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Bolsonaro quer ser o dono da bola

Imagem Bolsonaro quer ser o dono da bola
Bnews - Divulgação

Publicado em 12/07/2021, às 05h00   Victor Pinto


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Já aconteceu isso comigo quando criança: aquele amigo dono da bola, do jogo do tabuleiro ou do videogame que não aceitava ser derrotado por seus adversários, tomado pela raiva, pegava os bens que lhe pertencia, no meio da partida, e corria embora para casa. O conhecido dono da bola fazia isso sempre quando a estratégia ou tática que não lhe agradava era a vencedora. 

Nós, brasileiros, nos deparamos com uma postura semelhante a essa citada: a mesma que o presidente da República tenta impor. O atual mandatário do Executivo quer agarrar o Planalto como seu para não sair de lá. Ataca as instituições e o processo eleitoral com as urnas eletrônicas. Alega que a sua eleição de 2018 foi roubada, que ganharia no primeiro turno: mas cadê a prova? Cortina de fumaça e criador de narrativa sem fundamento.

Em outubro daquele ano, Bolsonaro afirmou que acabaria com a reeleição. “O que eu pretendo é fazer uma excelente reforma política, acabando com o instituto da reeleição, que começa comigo caso seja eleito, e reduzindo um pouco, em 15% ou 20%, a quantidade de parlamentares”. Teve aquilo roxo pra fazer? Não! Quem chega no poder se lambuza. O próprio Jaques Wagner, em 2016, afirmou isso ao fazer uma sucinta autocrítica: “PT reproduziu metodologias antigas e se lambuzou”. Bolsonaro faz o mesmo ou até pior. 

Engraçado que só agora tenta, com efusividade, atingir o processo eleitoral brasileiro. O PR atual foi eleito a vida toda (nos seus longos anos no Congresso) por esse procedimento, mas quando o caso não lhe convém, cabe o ataque. As reações às falas explosivas e sem comprovação do político foram rápidas, mas, como sempre, através de notas. Ações práticas não vemos em curso para debelar essas labaredas de uma fogueira quase inquisidora acesa desde os idos de 2014. 

Quem começou com isso foi Aécio Neves (PSDB). O culpado desse percurso de colocar em xeque o escrutínio brasileiro do voto direto foi do tucano que só ganhou força com a ascensão do bolsonarismo. Não aceitou o resultado das urnas. Somente o fez agora, quase oito anos depois. Mas quando se elegeu deputado federal, como forma de sobrevivência política após ser arrastado para um lamaçal de denúncias, não duvidou das mesmas urnas. Engraçado… 

Vamos pagar para ver essa novela no Vale a Pena Ver de Novo? É um sinal de reprise do que vimos nos Estados Unidos com a derrota de Trump contra Biden. A tentativa de jogar descrédito no tabuleiro. Não consigo mensurar um tempo de reação comprovadamente eficaz no pleito do próximo ano para JB, mas a cada pesquisa que sai, a cada movimento que mostra uma movimentação de Lula, o discurso da eleição roubada surge com força na boca do bolsonarismo. Soa nervosismo, não do zelo do processo democrático, pelo contrário, mas uma escancarada convicção de projeto de poder pessoal.  

Antes de encerrar, uma última pergunta que precisa de resposta: afinal de contas, Luís Miranda, o deputado que explodiu o caso da corrupção da Covaxin no Ministério da Saúde, mentiu ou não mentiu no seu depoimento na CPI da Pandemia? O presidente ainda não respondeu…

* Victor Pinto é editor do BNews e âncora do programa BNews Agora na rádio Piatã FM. É jornalista formado pela Ufba, especialista em gestão de empresas em radiodifusão e estudante de Direito da Ucsal. É colunista do jornal Tribuna da Bahia, da rádio Câmara e apresentador na rádio Excelsior da Bahia. 

Twitter: @victordojornal

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