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Hipocrisia normatizada

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Publicado em 05/04/2021, às 13h52   José Medrado


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Realmente, este é um país que gera perplexidade em quem não é daqui. A bem da verdade até nós mesmo que aqui nascemos e vivemos não entendemos a dinâmica de algumas instâncias de existir da sociedade, em sua dimensão civilizatória, de interesse amplo e não apenas os muitas vezes inconfessáveis valores implícitos, nem sempre sabidos ou suspeitados, que algumas atitudes revelam. 

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Nunes Marques ordenou  que os estados, o Distrito Federal e os municípios permitam a realização de celebrações religiosas presenciais, ainda que com, no máximo, 25% da capacidade. Mesmo já havendo decisão do Plenário do Supremo autorizando os estados e municípios, bem como a União desenvolverem seus processos de condução da pandemia em suas áreas de ação e competência. Nunes Marques baseou sua decisão também em parecer do procurador-geral da República, Augusto Aras, que defendeu a assistência espiritual como sendo algo essencial na pandemia. Em manifestação sobre o tema, a Advocacia-Geral da União (AGU) também defendeu a permissão para a realização de cultos presenciais.

Ora, ora quem irá fiscalizar o percentual estabelecido por Sua Excelência? Quem irá até à igreja que tem bancada forte em todos os entes do país, dizer que está funcionando sem as recomendações do Senhor Ministro? A mim me parece apenas argumentos retóricos, para determinar o preenchimento além da alma! Lamentável que vejamos as religiões sendo tratadas como elemento de vivência da hipocrisia, que por sinal se encontra totalmente institucionalizada em nossa sociedade, nós já a normalizamos. Ser hipócrita já é condição de defesa do falacioso, do mentiroso sem qualquer constrangimento, ainda que saibamos quando ela está sendo usada. Sentimos no “ar” o seu uso, mas não reagimos a ela. Um religioso não precisa estar aglomerando para consolar os seus seguidores, bem o sei isto. A verdade, no entanto, é que o Brasil está com uma multidão de cristãos que são a favor da pena de morte, que pouco caso fazem com o bem-estar do próximo, incapazes de gestos de empatia e ou solidariedade, fazem-me lembrar dos sepulcros caiados que Jesus tão bem conceituou no evangelho. Isso para não falar nos tais lobos em roupa de cordeiro. Que cristãos são esses, uma vez que não precisamos testemunhar Jesus em templo algum, mas sim nas atitudes? Apenas uma pergunta.

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