedade".

No caso do 7 de setembro, é uma forma de celebrar a independência do país, o rompimento do Brasil em relação à tutela do Império Português. E a celebração também traz o significado de rememorar, de manter viva a ideia e, por isso, a importância de ser um país livre. Então, tem esse significado que é muito proeminente, em particular, nessa data.

Em entrevista ao BNews, o historiador explica que, durante muito tempo na história do Brasil, o 7 de Setembro era apenas uma data referenciada, que tinha relação com o grito de independência de D. Pedro e com o fato de que o hino nacional foi oficializado nesse dia, mas o feriado mesmo só surgiu durante o governo de Eurico Gaspar Dutra, em 1949, e depois foi ratificado durante o governo de Fernando Henrique Cardoso.

De acordo com Ricardo Carvalho, os desfiles cívicos são uma tradição getulista que acabaram ganhando formatos bem diferenciados, em particular, no Nordeste, em que os elementos do regionalismo, do uso de animais e carroças vão sendo incorporados progressivamente ao 7 de setembro. Nos últimos anos, pela polarização política do país, a data cívica passou a representar um jogo de cena do ponto de vista das forças que se opõem dentro do cenário político do Brasil atual.

“A grande questão é que, ao longo da história do Brasil, a celebração do 7 de setembro foi servindo a determinados grupos políticos ou regimes em vigência. Eu fui criança durante o regime militar e vi um excesso de militarização na data, do uso da bandeira como elemento de autoridade e não de patriotismo no sentido de vínculo do cidadão em relação à sua pátria, seu país. Então é um nacionalismo, na verdade, revertido de militarismo”, esclarece Carvalho.

Segundo ele, isso aconteceu durante os anos do regime militar e passou a ter agora uma nuance diferente. “Então, como é uma data de grande importância, é bom lembrar que é uma data de Estado e não uma data de governo. Isso é muito importante enfatizar”, explicou.

Com essa afirmação, o historiador baiano quer deixar claro que a data cívica não pertence ao partido político que, em determinado momento, rege o país por conta de um processo democrático, mas à nação. “Politizar, partidarizar o 7 de setembro é algo lamentável, assim como é lamentável a militarização dessa data durante o regime militar”, salienta Ricardo.

Ainda em entrevista ao BNews, o historiador chama a atenção para o fato de que o 7 de setembro tem seu lugar na história, é a data simbólica da independência do Brasil, mas o 2 de julho de 1823 é a data da libertação nacional.

“Eu não tenho como fazer uma previsão, o historiador não tem esse direito de fazer uma previsão da história, mas o que eu percebo e sinto é que, progressivamente, o 2 de julho vai absorvendo, na Bahia, e quiçá, no resto do Brasil, um significado muito maior do que o 7 de setembro. Então, o baiano tem uma vibração muito maior pelo 2 de julho”, opina Carvalho.

Argumentando sua opinião, o especialista salienta que o 2 de julho foi o dia da libertação nacional, o dia que garantiu não só a expulsão definitiva das tropas portuguesas das terras baianas, mas também representou a libertação da unidade territorial do país.

“Eu, pelo menos, desejaria que o 2 de julho ganhasse cada vez mais expressão, que a gente lembrasse do 7 de setembro, mas que reconhecesse, indiscutivelmente, o 2 de julho como a verdadeira data da libertação nacional”, arremata.

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