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Anísio: a educação como processo de revolução

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Publicado em 27/07/2020, às 06h03   Victor Pinto


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Fiquei feliz quando vi a sanção da homenagem feita ao célebre Anísio Teixeira. O baiano de Caetité, um dos maiores pensadores do setor educacional no Brasil agora é patrono da Educação baiana, a partir de projeto de autoria do governo do Estado e aprovado recentemente pela Assembleia Legislativa. Anísio era um apaixonado pela área e sabia do poder propiciador de uma revolução social sem tamanho. De fato: conhecimento é empoderador e combustível da evolução da pessoa, de uma família, de uma comunidade. 

Anísio foi um dos maiores do ensino público brasileiro. Na década de 20 rodou o mundo em busca de um processo exemplar que pudesse ser instalado no Brasil. Biógrafos do baiano narram que em 1925 ele visitou várias cidades da Espanha, Itália, Bélgica e França. Em 1927 viajou para os Estados Unidos e em 1928 fez um curso de pós-graduação na Universidade de Columbia.

Assumiu cargos de alto poder de execução e instituição de uma nova forma de educar a nível federal e também na Bahia. Sua grande obra foi a Escola Parque, em Salvador, onde pensava implementar uma forma de educar em tempo integral: o aluno passaria o dia todo aprendendo as mais diversas facetas e não só o conteúdo didático tradicional.

Conforme a revista Nova Escola, Teixeira foi pioneiro na implantação de escolas públicas de todos os níveis e propunha que a rede deveria ser de tempo integral. Defendia a municipalização do ensino e que as escolas se responsabilizassem pela promoção de cidadania e saúde. Morreu em 1971 de maneira bem estranha o qual muitos apontam ter sido ele vítima da repressão, da Ditadura. Foi encontrado caído no vão de um elevador. Sua filha, em depoimento em um documentário, acha pouco provável que tenha sido um acidente. 

Nas conferências de Educação que participei conheci e debati suas teses, suas ideias e minha feição pelo pensador só fez aumentar. A escola pública fez parte da minha vida em um período do ensino fundamental e do ensino médio. Sei e vi as dificuldades da educação pública, mas, apesar dos pesares, há um processo de revolução social para aquele que se dispõe em participar. 

Os saltos que demos na Educação no Brasil ainda estão muito aquém do esperado. Apesar de uma maior abertura das universidades, o que gerou um boom do ensino superior como qualificador das instruções e das mais diversas áreas, temos um grande problema ainda na base. 

Eu sou adepto da ideia defendida pelo cartunista Ziraldo. Sua obra 'Uma Professora Muito Maluquinha' é um clássico que sempre faço referência ao comentar a educação: a gente precisa interpretar. Saber fazer os cálculos essenciais, ler, escrever e pensar. Diante deste alicerce, os demais vem na esteira com maior facilidade. O decoreba na forma de ensinar e aprender produz em regime fordista analfabetos funcionais: não se consegue assimilar entendimentos com a mera leitura vaga das letras formadores de frases, textos, livros…

Em tempos digitais e de isolamento social, as dificuldades foram ainda mais expostas. Utilizar do ambiente digital, uma realidade já conhecida dos colégios particulares, é um desafio ainda ser alcançado na rede pública. Creio que, se ainda estivesse vivo, Teixeira já teria previsto e defendido a ocupação da educação pública no mundo virtual com maior eficácia. 

A gente capenga. Tá muito longe daquilo que Anísio pensou como mais sólido e onde chegaríamos. Mas só de apadrinhar o Estado da Bahia já é um alento de que seus ideais não foram abandonados, diferente de outros que são péssimos em administrações públicas, que não conseguem nem mesmo manter um ministro razoável por muito tempo com uma diretriz louvável… Falta ainda muita vontade política. No mais e com tudo, Anísio vive!

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